Club Zero (2024) - Crítica

 

No filme “Club Zero”, Jessica Hausner, uma cineasta austríaca conhecida por sua audácia, explora a interseção perturbadora entre cultos e distúrbios alimentares. Ambos são apresentados como forças manipuladoras que convencem os indivíduos de sua excepcionalidade e da cegueira dos outros. O filme desenrola-se como um terror corporal meticuloso, refletido até nos uniformes cítricos meticulosamente escolhidos pela designer Tanja.

Hausner inicia com uma cena que contrasta o excesso de consumo com a irrigação excessiva de um gramado, simbolizando a negligência parental. Os pais, dispostos a pagar para manter seus filhos fora de vista, são retratados como falhos: um pai que evita confrontos, uma mãe que vê a anorexia da filha como validação de sua própria privação, e pais ausentes demais para notar a morte iminente do filho. 

A única figura moralmente íntegra é uma mãe solteira lutando financeiramente, prenunciando uma crítica ao capitalismo que se manifesta quando uma jovem doente usa sua recusa em comer como um protesto contra o consumismo.

“Club Zero” apresenta suas ideias de forma clara, mas com um tom que deixa a interpretação do autor ambígua. Hausner mantém suas intenções veladas, assim como fez em “Little Joe” de 2019, onde o que parecia ser uma crítica aos medicamentos psicotrópicos acabou sendo uma reflexão sobre a dificuldade de aceitar a ajuda necessária. O filme convida o público a questionar e refletir sobre as complexidades da influência e da autonomia pessoal.

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