"Bad Sisters" Temporada 2: Uma Continuação de Mistérios, Conflitos e Novos Personagens
A segunda temporada de Bad Sisters, série adaptada da belga "Clan" e exibida pela Apple TV+, oferece uma visão mais centrada e pragmática do que a temporada anterior, mas, ao mesmo tempo, mantém os elementos centrais que a tornaram um sucesso: a comédia negra, a dinâmica familiar e a complexidade das relações entre as irmãs Garvey. No entanto, a sequência não tenta replicar o mesmo efeito de surpresa ou complexidade estrutural que fez a primeira temporada tão marcante. Ao invés disso, ela aposta em uma narrativa mais direta, embora ainda repleta de tensão e reviravoltas.
A Primeira Cena: Um Vislumbre do Passado e do Futuro
A temporada começa com um flash-forward impactante, revelando as quatro irmãs Garvey – Eva (Sharon Horgan), Ursula (Eva Birthistle), Bibi (Sarah Greene) e Becka (Eve Hewson) – tentando se livrar de um corpo morto em uma cena tensa. Becka, com o rosto inchado e ensanguentado, aparece como uma das figuras centrais neste início perturbador. Porém, Grace (Anne-Marie Duff), que matou seu marido abusivo, John Paul (Claes Bang), na primeira temporada, está ausente. Este flash-forward serve como uma provocação inicial, criando uma expectativa sobre os eventos que levarão as irmãs a essa situação.
Após essa cena, a temporada retorna ao formato linear, começando na véspera do casamento de Grace com Ian (Owen McDonnell), seu novo parceiro, e se desenrolando em torno da investigação de um corpo encontrado em uma mala – o cadáver de George, o pai de John Paul. Este acontecimento reacende as suspeitas sobre a morte de John Paul e a possível conexão de Grace com os eventos.
Uma Estrutura Menos Complexa: O Legado da Temporada Anterior
A primeira temporada de Bad Sisters destacou-se pela estrutura narrativa intrincada, alternando entre duas linhas do tempo: uma que abordava os eventos que levaram à morte de John Paul e outra que acompanhava as consequências desse assassinato. Essa trama elaborada e cheia de segredos funcionou como um relógio bem ajustado, culminando em um final surpreendente com a revelação de que Grace, a vítima aparentemente passiva, foi a responsável pela morte do marido.
Na segunda temporada, no entanto, Sharon Horgan, que também foi uma das criadoras da série, assume uma abordagem diferente. Ao invés de tentar construir um enredo complexo e repleto de mistérios escondidos, ela opta por uma narrativa mais direta e simplificada. Embora o impacto da morte de John Paul ainda ressoe, a temporada não tenta recriar a mesma máquina de intriga da temporada anterior. A ausência de John Paul e a falta de uma presença central tão odiada quanto a sua tornam o tom da série mais sutil e introspectivo.
Novos Personagens e Aprofundamento das Relações
Embora a trama principal seja mais simples, a temporada ganha energia renovada com a introdução de novos personagens e o aprofundamento das relações entre os já conhecidos. Ian, interpretado por Owen McDonnell, é um personagem que se encaixa suavemente na família Garvey. Ele é o oposto de John Paul: gentil, compreensivo e, ao contrário de seu predecessor, é imediatamente aceito pela família, sem grandes questionamentos. Essa mudança de dinâmica oferece um contraste interessante e uma visão diferente da familia Garvey.
No entanto, o grande destaque entre os novos personagens é Angelica (interpretada por Fiona Shaw), irmã de Roger. Angelica é uma figura moralmente superior que entra em cena para complicar ainda mais a vida das Garveys. Ela se apresenta como uma mulher religiosa e piosa, que busca infiltrar-se no círculo íntimo das irmãs, aproveitando-se da morte de John Paul para exercer controle sobre elas. Ao contrário de John Paul, que era um vilão claro, Angelica representa a hipocrisia moral da Igreja Católica irlandesa e se torna uma presença inquietante, manipuladora e impositiva.
Outro personagem que se destaca é Detetive Houlihan (interpretado por Thaddea Graham), uma policial jovem e determinada, cuja busca incansável pela verdade a coloca diretamente em conflito com a família Garvey. Ela traz uma nova energia à investigação, sendo uma adversária à altura da manipulação e das mentiras das irmãs.
O Problema de Blánaid: A Falta de Profundidade no Desenvolvimento de Personagem
Embora a temporada traga personagens interessantes, um ponto de crítica recai sobre Blánaid (interpretada por Saise Quinn), filha de Grace, que agora é uma adolescente. Apesar de estar no centro dos conflitos da temporada, Blánaid é tratada de maneira passiva nos roteiros, como um objeto a ser disputado pelas irmãs e por Angelica. Embora ela tenha idade suficiente para ter sua própria voz e opiniões, seu desenvolvimento é negligenciado até os momentos finais da temporada, onde ela finalmente expressa algo significativo. Esse é um erro de caráter, já que a série sempre foi hábil em explorar as complexidades das personagens femininas, mas falha ao não dar a Blánaid uma verdadeira autonomia narrativa.
Dançando ao Redor da Morte: O Tom de Comédia Negra Continua
Apesar da abordagem mais simplificada e das faltas de algumas reviravoltas tão impactantes quanto as da temporada anterior, Bad Sisters ainda mantém sua essência no que se refere à dinâmica familiar e ao tom de comédia negra. As irmãs continuam a se envolver em esquemas desajeitados, tentando encobrir suas ações de maneira amadora, enquanto as investigações policiais giram em torno do mistério do corpo no lago.
Além disso, o cenário irlandês, com suas paisagens costeiras e atmosferas sombrias, continua a ser um personagem por si só, transmitindo o tom melancólico e ao mesmo tempo irônico que a série conseguiu dominar na temporada anterior. As interações entre as irmãs Garvey ainda são carregadas de tensões familiares, mas também de humor ácido, mantendo o equilíbrio entre o bizarro e o genuíno.
Uma Temporada Menos Complexa, Mas Ainda Engraçada e Impactante
Embora a segunda temporada de Bad Sisters não tenha o mesmo impacto estrutural que a primeira, ela ainda oferece uma narrativa divertida, emocionante e cheia de reviravoltas menores. A ausência de um vilão tão marcante quanto John Paul e a transição para uma narrativa mais direta tornam esta sequência mais leve e menos intrincada, mas não menos envolvente. A adição de personagens como Angelica e Detetive Houlihan traz frescor, e a química entre as irmãs Garvey continua a ser o núcleo da série.
Embora alguns pontos de desenvolvimento de personagem possam ter sido negligenciados, Bad Sisters permanece uma série que sabe equilibrar com habilidade o drama e a comédia, mantendo-se fiel às suas raízes enquanto tenta explorar novas camadas da dinâmica familiar e dos mistérios que as cercam. Se a primeira temporada foi uma obra de complexidade e reviravoltas, a segunda é uma continuação divertida e eficiente de uma história que, mesmo mais simples, ainda encanta.