"Wolf Man" (2025): Uma Nova Abordagem ao Clássico Monstro em uma Era de Horrores Contemporâneos
O filme Wolf Man, dirigido por Leigh Whannell, é a mais recente incursão da Universal Pictures no universo dos monstros clássicos, trazendo uma nova perspectiva sobre a lenda do homem-lobo. Em um contraste direto com o projeto anterior de Joe Johnston, The Wolfman (2010), que foi criticado por seu drama gótico exagerado, folclore rebuscado e excesso de CGI, Wolf Man aposta em uma narrativa mais enxuta e eficiente. Embora não seja uma reinvenção tão ousada quanto The Invisible Man de Whannell, o filme oferece uma experiência intensa e carregada de tensão, com bastante gore e uma atmosfera claustrofóbica que prende o espectador desde o início.
Uma Abordagem Mais Contida e Eficiente
Ao contrário das versões anteriores, como a de 1941 estrelada por Lon Chaney Jr., que traziam elementos típicos do folclore (como a lua cheia e a bala de prata), Wolf Man opta por dispensar essas convenções. O filme começa com um texto introdutório que menciona um “vírus animal” conhecido pelos povos indígenas locais como o “rosto do lobo”, sem apelar para os clichês tradicionais. Essa escolha pode ser vista como uma tentativa de trazer frescor à narrativa, destacando um aspecto mais psicológico e contemporâneo do monstro.
A história se concentra na relação de um casal em crise, com Blake (Christopher Abbott) e Charlotte (Julia Garner), cujos laços são postos à prova quando Blake começa a sofrer uma transformação aterradora em meio a um ataque de um lobo. O cenário isolado de uma fazenda velha e sombria no interior de Oregon, onde o filme ocorre, contribui para uma sensação de aprisionamento, aumentando a tensão enquanto os personagens enfrentam o monstro externo e as feridas internas que ameaçam a estrutura da família.
O Cenário Como Personagem: A Claustrofobia e o Medo
A escolha de Whannell e Tuck de situar quase toda a ação em uma única noite dentro de uma fazenda isolada, cercada por uma paisagem selvagem e hostil, dá ao filme uma sensação de confinamento e desesperança, algo que lembra o "efeito pós-COVID" de filmes que exploram um espaço limitado e o medo de um inimigo invisível. Esta configuração cria uma tensão constante, à medida que o público é levado a sentir a mesma impotência e desespero dos personagens principais.
A trama envolve não apenas a luta contra o monstro, mas também os conflitos internos de um casal que tenta se reconectar enquanto enfrentam a ameaça iminente. O que poderia ser um thriller familiar clássico é elevado pela maneira como os atores Christopher Abbott e Julia Garner conseguem desenvolver uma dinâmica convincente. Abbott, interpretando Blake, se entrega ao papel de um homem atormentado, enquanto Garner traz uma performance tensa e multifacetada, fazendo sua personagem lutar por sua família enquanto tenta lidar com a crescente monstruosidade de seu marido.
Transformações e Efeitos Práticos: O Monstro na Tela
Um dos aspectos mais interessantes de Wolf Man é seu uso de efeitos práticos em vez de CGI, algo que remete aos filmes de terror dos anos 1980, como The Fly de David Cronenberg e The Thing de John Carpenter. A transformação de Blake em um monstro é tratada com uma impressionante mistura de maquiagem e próteses, criando uma sensação visceral que muitos fãs de filmes de terror clássicos vão apreciar. Cada contorção de seus ossos e mudanças físicas são mostradas de maneira palpável, lembrando as icônicas transformações de An American Werewolf in London.
Apesar disso, a transformação não é perfeita. Um dos elementos menos convincentes é o que o filme chama de “visão de lobo”, uma técnica visual que nos permite ver as personagens como figuras envoltas em um brilho fluorescente através dos olhos de Blake. Este efeito é criticado por sua aparência um tanto barata, que tira um pouco da imersão, especialmente quando comparado aos efeitos práticos e mais sutis que dominam outras partes do filme.
Tensão e Relacionamentos: O Cenário Pessoal da Ameaça
A grande força de Wolf Man está em sua capacidade de explorar o medo de maneira intimista, concentrando-se nas relações familiares em um contexto de ameaça sobrenatural. A transformação de Blake não é apenas física, mas também emocional e psicológica, o que torna sua luta interna tão intrigante quanto o confronto com o monstro. Sua perda de controle, enquanto ainda tenta proteger sua esposa e filha, cria uma tensão emocionante e profunda.
Garner, que interpreta Charlotte, inicialmente parece estar em um papel mais simples, mas sua personagem cresce à medida que a situação se intensifica. Sua transformação de uma esposa desapegada e focada na carreira para uma mulher ferozmente protetora é uma das mais notáveis no filme. Ela não só tem que lidar com o marido em sua forma monstruosa, mas também com a realidade de que seu amor por ele pode não ser suficiente para salvar sua família.
Gore e Psicologia: A Violência e o Suspense
Como esperado de um filme da Blumhouse Productions, Wolf Man não economiza no gore. A violência não é apenas física, mas também psicológica, com o medo, a angústia e a perda de controle dominando a narrativa. Whannell consegue manter o suspense elevado, mesmo com um roteiro que, por vezes, se sente mais fraco no aspecto psicológico quando comparado a outros de seus trabalhos, como o remake de The Invisible Man.
A tensão é implacável, mas o filme não é apenas sobre sustos fáceis ou cenas de transformação. Ele constrói sua narrativa de forma a nos fazer questionar até que ponto a humanidade de Blake será preservada enquanto ele se entrega ao lobo interior. As cenas de confronto com a criatura são intensas e com algumas surpresas impactantes, incluindo um jump scare particularmente eficaz.
Uma Abordagem Clássica com uma Nova Visão
Embora Wolf Man possa não ser uma reinvenção radical do gênero, ele definitivamente oferece uma abordagem interessante e perturbadora ao conceito do monstro clássico. Leigh Whannell e sua equipe de produção entregam uma história de horror que mistura intimismo familiar com o terror visceral de um monstro inclemente, tudo isso em um cenário que é tanto uma prisão quanto um campo de batalha. O filme é eficaz em manter o espectador à beira da cadeira, com uma combinação de efeitos práticos impressionantes e uma atmosfera de crescente desespero. Se você é fã de filmes de terror que exploram tanto a fragilidade humana quanto a monstruosidade literal, Wolf Man com certeza será uma experiência envolvente e arrepiante.