Shazam #17 - Crítica

 Shazam #17: A Sombra do Passado e as Dúvidas do Futuro

O universo de Shazam tem sido uma arena de contrastes entre o épico e o íntimo, onde o poder e a responsabilidade de ser um herói se entrelaçam com as complexidades emocionais de ser um adolescente. Shazam #17, escrito por Josie Campbell, leva essa dualidade a novos limites ao explorar os conflitos internos e externos de seus protagonistas, principalmente Billy Batson e seu aliado Freddy Freeman, agora conhecido como The Commander. Entre os mistérios de novas forças e poderes, além de tensões familiares e sociais, o quadrinho não só apresenta ação e aventura, mas também reflete de maneira contundente sobre questões políticas e pessoais atuais, estabelecendo uma narrativa envolvente e relevante.

A Ameaça e o Novo Herói: Freddy Freeman como The Commander

O início do arco de Shazam #17 coloca Freddy Freeman no centro da ação, agora assumindo a identidade de The Commander, um super-herói imerso em novos poderes e com uma visão mais pragmática sobre o papel dos heróis no mundo moderno. Freddy, sempre um personagem mais secundário e enérgico nas histórias anteriores, ganha um espaço significativo nesta edição, entrando em confronto com Billy Batson e The Captain, o alter ego de Shazam. Esses conflitos, aparentemente banais e derivados de um triângulo amoroso, rapidamente ganham complexidade, mostrando as distorções psicológicas e os dilemas morais que surgem quando amigos e heróis se veem em desacordo, especialmente quando suas próprias inseguranças e desejos são colocados à prova.

Ao mesmo tempo, a chegada de Beck Geist, o novo milionário de criptomoedas, que se revela ser Mister Mind disfarçado, adiciona uma camada de mistério e perigo ao enredo. Como é típico de Mister Mind, ele não apenas é um antagonista com ambições vastas e complexas, mas também uma personificação das ameaças modernas, como tecnologia descontrolada e o poder econômico manipulador. Esse novo vilão é emblemático do tipo de adversário que a juventude de hoje pode encontrar — uma ameaça disfarçada de empresário moderno, mas com intenções profundamente malignas. A manipulação de Freddy e o uso de seu alter ego, The Commander, por parte de Mister Mind soa como uma metáfora de como as pressões do mundo contemporâneo podem corromper até os melhores de nós.

A Relação Familiar e as Dificuldades de Billy Batson: Uma Dramaturgia Realista

Um dos maiores trunfos desta edição de Shazam é a forma como Josie Campbell equilibra os elementos de ação fantástica com questões emocionais e familiares muito humanas. O tema da família disfuncional tem sido central para o enredo de Billy Batson desde o início da série, mas em Shazam #17, ele atinge uma nova profundidade com o retorno de sua mãe biológica. Sua mãe está tentando recuperar a guarda legal de Billy, uma situação que traz à tona um conflito profundamente pessoal e difícil de resolver, especialmente quando se considera que Billy está sendo cuidado por seus pais adotivos, que agora enfrentam dificuldades financeiras.

A narrativa expõe a luta de Billy não só contra Mister Mind e outras ameaças, mas também contra as pressões emocionais e legais que surgem com a tentativa de sua mãe de voltar à sua vida. A luta de Billy para equilibrar suas responsabilidades como herói e sua necessidade de encontrar um lugar seguro e amoroso no mundo reflete problemas reais enfrentados por muitos adolescentes e jovens adultos. A combinação desses elementos – poderes mágicos e problemas familiares – confere à história uma maturidade rara em quadrinhos de super-heróis, onde muitas vezes os dilemas pessoais ficam em segundo plano.

O Reflexo da Sociedade Moderna: Comentário Político e Social

Uma das escolhas mais intrigantes e ousadas de Shazam #17 é a forma como Josie Campbell insere comentários políticos e sociais diretos na história, algo que muitas vezes é evitado em quadrinhos de super-heróis. Desde o começo da edição, vemos uma disputa política acirrada entre cidadãos, onde um começa a gravar o outro em uma cena muito familiar do cenário político atual. Embora essa abertura possa parecer irrelevante em um primeiro momento, ela é intencional e coloca o tom para a exploração das falhas humanas ao longo da história.

Com The Commander e suas novas habilidades, o poder parece amplificar as falhas e as divisões da sociedade. Quando as habilidades do herói começam a reagir negativamente ao ambiente e às atitudes humanas, fica claro que Campbell está explorando um ponto delicado: como o mundo moderno, com suas polarizações, desinformação e tecnologias, influencia e distorce até mesmo as boas intenções dos heróis. A crítica sutil à sociedade atual é construída com maestria, e o próprio The Commander, com suas habilidades nas mãos de uma figura como Mister Mind, serve como uma alegoria do uso indevido do poder em um mundo quebrado e dividido.

A Arte de Dan McDaid: Estilo que Combina Ação e Reflexão

A arte de Dan McDaid, com a ajuda de Roberto Poggi nos tins de arte e Trish Mulvihill nas cores, é uma das grandes forças desta edição. McDaid traz um estilo visual que é tanto dinâmico quanto contemporâneo, conseguindo capturar a tensão entre o realismo mundano e a fantasia das aventuras de super-heróis. As cenas de ação são fluidas e energéticas, enquanto os momentos de reflexão, como as discussões emocionais entre Billy e sua mãe ou Freddy e seus dilemas, são profundamente expressivos e viscerais. O uso de cores é crucial para estabelecer o tom – com tons de terra e amarelos suaves para os momentos mais íntimos e cores saturadas durante as cenas de batalha e ação, contrastando a energia de seus poderes com a gravidade dos problemas pessoais.

Conclusão: Um Passo Importante para o Universo de Shazam

Shazam #17, com a escrita de Josie Campbell e a arte de Dan McDaid, é uma edição que ultrapassa o simples entretenimento de heróis e vilões, convidando os leitores a refletirem sobre questões mais profundas e atuais, sem perder a essência da magia e da aventura que sempre foram centrais ao universo de Shazam. A interação entre os personagens, especialmente Billy Batson e Freddy Freeman, é bem construída e emocionalmente ressonante, e a introdução de temas como política, poder e família torna a história não apenas relevante, mas também extremamente contemporânea.

Com uma trama que mistura ação, drama e reflexão social, Shazam #17 é uma leitura essencial para quem deseja algo mais do que as típicas aventuras de super-heróis, mostrando que até mesmo no mundo da magia, as questões humanas continuam sendo as mais complexas. Se você está procurando uma abordagem mais madura e pensativa dentro dos quadrinhos de super-heróis, este número de Shazam é uma excelente escolha.

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