“Batman Absoluto #7”: O Renascimento Sombrio de Mr. Freeze em uma Gotham Gélida e Magnética
Quando falamos sobre a reinvenção dos mitos do Batman, especialmente no universo mais estilizado e ousado que é o Batman Absoluto, poucos autores conseguem equilibrar inovação com reverência como Scott Snyder. Em "Batman Absoluto #7", lançado em 9 de abril de 2025 pela DC Comics, o roteirista retorna com uma narrativa intensa e assombrosa que mergulha o leitor em uma Gotham de inverno — não apenas no clima, mas também na alma. A nova versão de Mr. Freeze é o epicentro dessa reinterpretação, que substitui o trágico cientista por algo mais monstruoso e primitivo, quase mitológico.
Adeus ao capacete de vidro, adeus à esposa congelada
Desde sua origem nos quadrinhos, Victor Fries sempre foi marcado por uma dor profunda — o amor perdido, a obsessão pela criogenia, o isolamento literal e emocional. No entanto, Batman Absoluto #7 opta por deixar essas bases de lado e nos apresenta um Victor jovem, já atormentado, com os olhos sangrando, numa cena de abertura visceral que define o tom das próximas edições.
Não há mais espaço para vilões trágicos. Neste universo mais brutal e estilizado, a exigência é por antagonistas que consigam fazer frente a um Batman também mais imponente, mais absoluto. E Snyder entrega isso com uma nova encarnação de Mr. Freeze que beira o horror corporal, repleta de imagens grotescas e arrepiantes.
A arte como atmosfera: Marcos Martin e Munsta Vicente em sintonia perfeita
Com a arte de Marcos Martin, atuando como convidado especial, a edição ganha um toque retrô sem parecer deslocado. Seu traço limpo e nostálgico combina de forma surpreendente com a estética gótica e sombria de Gotham, enquanto cria um contraste deliberado com o grotesco da nova ameaça.
As cores de Munsta Vicente são um espetáculo à parte. Usando uma paleta incomum, que vai de rosas inquietantes a tons de turquesa quase psicodélicos, Vicente transmite a sensação de um inverno mórbido, quase febril. Gotham nunca pareceu tão bela — nem tão doente. É uma estação de morte, pintada com tons doces e doentios.
Narrativa visual coesa e ousada
O grande trunfo visual da edição está na fluidez entre páginas. Cada painel final espelha o início da página seguinte, criando uma transição visual orgânica, como se o leitor estivesse em um estado hipnótico — algo fundamental para a construção de tensão nesse tipo de história.
Há também uma decisão ousada: as conversas entre Bruce Wayne e seus amigos de infância são apresentadas em silhueta pura. Essa escolha estilística, que poderia alienar, é redimida pelo cuidado no design dos personagens — Edward Nygma com seu corpo esguio e óculos, Oswald Cobblepot com seu nariz pontudo e casaco de pele, tornam impossível confundi-los, mesmo na sombra.
O peso emocional do desenvolvimento de Bruce Wayne
Outro ponto fascinante da edição é como Snyder lida com a identidade de Bruce. A revelação de sua persona como Batman aos amigos de infância não é apenas um elemento de choque, mas um movimento narrativo poderoso, oferecendo um novo caminho para explorar a psicologia do personagem em um universo alternativo.
Esse desenvolvimento é único no universo Absoluto, e abre portas para interações que fogem do usual, oferecendo reflexões mais humanas — ainda que envoltas em gelo e sangue.
Mr. Freeze: uma ameaça arrepiante, não mais um mártir
O novo Mr. Freeze não é um homem tentando salvar sua esposa. É uma besta ondulante de proporções esqueléticas, um espectro gelado que se arrasta pelas sombras de Gotham. Há algo nele de Lovecraft, de Cronenberg — um monstro saído de um pesadelo febril.
Com Batman ferido, o braço quebrado, e um cadáver em seu rastro, a sensação de perigo real é palpável. O herói está, literalmente, em gelo fino — uma metáfora visual e narrativa que funciona com perfeição.
Uma edição de excelência colaborativa
"Batman Absoluto #7" é um exemplo de como os quadrinhos podem ser arte pura quando há sincronia entre roteiro, arte e cores. A edição consegue reimaginar um vilão clássico sem desrespeitar suas raízes, mantendo o tom sombrio e elegante que define esta linha da DC Comics.
A introdução dessa nova versão de Mr. Freeze é impactante, inquietante e visualmente hipnotizante. Pode não ter o mesmo apelo emocional da versão clássica, mas em compensação, entrega uma ameaça à altura de um Batman também mais brutal e menos indulgente.
Para os fãs do Morcego e da mitologia de Gotham, essa edição é obrigatória — um lembrete do porquê ainda falamos sobre o Batman décadas após sua criação. Em um mundo onde tudo parece ser reinventado a todo momento, poucos fazem isso com tanta eficácia, respeito e criatividade quanto Snyder, Martin e Vicente.