Concrete Valley (2024) - Crítica

 

Vale do Concreto: Uma Jornada Íntima de Imigrantes em Toronto

Concrete Valley, do diretor Antoine Bourges, é uma ode cinematográfica ao complexo de apartamentos Thorncliffe Park em Toronto, carinhosamente apelidado de "Cidade de Chegada" por ser o lar de tantos imigrantes recém-chegados. Através de uma narrativa híbrida que mescla ficção e realidade, o filme acompanha a vida de Rashid (Hussam Douhna) e Farah (Amani Ibrahim), um casal sírio que luta para se adaptar à nova realidade após cinco anos no Canadá.

A tensão paira sobre o relacionamento de Rashid e Farah. As carreiras promissoras que deixaram para trás assombram seus dias, agora preenchidos por trabalhos que não os satisfazem. A frustração se manifesta na frieza entre eles, com exceção do amor que dedicam ao filho, Ammar (Abdullah Nadaf).

Farah busca refúgio em reuniões sobre a comunidade com Saba (Aliya Kanani), enquanto Rashid se envolve em consultas médicas ilegais para seus vizinhos. A esperança de um novo começo paira no ar, mas se esvai com a mesma naturalidade com que surge.

O filme tece uma série de vinhetas, momentos fugazes que revelam a natureza excêntrica dos personagens e suas realidades desconexas. Yanah (Lynn Nantume) presenteia Rashid com um bolo, um gesto que flerta com a possibilidade de romance, mas logo se dissolve em dúvidas. Saba leva as crianças para um passeio, apenas para desaparecer sem deixar rastros.

Essas cenas aparentemente desconectadas culminam em um momento de rara conexão entre Rashid e Farah, reacendendo a chama de seu romance. Mas a felicidade é fugaz, confrontada com a dura realidade de suas vidas.

Concrete Valley nos convida a refletir sobre o significado de identidade e pertencimento para o imigrante. A felicidade reside na realização pessoal ou na segurança da família? É possível conciliar as expectativas com a realidade da nova vida?

O filme não oferece respostas definitivas, mas nos presenteia com um olhar íntimo e comovente sobre a batalha que muitos imigrantes enfrentam ao se reerguerem em um novo solo. Através da história de Rashid, Farah e seus vizinhos, Bourges nos faz questionar: ajustar-se a uma nova cultura implica necessariamente em perder uma parte de si mesmo?

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