Asa Noturna #125 – Uma Aula de Tom Noir na Mente de Dan Watters e Francesco Francavilla
Quando Dan Watters assumiu a missão de renovar Asa Noturna, muitos se perguntaram que nova luz ele poderia lançar sobre Dick Grayson, um personagem tão profundamente enraizado na mitologia da DC Comics. O arco inicial, “On With the Show”, trouxe um novo fôlego para a série — mais sombrio, mais psicológico, mais maduro. Agora, com o início do segundo arco, “By the Book”, a parceria com o mestre do noir visual Francesco Francavilla eleva ainda mais esse novo momento do personagem.
Uma mudança de foco narrativa ousada
É verdade que Asa Noturna aparece menos nesta edição do que muitos fãs poderiam esperar. Porém, isso não deve ser visto como uma falha — muito pelo contrário. Dan Watters inteligentemente desvia o foco para o mistério, construindo a atmosfera com base na morte suspeita de um policial, um caso que envolve a detetive Maggie Sawyer em um papel de antagonismo inusitado.
Para quem conhece Maggie como uma aliada confiável do Superman, sua relação tensa com Dick Grayson aqui causa estranhamento — mas é justamente isso que dá densidade ao enredo. Blüdhaven se torna uma cidade tão protagonista quanto os personagens, repleta de tensão, desconfiança e isolamento emocional. É como se o mundo de Dick Grayson estivesse se desintegrando aos poucos — o círculo de confiança do herói está cada vez menor, e isso reflete diretamente no tom mais introspectivo e sombrio da HQ.
Francavilla: quando a arte é mais do que visual — é atmosfera
Falar de Asa Noturna #125 sem mencionar Francesco Francavilla é impossível. O artista é conhecido por seu trabalho em Batman: Black Mirror, uma das histórias mais marcantes do Cavaleiro das Trevas, e aqui ele volta a brilhar. Sua assinatura está em cada página — sombras profundas, silhuetas carregadas de tensão e cores que falam tanto quanto os diálogos.
A paleta é dominada por vermelhos, azuis e pretos, ecoando os tons do traje de Asa Noturna e servindo como metáfora visual para o perigo, a introspecção e a força do herói. Uma das cenas mais emblemáticas — a entrada triunfal de Dick Grayson no clímax da edição — é praticamente cinematográfica: ele “brilha” nas sombras, um farol de justiça em meio à escuridão crescente.
Um retorno ao noir — e isso é ótimo
O tom adotado neste arco lembra o melhor do gênero noir: narrativas guiadas pelo mistério, personagens moralmente ambíguos e uma estética que mistura beleza e decadência. Asa Noturna #125 parece algo saído de uma mistura entre Batman: Mask of the Phantasm e as páginas mais intensas de Black Mirror. Há um senso de urgência e suspense constante — o assassino que se esconde nas sombras da cidade parece sempre um passo à frente, e isso mantém a tensão em alta do começo ao fim.
Mesmo com um protagonista ausente em parte da narrativa, Watters acerta ao usar essa ausência como um ponto de força, pois cada aparição de Dick é carregada de impacto. Isso gera um contraste poderoso entre o cotidiano sombrio da investigação e a figura quase mítica que Asa Noturna representa.
Uma obra que entende seu personagem — e o desafia
Asa Noturna #125 é uma obra-prima moderna dos quadrinhos, e não apenas por sua execução visual impecável. Dan Watters e Francesco Francavilla formam uma dupla criativa afiada, que entende o peso simbólico de Dick Grayson e não tem medo de testá-lo emocionalmente.
Ao invés de entregar apenas ação e acrobacias — que sempre fizeram parte do charme de Asa Noturna — a HQ oferece um mergulho psicológico em um herói que está sendo colocado à prova como nunca antes. O mistério, a arte e o tom cuidadosamente construído tornam essa edição uma leitura essencial para fãs antigos e novos.
Se “On With the Show” reacendeu o interesse em Asa Noturna, “By the Book” promete consolidá-lo como um dos melhores títulos da DC Comics em 2025.