MobLand (2025- ) - Crítica

 

"MobLand" – A Nova Obra-Prima Sombria de Guy Ritchie Que Reescreve as Regras do Drama Criminal

Em um momento de rara produtividade criativa, Guy Ritchie alcança seu auge artístico com "MobLand", uma série que o distancia de seus tropos habituais e revela uma nova profundidade dramática. Longe das armadilhas de suas comédias policiais estilizadas e quase sempre "espertinhas", esta é, sem dúvida, a fase mais madura e ambiciosa de sua carreira.



Uma Virada Séria na Filmografia de Ritchie

Após o sucesso de "The Gentlemen" — tanto o filme de 2019 quanto sua série spin-off de 2023 — Ritchie mergulha em território mais sombrio e emocional com "MobLand". E talvez o segredo do sucesso esteja justamente na mudança de bastidores: Ritchie dirige, mas não escreve o roteiro. O texto é assinado por Ronan Bennett, criador de "Top Boy", com colaborações pontuais de Jez Butterworth, roteirista de "Ford v Ferrari" e "No Limite do Amanhã".

Essa escolha criativa dá um novo vigor à série, permitindo que Ritchie foque em sua habilidade como diretor visual e contador de histórias viscerais. O resultado? Uma produção que vai além do estilismo: "MobLand" é brutal, emocional e, acima de tudo, incrivelmente envolvente.

Uma Família do Crime e Seus Demônios

A série gira em torno da família Harrigan, liderada pelo patriarca Conrad Harrigan (Pierce Brosnan) e sua matriarca implacável, Maeve Harrigan (Helen Mirren). Completam o núcleo familiar os filhos Kevin (excelente em performance), Seraphina (Mandeep Dhillon), e o errático Eddie (Anson Boon). Há ainda Harry Da Souza (Tom Hardy), o enigmático “consertador” da família — um papel que Hardy transforma em uma aula de tensão contida.

Logo no primeiro episódio, o caos se instaura: o jovem Eddie, em uma noite de excessos com drogas e boates, se envolve em uma briga que resulta em um esfaqueamento. O incidente ganha uma camada ainda mais explosiva quando se revela que ele estava acompanhado de Felix Stevenson, filho de Richie Stevenson (Geoff Bell), um líder de gangue rival de Londres. Quando Felix desaparece, o conflito entre os Harrigans e os Stevensons se torna inevitável.

Temas Universais: Lealdade, Família e Violência

“MobLand” não esconde seus temas centrais: lealdade, culpa, corrupção moral e a disfunção familiar. Mas o diferencial aqui é que os personagens não se escondem atrás de máscaras. Todos os podres estão à mostra. A série transmite a ideia inquietante de que, às vezes, "as pessoas mais venenosas vêm disfarçadas de família", e em "MobLand", essa toxicidade está exposta e viva.

Maeve Harrigan (Mirren) é um espetáculo à parte. Controladora, sagaz e muitas vezes cruel, ela é quem realmente puxa as cordas enquanto o hesitante Conrad vive sob a ilusão de liderança. A dinâmica entre os dois é um dos grandes pontos altos da série.

Harry Da Souza: O Anti-herói Silencioso

Tom Hardy brilha como Harry, um personagem com profundidade emocional rara em séries do gênero. Seu silêncio é ensurdecedor, e sua presença em cena é sempre carregada de ameaça. Harry é aquele tipo de personagem que te faz segurar a respiração — não por causa do que ele diz, mas do que ele pode fazer.

A tensão está sempre no ar, especialmente quando ele tenta conciliar seus deveres criminosos com a vida doméstica ao lado de Jan Da Souza (Joanne Froggatt), uma esposa que não aguenta mais o afastamento emocional do marido.

Elenco Forte, Escrita Afiada e Direção Estilosa

Além do trio central — Hardy, Brosnan e Mirren — o elenco de apoio também é excepcional. Jasmine Jobson (como Zosia) e Antonio González Guerrero (como Kiko) são dois capangas leais e inventivos que trazem energia à narrativa. Lara Pulver e Daniel Betts completam a família Harrigan com atuações sólidas e carregadas de tensão.

A direção é dividida entre quatro diretores — incluindo o próprio Ritchie — e cada episódio mantém um padrão visual refinado, com cenas que alternam entre a brutalidade e a elegância, algo já esperado de um projeto sob a batuta de Ritchie.

Suspense em Alta: O Título do Piloto Diz Tudo

O episódio de estreia, intitulado “Ficar ou Torcer?”, já define o tom da temporada. É uma metáfora perfeita para as escolhas morais dos personagens: manter o curso ou fazer uma jogada ousada e destrutiva. Em cada episódio, a tensão aumenta e a faca da violência vai sendo lentamente torcida.

A guerra entre as famílias está armada, mas os verdadeiros conflitos são internos — nas salas de jantar, nos quartos, nos olhares e nas decisões silenciosas.


 "MobLand" é Televisão Criminal de Alto Nível

"MobLand" entrega tudo o que se espera de um drama criminal moderno e mais um pouco. Com um roteiro sólido, personagens complexos, direção estilosa e atuações impecáveis, a série se posiciona como um dos grandes lançamentos de 2025.

Se você gostou de "The Sopranos", "Peaky Blinders" ou "Ray Donovan", "MobLand" é obrigatório. Mas mesmo quem não é fã do gênero pode se surpreender com o peso emocional e a sofisticação narrativa que essa série entrega.

Prepare-se para um mergulho escuro, violento e fascinante no coração de uma família onde o sangue fala mais alto que qualquer moral.

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