Intitulado “Ryuichi Sakamoto: Opus”, o documentário é uma obra que transcende a definição de um filme-concerto tradicional. Na tela, testemunhamos mais do que uma apresentação; é um diálogo íntimo entre o que é tangível e o que se ausenta. Lançado proximamente ao primeiro aniversário do falecimento de Sakamoto, vítima de câncer aos 71 anos, o filme é uma celebração da sua essência artística e um tributo movido pelo amor - uma homenagem do próprio Sakamoto, contemplando sua mortalidade e legado, e de Neo Sora, seu filho e diretor da obra.
As cenas de “Opus” foram capturadas ao longo de uma semana em setembro de 2022, no estúdio do NHK Broadcasting Center em Tóquio, lugar que Sakamoto considerava possuir a acústica mais refinada do país. Sakamoto e Sora iniciaram este projeto quando a saúde de Sakamoto ainda permitia sua performance. Excluindo a equipe de filmagem, o estúdio estava desprovido de audiência. Sob a luz solitária que iluminava o piano Yamaha, reminiscente de um luar, Sakamoto navegou por uma seleção de 20 composições, frutos de sua prolífica carreira musical.
Sora orquestra este espetáculo silencioso com uma cinematografia que alterna entre tons prateados e o contraste do preto e branco, com iluminação que evoca o crepúsculo. A habilidade de Bill Kirstein na câmera captura uma diversidade de enquadramentos dentro do espaço confinado, enquanto Takuya Kawakami, o editor, entrelaça a atuação de Sakamoto com cenas do piano desocupado, dos pedestais de microfone vazios e da sombra do artista projetada no assoalho de madeira. Essas imagens fortalecem a atmosfera de despedida que, junto à música evocativa, permeia o filme.
“Opus” inicia com Sakamoto de costas para a câmera, ao piano, uma figura frágil e diminuta, seus cabelos alvos contrastando com a escuridão. Conforme o documentário progride, a entrega e meticulosidade de Sakamoto se fundem ao presente que ele nos deixa, transformando o filme em um consolo crescente para os espectadores.