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Sherwood (2ª Temporada) - Crítica

 Sherwood: A Evolução da Série e os Desafios de Sua Segunda Temporada

A primeira temporada de Sherwood cativou o público com sua narrativa única, que explorava duas épocas distintas afetadas pelas lutas sociais resultantes do declínio das minas de carvão de Nottingham. A série, criada por James Graham, ofereceu uma abordagem intimista e realista, criando uma atmosfera difícil de encontrar em outros procedimentais dramáticos baseados em eventos reais. Como alguém que cresceu em Nottinghamshire, na sombra das greves de mineiros e das dificuldades econômicas dos anos 80, Graham trouxe uma sensibilidade rara e uma conexão profunda com o local e os temas abordados.

No entanto, a segunda temporada de Sherwood parece tentar recriar a magia da primeira temporada, mas com resultados mais mistos. Embora a série ainda mantenha o mesmo realismo cru ao retratar as dificuldades da cidade de Nottingham, especialmente os conflitos de gangues e as marcas deixadas pelas minas de carvão, a temporada peca pela falta de propósito que deu vida à narrativa da primeira temporada.

O Enredo da Segunda Temporada: Novos Desafios e Velhos Demônios

Sherwood continua a seguir uma estrutura de antologia, mas com muitos dos personagens principais retornando, incluindo Ian St Clair (interpretado por David Morrissey). Agora divorciado de sua esposa, St Clair se distanciou da polícia para trabalhar em prevenção de crimes, o que o coloca em uma posição de destaque em uma Nottingham assolada pela criminalidade. Contudo, pouco antes dos créditos do primeiro episódio, ele se vê novamente puxado para um assassinato chocante, que reverbera por toda a comunidade. Este assassinato promete ser o catalisador de um novo ciclo de violência, mas, ao contrário da primeira temporada, onde as revelações e conexões se desenrolaram com impacto, a temporada parece hesitar no desenvolvimento de sua narrativa.

Daphne Sparrow (interpretada por Lorraine Ashbourne) é outro personagem que volta com força, agora posicionada como a matriarca da família Sparrow, após sua identidade ser revelada na temporada anterior. O filho de Daphne, Ronan (interpretado por Bill Jones), testemunha o assassinato, o que a coloca no centro da disputa entre gangues rivais. Embora esse desenvolvimento pareça promissor, a segunda temporada perde a eficácia da construção da tensão de seu antecessor, em parte por um ritmo mais lento e pela ausência de uma direção clara para os personagens principais.

A Falta de Propósito e o Potencial Não Realizado

O retorno de Lesley Manville como Julie Jackson, uma viúva, também parece mais vazio desta vez. Embora sua atuação seja excelente, o papel de Julie na trama da temporada é, por enquanto, relegado a exposição — ela basicamente serve para atualizar o público sobre o que aconteceu na vida de Ian St Clair e agir como confidente em suas investigações. A temporada parece sugerir um possível romance entre os dois, um conceito que pode ser interessante se a série permitir que Julie se desenvolva de forma independente. A química entre Manville e Morrissey é palpável, o que torna sua interação um ponto positivo, embora ainda esteja por se concretizar como algo mais profundo e relevante para a trama.

A Introdução de Novos Personagens e o Foco no Crime Local

Na ausência de Ian St Clair dentro da polícia, um novo personagem entra em cena: o DCS Harry Summers (interpretado por Michael Balogun), que assume a responsabilidade de investigar o assassinato de Anne (interpretada por Monica Dolan) e o filho de Roy Branson (interpretado por Stephen Dillane). Como na primeira temporada, o suspeito principal é um outsider, Ryan Bottomley (interpretado por Oliver Huntingdon), cuja alienação e história familiar são abordadas de forma interessante, mas não totalmente desenvolvida. O enredo deixa algumas pontas soltas sobre o personagem de Ryan, o que impede uma imersão total no tema da juventude desiludida e seu envolvimento com o crime. A falta de comprometimento com essa linha narrativa enfraquece a relação entre as ações de Ryan e as consequências que ele causa em sua família e na comunidade.

Lisa Waters (interpretada por Ria Zmitrowicz), a nova "Sheriff de Nottingham", é outra adição à temporada, mas sua presença, até o segundo episódio, é quase decorativa. Embora o conceito de uma mulher queer assumindo esse cargo histórico seja interessante, a série não parece se aprofundar no impacto dessa mudança de maneira significativa. A figura de Lisa parece mais voltada para eventos sociais, como inaugurações de obras públicas, do que para o enfrentamento direto do caos crescente da cidade. A série também tenta comentar sobre questões ambientais e mudanças climáticas, especialmente no que diz respeito à perda da indústria do carvão e à crescente presença de energia renovável, mas novamente, o foco da trama não se dedica totalmente a essas questões, deixando-as como subtramas não exploradas.

Sherwood: A Construção de um Drama Sombrio

Em termos de tom, Sherwood mantém sua atmosfera pesada e sombria. A série é indiscutivelmente um procedural de detetive grimdark, onde as traumas coletivas da comunidade de Nottingham moldam a experiência de cada personagem. As cicatrizes deixadas pela desindustrialização, pelas greves e pela perda das minas de carvão se tornam uma constante na vida dos habitantes, ligando-os através de tragédias compartilhadas. Isso cria uma sensação de opressão constante, tornando a série uma experiência difícil, mas profundamente envolvente para o público disposto a mergulhar nas complexidades emocionais que ela oferece.

Embora a temporada seja eficaz em manter o tom sombrio, a progressão da trama é mais lenta e com menos impacto do que sua predecessora. Os primeiros episódios da temporada podem ser considerados um pouco arrastados, com o desenvolvimento da história se fazendo de forma gradual. Isso não é necessariamente negativo, mas a expectativa de uma temporada tão instigante quanto a primeira ainda paira sobre a série, e Sherwood parece estar lutando para atender a essa expectativa.

 O Desafio de Superar a Primeira Temporada

Enquanto a segunda temporada de Sherwood ainda tem o potencial de se desenrolar em algo profundamente relevante e impactante, ela atualmente não parece atingir a altura de sua antecessora. A falta de um objetivo claro e a introdução de subtramas que não são totalmente exploradas prejudicam a experiência geral da temporada. No entanto, a série continua a ser uma observação complexa e intensa das dificuldades econômicas e sociais que afligem Nottingham, e sua abordagem única de crimes e personagens profundamente marcados pelo passado mantém a promessa de um desenvolvimento mais robusto nas próximas etapas.

O retorno de personagens e a construção de novas tensões sociais, como as disputas entre gangues e as mudanças políticas, ainda oferecem um terreno fértil para histórias mais ricas, mas o sucesso da segunda temporada dependerá de sua capacidade de se reconectar com os elementos que fizeram a primeira temporada tão memorável. Por enquanto, Sherwood permanece uma série intrigante, mas com desafios significativos a superar para voltar ao seu melhor.

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