Absolute Wonder Woman #7 - Crítica

 

“Mulher Maravilha Absoluta #7” e a Reinvenção da Mitologia Grega na Era Moderna dos Quadrinhos

Ao longo das décadas, a Mulher-Maravilha sempre foi um campo de batalha criativo, onde roteiristas e artistas enfrentaram um dilema que se repete: como tornar a complexa mitologia grega acessível ao leitor contemporâneo? A série "Mulher Maravilha Absoluta" tem sido um sopro de ar fresco justamente por responder a essa questão com elegância, e a edição #7 comprova isso com maestria.

Mitologia Que Flui com Naturalidade

Uma das qualidades mais admiráveis de "Mulher Maravilha Absoluta #7" é que a mitologia não parece um fardo, mas uma ferramenta narrativa fluida. Isso é um feito notável considerando a longa e, por vezes, complicada história editorial da heroína. Desde sua criação, muitos criadores lutaram para integrar coerentemente os elementos mitológicos ao DNA da personagem.

Figuras como George Pérez conseguiram esse equilíbrio com naturalidade. Sua experiência com os Novos Titãs, recheados de referências aos deuses gregos, especialmente com a personagem Donna Troy, mostra como a mitologia pode enriquecer e não atrapalhar. No entanto, essa sensibilidade não foi compartilhada por todas as equipes criativas que passaram pela personagem.

Kelly Thompson e a Nova Perspectiva Mitológica

Em "Mulher Maravilha Absoluta #7", Kelly Thompson demonstra um domínio refinado da mitologia como instrumento narrativo. A introdução de Perséfone, esposa de Hades e Deusa da Natureza, e o uso conjunto de Circe mostram como as divindades podem deixar de ser apenas figuras grandiosas para se tornarem personagens com profundidade emocional. Ambas são apresentadas como figuras maternais que influenciaram Diana em sua juventude, o que adiciona camadas emocionais e simbólicas ao crescimento da heroína.

Circe, por exemplo, não surge como vilã pura, mas como alguém que prepara Diana para os perigos do mundo por meio de contos e histórias passadas — quase como uma xamã ancestral. Já Perséfone é representada como uma deusa estratégica, que observa o potencial de guerreiros mortais para manipular o destino do submundo, mas sem deixar de ser uma figura com autoridade quase maternal.

Roteiro de Alta Qualidade e Narrativa Precisa

Kelly Thompson está em sua melhor forma nesta edição. Ela equilibra intensidade emocional, ação e mitologia de forma impecável. A trama não apresenta oscilações de ritmo ou tom, o que é uma raridade em séries mensais. O roteiro foi claramente pensado para aproveitar o talento de seus colaboradores, permitindo que Mattia De Ilulus e Sherman brilhem nos visuais e na ambientação.

O Brilho de Mattia De Ilulus na Arte

Se o roteiro de Thompson é um pilar sólido, a arte de De Ilulus é a joia que o coroa. Seu trabalho nesta edição mantém o padrão elevado da série, mas o design visual de Perséfone é o grande destaque. Com traços delicados e majestosos, o artista consegue transmitir tanto a grandeza divina quanto a humanidade latente nas personagens mitológicas. É um equilíbrio visual que amplia o impacto emocional do roteiro.

De Ilulus, ao lado de Sherman, faz o panteão grego parecer mítico, mas palpável — um feito que muitos artistas tentaram, mas poucos alcançaram com tamanha sensibilidade.

Li’l Diana: O Encerramento Emocional

No fim da edição, temos mais um segmento da Li’l Diana, desenhado por Dustin Nguyen e co-roteirizado por Thompson. Esses segmentos, apesar de curtos e simples, funcionam como momentos de respiro emocional, complementando a densidade temática da edição principal com leveza e ternura.

Uma Mulher Maravilha para o Século XXI

“Mulher Maravilha Absoluta #7” é mais um acerto certeiro (“home run”) dessa fase da personagem, que não apenas moderniza seus elementos clássicos, mas os recontextualiza com inteligência emocional e relevância narrativa. Em tempos onde tantos personagens se perdem em reboots e reformulações sem propósito, é refrescante ver uma série que honra as raízes da heroína ao mesmo tempo que a reconstrói com propósito e arte.

Kelly Thompson, com o apoio visual estonteante de Mattia De Ilulus, mostra que a Mulher-Maravilha ainda tem muito a dizer — e muitas histórias a contar, desde que sejam tratadas com respeito, criatividade e alma.

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