The Flash #20 e o Surrealismo Heroico: A Lua, Wally West e a Corrida Contra o Tempo
Quando se trata de HQs, poucos títulos conseguem reinventar suas estruturas narrativas de forma tão ousada quanto The Flash #20, escrito por Si Spurrier e ilustrado por Vasco Georgiev. Essa nova edição não apenas dá início ao arco "Bad Moon Rising", como também reformula completamente o que esperamos de uma história do Velocista Escarlate. E o faz com uma combinação hipnótica de surrealismo sci-fi, metanarrativa e ação épica de tirar o fôlego.
O Cenário: Uma Guerra Lunar pela Alma do Multiverso
A lua nunca pareceu tão caótica. Transformada em campo de batalha de uma guerra para acabar com todas as guerras, ela se torna o palco de um conflito cósmico entre Wally West — ou melhor, vários Wally Wests — e Eclipso, agora em sua forma mais poderosa e aterradora. Após a batalha devastadora com Darkseid, Wally adquire um novo conjunto de poderes ligados à Força de Aceleração, permitindo que ele se divida em centenas de cópias de si mesmo, conhecidas como "fragmentos" ou TEMPS.
Do outro lado está Eclipso, que não apenas destruiu Skartaris, como também construiu um novo exército e reivindicou a Lua como base de operações, almejando tomar o lugar de Darkseid como a personificação suprema do mal existencial. A tensão é máxima: um exército de Wallys contra um deus sombrio renascido. A escala do conflito beira o inefável.
Narrativa Fragmentada, Mas Brilhante
O que poderia soar como um caos narrativo é, na verdade, o plano meticulosamente arquitetado de Spurrier. Ao contrário do que muitos associam com o termo "inconsistente", aqui a mudança constante de tom e formato é uma virtude. A narrativa em The Flash #20 é dinâmica, imprevisível e multifacetada, espelhando a própria natureza de seu protagonista.
A estrutura da edição gira em torno da explicação da guerra a uma T-Sphere do Senhor Fantástico. Wally e seus fragmentos narram os acontecimentos com agilidade e humor, enquanto o pano de fundo se desenrola com explosões, distorções temporais e cenas que desafiam qualquer lógica linear. É um espetáculo visual e textual, onde a exposição serve à ação — e não o contrário.
Arte que Potencializa a Loucura
Vasco Georgiev se destaca ao traduzir visualmente essa jornada esquizofrênica. As páginas são repletas de energia, velocidade e camadas de informação visual que refletem a mente dividida de Wally. O novo traje preto e sem máscara de Wally é uma representação visual poderosa do seu papel como general de guerra, liderando clones de si mesmo, com Wallace West e Judy Garrick como seus principais comandantes.
A arte também sustenta os momentos de humor que Spurrier introduz de forma brilhante, principalmente através da T-Sphere — uma presença que funciona como o "leitor médio", completamente confuso diante do que acontece, mas curioso o suficiente para seguir em frente.
Uma Nova Ordem Após Darkseid
Com a morte de Darkseid, o universo DC está claramente em busca de um novo eixo de poder. Eclipso tenta preencher esse vácuo, mas ele não é o único. Há indícios claros de que outros Wallys — em outras linhas temporais ou dimensões — também estão desenvolvendo suas próprias agendas, inclusive o fragmento que permaneceu na Torre de Vigilância com a Liga da Justiça, aprendendo rapidamente com tudo o que está acontecendo. Isso prepara o terreno para algo ainda mais ambicioso: uma eventual guerra civil entre versões do próprio Wally West?
Um Flash Inesquecível
The Flash #20 é muito mais do que uma nova edição — é uma declaração de intenções. Simon Spurrier não quer apenas contar uma história do Flash; ele quer reescrever o que entendemos por narrativa em quadrinhos, dentro do universo DC. É ousado, é estranho, e acima de tudo, é incrivelmente divertido.
Com o arco "Bad Moon Rising", a DC abraça o experimentalismo sem abandonar os elementos clássicos que fazem de Wally West um dos heróis mais amados dos quadrinhos. Prepare-se: se esta edição é um indicativo do que está por vir, então estamos apenas vendo o começo de uma das fases mais radicais e inovadoras da história do personagem.