Mulher-Gato #75 – Um Retorno Magistral às Origens da Anti-heroína Mais Icônica da DC
Poucas personagens nos quadrinhos passaram por tantas reinvenções quanto Selina Kyle, a enigmática Mulher-Gato. Desde os dias da Era de Ouro até as versões modernas moldadas por eventos editoriais como Flashpoint e Rebirth, Selina oscilou entre ser uma vilã, uma anti-heroína e, por vezes, uma heroína relutante. Mas, em "Mulher-Gato #75", a roteirista Torunn Grønbekk entrega algo raro: um retorno às raízes que parece ao mesmo tempo nostálgico e revigorante.
Selina Além de Batman: Uma Nova Perspectiva
Um dos maiores méritos dessa nova fase é justamente aquilo que os fãs vinham pedindo há tempos: afastar Selina da sombra de Bruce Wayne. Durante quase uma década, a personagem esteve profundamente ligada ao seu relacionamento com o Batman, sendo muitas vezes definida apenas como o interesse amoroso do Cavaleiro das Trevas. Grønbekk quebra esse paradigma, devolvendo à Mulher-Gato sua autonomia e sua complexidade, ao mesmo tempo em que honra suas origens como ladra genial e estrategista impecável.
Nada de Reboots: Construindo com o que Já Existe
Ao invés de mais uma tentativa de reinventar a personagem – como foi o caso em versões anteriores que a colocaram como filha de um chefão do crime, por exemplo – Grønbekk prefere expandir o universo de Selina, explorando sua história não contada através de uma abordagem mais fiel à essência clássica da personagem. Em vez de recontar ou apagar o passado, a escritora acrescenta camadas, e o faz com estilo, competência e muito respeito à cronologia pré-Flashpoint.
"Mulher-Gato #75" e o Brilho de um Clássico Filme de Assalto
Situada alguns anos antes da cronologia atual, a história em Mulher-Gato #75 funciona como um filme de assalto de primeira linha, estrelado por Selina sob o pseudônimo de Evie Hall e uma equipe formada por criminosos experientes. A missão: roubar uma mansão europeia repleta de segurança. O enredo remete diretamente às aventuras da Selina da Era de Ouro, quando a personagem usava disfarces e pseudônimos em seus roubos audaciosos. Esse resgate histórico não é apenas fan service — é uma escolha narrativa poderosa que fortalece a identidade da personagem.
Estratégia, Relações e Conflitos Internos
O ponto alto da edição é, sem dúvida, o assalto em si. Grønbekk mostra a genialidade de Selina como estrategista, ao mesmo tempo em que insere conflitos e tensões dentro da equipe. Há uma construção cuidadosa de relações: quem ela confia, quem ela não confia, quem pode falhar sob pressão. Isso cria um dinamismo interno que mantém o leitor na ponta da cadeira, antecipando cada reviravolta. Um destaque é a relutância de Selina diante de uma mudança repentina de planos — um detalhe sutil, mas que reverbera fortemente no desfecho da edição.
Shota: Um Novo Interesse Amoroso com Peso Real
Grønbekk também acerta ao introduzir Shota, um personagem que tem sido citado desde o início do arco de Tóquio e que finalmente aparece nesta edição. Mais do que apenas um rosto novo, Shota representa um possível romance que parece orgânico, natural, e — talvez o mais importante — livre da sombra de Batman. Não há competição romântica, não há tentativa de preencher um vazio. Há história, há química e há espaço para que esse relacionamento evolua de forma coerente com a trajetória de Selina.
Arte que Define o Tom: O Trabalho de Patricio Delpeche
Visualmente, Mulher-Gato #75 também brilha. A arte e as cores de Patricio Delpeche são elegantes e evocativas, mesmo sem grandes explosões ou lutas frenéticas. A combinação de sombras densas com cores vibrantes estabelece o tom misterioso do assalto, enquanto tons pastéis reforçam o contraste entre o mundo ordinário das vítimas e o universo extraordinário da protagonista. É um trabalho visual que complementa perfeitamente a narrativa — discreto, mas impactante.
Um Capítulo Independente que Enriquece a Mitologia da Personagem
Embora seja parte de um arco maior, Mulher-Gato #75 funciona muito bem como uma história independente. Ela começa a responder a mistérios plantados anteriormente — especialmente desde a edição #69 — mas também pode ser lida isoladamente como um estudo de personagem, um thriller de assalto e um drama de relações. Ainda não sabemos quem quer Selina morta, mas a construção do mistério está sólida, envolvente e inteligente.
Uma Mulher-Gato em Pleno Controle de Seu Destino
Torunn Grønbekk provou em Mulher-Gato #75 que Selina Kyle não precisa de Batman para ser fascinante. Ao devolver à personagem sua autonomia, carisma e inteligência estratégica, a roteirista resgata uma essência que andava um tanto esquecida — e o faz com estilo. É uma edição que respeita o passado, mas olha para o futuro com ambição. Para fãs antigos e novos, é um lembrete poderoso do porquê a Mulher-Gato permanece uma das figuras mais icônicas e intrigantes do Universo DC.