Temporada de Verão (2022) - Crítica

Nesta nova série você não deve esperar por reviravoltas malucas, fantasias, ficções intermináveis, suspense, magia e questões desse universo, Temporada de Verão é, apenas, uma aventura leve para os dias quentes; e cumpre o papel em entreter. A série brasileira da Netflix chega com uma narrativa branda com aquela atmosfera bem jovem que tem um aspecto parecido com Malhação.

De fato, as tramas lembram as temáticas da série juvenil da Globo - seja de busca pelo pai, sonhos com o futuro, desejo de encontrar a identidade longe da família, entre outros; título que, por anos, conquistou públicos diversos. Não há nada inesperado na produção original Netflix, mas é uma proposta muito bem-conduzida.  

Temporada de Verão acompanha quatro jovens diferentes que se conhecem enquanto trabalham no Hotel Maresia, um resort de luxo localizado numa ilha paradisíaca. Lá, a destemida Catarina (Giovanna Lancellotti), a irreverente Yasmin (Gabz), o sonhador Diego (Jorge López) e o veterano do staff, Miguel (André Luiz Frambach), se unem para enfrentar os desafios do dia a dia, fazendo descobertas sobre o mundo e sobre si mesmos. E, se antes eram desconhecidos, logo se transformam numa verdadeira família. Catarina precisa lidar com a súbita prisão de sua mãe, acusada de lavagem de dinheiro e corrupção ativa, mas encontra nos outros membros do hotel Maresia um conforto para essa situação complicada. No meio de tudo isso, ainda se envolve em um intenso triângulo amoroso com Diego e Marília (Cynthia Senek). Já Yasmin se vê completamente envolvida quando inicia um romance com Miguel e percebe que os dois tem mais em comum do poderia imaginar.

Já foram dez anos que vimos uma quantidade considerável de pessoas elogiando a ‘novela das nove’ Avenida Brasil, escrita por João Emanuel Carneiro. Quando elogiavam tal material pertencente à Rede Globo de Televisão, geralmente diziam que a novela de Carneiro se diferenciava de todas as outras produções ficcionais do canal, pois tinha uma narrativa de frequência mais alta, onde sempre tínhamos algo excitante acontecendo em cada um dos tantos capítulos do enredo que dominou às noites caseiras durante o ano de 2012.

Também diziam que a telenovela que passava depois do Jornal Nacional, maior referência jornalística da televisão brasileira, sempre terminava seus episódios de um modo “bombástico”, praticamente obrigando seus espectadores a voltar no dia seguinte para ver o que iria acontecer dali em diante.

Tal prática executada por João Emanuel Carneiro é decididamente esperta, sendo um modelo claro de fidelização que conhecemos muito bem das séries de televisão americanas, como Game of Thrones, por exemplo.

Porém, resumir de maneira tão superficial que uma “boa novela” é apenas aquela que apresenta as qualidades colocadas acima já é um pouco demais!

Voltando à Avenida Brasil. Sim, é sempre muito mais atraente testemunharmos uma peça ficcional que costumeiramente traz mais eletricidade à história, consequentemente, seduzindo o público a acompanhar os próximos acontecimentos que irão convergir nos momentos derradeiros da trama em questão. Ainda assim, mostra-se que acima de tudo é necessário saber como dispor e tratar certos assuntos e temáticas que fazem parte da produção de um modo ordenado, onde possamos sentir e refletir sobre aquilo que analisamos diariamente.

Isto posto concluímos que a obra de João Emanuel Carneiro (como tantas outras telenovelas brasileiras) deixa a peteca cair de vez em quando, especialmente quando adentra alguns núcleos da linha narrativa que precisam de uma construção e tratamento mais cuidadosos e focados.

Aqui se encontra o gigantesco problema de Temporada de Verão da Netflix, que tenta e falha toda vez quando quer comentar qualquer assunto ou tema que seja realmente importante. A produção nacional que mira no grupo de jovens adultos que trabalham numa estância paradisíaca onde vivem um verão inesquecível ao descobrirem o amor, verdadeiras amizades e alguns segredos devastadores do lugar.

Infelizmente, Temporada de Verão junta-se a produção original da Netflix Indecente, como aquelas narrativas que perderam uma oportunidade de tratar algo importantíssimo da maneira que merecia ser tratada!

No longa-metragem estrelado pela atriz veterana Alyssa Milano tínhamos uma história que poderia tratar sobre a realidade e julgamentos direcionados às mulheres que trabalharam como sex workers, mas ao invés disso tivemos uma trama que preferia enganar o assinante da Netflix com um mistériodo tipo quem é o assassino?

Quando dizemos que são tratadas muitas coisas nessa primeira temporada da série teen Netflix não é exagero! Se liguem em “alguns” dos tópicos que fazem parte da produção: vício em compras, repetição das atitudes erradas dos pais, luto, traumas do passado, as dificuldades de ser mãe solteira, trabalho no tráfico de drogas, crises de ansiedade, benefícios da maconha, viver com pessoas diagnosticadas com Parkinson, racismo, a realidade das mulheres negras, alcoolismo, depressão, body shaming (ridicularizar, zombar ou criticar a aparência física de uma pessoa), bullying, identidade de gênero, os preconceitos da ala religiosa mais fanática, e assim por diante.

Não é uma super-produção ou um título surpreendente, mas é a série brasileira que faltava na Netflix; aquela para dar saudade das férias, lembrar das diversões com amigos, sentir-se compreendido e se identificar com os personagens. É jovial, agradável e consegue prender o o público na história; Temporada de Verão é, em geral, satisfatória.

Consequentemente, acabamos não sentindo ou refletindo em nenhum momento sequer! Tudo parece esvaziado de sentido ou mesmo propulsão, deixando os assinantes da Netflix apenas acompanhando fatos e ocorrências, que alternam com alguns breves momentos de romance entre as personagens principais.

Isso é uma pena, já que alguns atores do elenco realmente tinham algo a mostrar, como André Luiz Frambach (melhor performance individual da série) ou Maicon Rodrigues, que faz o papel do jovem Conrado, que se despediu dos companheiros de cena no início do sexto episódio como um participante do reality show Big Brother Brasil, para voltar pouco mais à frente sem ter resolvido nenhum (!) de seus problemas com seus pais extremamente rígidos.

Assim como o título sugere, a estreia da produção acontece no verão. A primeira temporada chegou ao catálogo  21 de janeiro de 2022, e esperamos que as histórias da turma do Hotel Maresia ganhem uma continuação. 

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