Detective Comics #1096: Uma Conclusão Visualmente Estonteante, mas Narrativamente Tímida
O encerramento do primeiro arco narrativo de Tom Taylor e Mikel Janín em Detective Comics, intitulado "Mercy of the Father", chega com a promessa de um final épico — e em parte, entrega. Mas, apesar da base emocional e moral com a qual o roteiro flerta, a execução deixa a desejar em aspectos fundamentais da narrativa.
A Recorrente Dicotomia Moral do Batman
Um dos pontos centrais do arco — e também de sua limitação — é a abordagem da eterna questão sobre o código moral do Batman: "Por que ele nunca mata?". Taylor, como muitos roteiristas antes dele, revisita essa premissa clássica, mas não a reinventa. O desfecho de Detective Comics #1096 repete a conhecida máxima: “Batman não mata porque ele se mantém em um padrão moral mais elevado.” Isso, embora coerente com a tradição do personagem, não acrescenta nada novo à mitologia que já não tenha sido explorado por décadas — inclusive por nomes como Jeph Loeb e Jim Lee em Batman: Hush 2.
Ideias Brilhantes com Execução Tímida
Apesar do roteiro não subverter expectativas, Tom Taylor apresenta conceitos promissores que, infelizmente, não são plenamente desenvolvidos. Um exemplo forte disso é a revelação de que Thomas Wayne salvou inadvertidamente a vida de Joe Chill, futuro assassino de seus pais. Essa ironia do destino, carregada de simbolismo, é tratada com leveza, sem o peso emocional que poderia ter.
Outro ponto instigante é a presença de Scarlett Chill, filha de Joe Chill, na vida de Bruce. A ideia de Batman se envolver romanticamente com a filha do homem que moldou seu trauma original tem um potencial emocional gigantesco — uma oportunidade perfeita para reexaminar suas visões sobre crime, punição e redenção. No entanto, a história escolhe um caminho mais seguro: o relacionamento com Scarlett se revela uma manipulação investigativa e não uma conexão genuína, o que reduz drasticamente o impacto emocional que poderia ter.
A Revelação de Asema: Sem Surpresas
O maior mistério do arco — a identidade da assassina Asema — também carece de tensão narrativa. Com apenas dois personagens novos relevantes introduzidos — Scarlett e sua mãe, Evelyn — a dedução se torna quase automática. As pistas sobre Evelyn estão espalhadas de forma óbvia, e não há uso efetivo de pistas falsas ou red herrings para confundir o leitor ou manter o suspense. Quando a identidade de Asema finalmente é revelada, o impacto dramático é quase nulo.
Além disso, o roteiro tenta construir um paralelo entre o vigilantismo letal de Asema e o código de conduta de Batman. Porém, Bruce quase não interage com Asema em sua identidade civil, o que compromete qualquer tentativa de criar ambiguidade moral ou um conflito interno mais elaborado. Ao invés disso, a história se contenta com um contraste raso e unilateral.
A Arte Impecável de Mikel Janín: O Verdadeiro Destaque
Se o roteiro decepciona em ousadia e profundidade, o mesmo definitivamente não pode ser dito da arte de Mikel Janín. Ao longo de todo o arco, Janín mostra um domínio magistral do estilo neo-noir, usando sombras densas, layouts expressivos e contrastes de cores quentes e frias para dar vida a Gotham como raramente se vê.
Cada página é vibrante, dinâmica e atmosférica, com cenários urbanos que respiram e personagens que exalam emoção, mesmo quando o roteiro não o faz. Janín também demonstra uma habilidade ímpar de desenhar expressões faciais sutis, o que injeta humanidade aos personagens e eleva a carga dramática de cenas que, no texto, são mais mornas.
Um Arco Que Promete Mais do Que Cumpre
Detective Comics #1096 encerra "Mercy of the Father" como uma narrativa que teve tudo para ser memorável, mas escolheu a segurança ao invés do risco. A escrita de Tom Taylor não é ruim — longe disso. Ela é coesa, respeitosa com a mitologia e cheia de boas intenções. Mas falta ousadia. Falta aquele empurrão criativo que vemos em seus trabalhos mais celebrados como Asa Noturna e Injustiça: Deuses Entre Nós.
Ainda assim, para fãs da arte sequencial, este arco é uma vitrine para o talento de Mikel Janín, talvez entregando seu melhor trabalho na DC até hoje. Só por isso, "Mercy of the Father" já vale uma leitura.