Wonder Woman #20 - Crítica

 

Uma Nova Odisseia Detetivesca: Mulher-Maravilha #20 e a Reinvenção Grega de Tom King

Com The Sovereign agora resolvido, Tom King finalmente tem espaço para explorar novas camadas na sua corrida audaciosa com a Mulher-Maravilha. E se há algo que King entende profundamente, é como surpreender o leitor. Em "Mulher-Maravilha #20", ele inicia uma nova fase repleta de mitologia, intriga e um inesperado tom noir, aproximando Diana Prince de suas raízes gregas e, ao mesmo tempo, unindo-a ao mais famoso detetive do mundo: Batman.

O retorno às raízes mitológicas

Desde os tempos de George Pérez, as conexões de Diana com o panteão grego são parte indissociável da personagem. King reconhece isso e retorna de forma elegante e estratégica ao universo mitológico, desta vez com uma abordagem detetivesca que mistura o épico ao investigativo. O ponto de partida é, no mínimo, surreal: Hera, mãe de Diana, acorda com Ares morto em sua cama. Uma premissa que combina elementos trágicos da tragédia grega com a tensão de um thriller moderno.

Batman e Mulher-Maravilha: a dinâmica perfeita para o caos dos deuses

Inserir Batman no mundo dos deuses não é apenas ousado, mas também uma jogada brilhante. Como King já demonstrou em obras como Mister Miracle e Rorschach, ele gosta de explorar contrastes. E aqui, o contraste entre a lógica fria e investigativa de Bruce Wayne e o mundo mágico e volátil dos deuses gregos traz uma tensão deliciosa à narrativa.

Ao longo da edição, vemos momentos que humanizam e enriquecem ambos os personagens. Batman, cortejado por Afrodite, mostra uma faceta raramente vista do Cavaleiro das Trevas, enquanto Diana se abre sobre seus sentimentos conflitantes em relação aos deuses — uma vulnerabilidade que fortalece ainda mais sua construção narrativa.

A estrutura visual: precisão rítmica com impacto emocional

O artista Guillem March abraça totalmente a estética característica de Tom King ao utilizar quase toda a edição em grades de nove painéis, uma assinatura visual que favorece o ritmo consistente e a construção minuciosa das emoções e diálogos. Apenas uma página foge desse padrão, um splash page estrategicamente posicionado para dar impacto visual ao Olimpo revelado ao leitor. March não só desenha, como também colore a edição, criando cenas memoráveis, como a iluminação roxa que banha Batman e Diana no Batmóvel, instantes antes de chegarem ao reino dos deuses.

Zeus, as regras do jogo e uma nova investigação começa

Ao chegarem ao Monte Olimpo, Batman e Mulher-Maravilha são recebidos por Zeus, que estabelece as regras desse jogo divino. A partir daí, o número se transforma numa investigação clássica, mas com o pano de fundo da mitologia. Os heróis interrogam, suspeitam e descobrem novas verdades — tudo conduzido com a precisão cirúrgica da narrativa de King.

No final da edição, há uma virada dramática que reconfigura completamente o status de Diana nesse mistério, e o envolvimento de Batman ganha um peso ainda maior. A segunda parte dessa história promete uma imersão ainda mais profunda nas raízes míticas da personagem, com apostas cada vez mais altas.

Uma edição cerebral, elegante e promissora

Mulher-Maravilha #20 é, sem dúvida, uma mudança de tom marcante e bem-vinda. Tom King prova, mais uma vez, que sabe como reinventar personagens icônicos sem perder de vista suas essências. Ao fundir a grandiosidade dos deuses com a racionalidade de um mistério criminal, ele entrega uma edição inteligente, visualmente coesa e emocionalmente rica. A química entre Diana e Bruce está no centro da narrativa — um equilíbrio entre força e intelecto, entre o divino e o humano.

Com roteiro afiado e arte soberba, essa nova fase não só honra o legado da Mulher-Maravilha como aponta para uma nova era de histórias ousadas e sofisticadas no universo DC. Se "The Sovereign" foi o prólogo, este é o verdadeiro começo da epopeia.

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