Crítica de "Landman" – Um Prequel de Yellowstone Sem Originalidade
A constante produção de séries por Taylor Sheridan para o Paramount Plus já se tornou uma marca registrada, com seu estilo narrativo sendo reconhecido por suas tramas sobre o oeste americano, dramas familiares e negócios escusos. Após o sucesso de Yellowstone, é quase inevitável que suas criações seguintes sejam vistas sob uma lente de comparação. Seu novo projeto, "Landman", não apenas sofre com essa comparação, mas também padece de problemas estruturais e criativos que fazem com que o espectador se pergunte se a fonte de inspiração de Sheridan finalmente secou.
Baseada no podcast documental serializado Boomtown, "Landman" se passa em West Texas, um território onde o petróleo continua sendo a principal força motriz da economia e da cultura local. Aqui, somos apresentados a Tommy Norris (interpretado por Billy Bob Thornton), um landman, a face pública das empresas de petróleo, cuja função é garantir concessões de terras e direitos minerais para perfuração. No entanto, o trabalho de Tommy envolve muito mais do que apenas negociação; ele se vê, por exemplo, sendo amarrado a uma cadeira, com uma sacola na cabeça, enquanto negocia com um cartel mexicano. A cena é um exemplo claro daquilo que permeia a série: a tentativa de criar uma narrativa tensa e emocionante que frequentemente beira o ridículo.
A Trama de "Landman" - Entre o Oeste e o Abismo da Futilidade
Se você está familiarizado com Yellowstone, "Landman" parece uma versão diluída e menos interessante do mesmo conceito. A trama gira em torno de Tommy Norris, um landman do Texas, que, além de lidar com conflitos empresariais e manipulação de terras, também enfrenta dramas pessoais e familiares. Jon Hamm interpreta Monty Miller, um executivo cínico e ambicioso da empresa de petróleo que coordena a operação, e a série foca em suas interações com seus subordinados e sua própria família.
A partir da premissa de que o petróleo ainda é a força vital da economia americana, Sheridan tenta explorar as complexidades da indústria petrolífera e suas consequências, tanto para o meio ambiente quanto para as relações humanas. Tommy, um personagem que combina o charme rústico com a dureza de um cowboy, tem que lidar com as questões morais e pessoais enquanto cumpre sua missão. No entanto, o que começa como uma trama intrigante logo se transforma em uma sucessão de clichês e conflitos banais. O espetáculo de poder e ganância que é sugerido não consegue fugir do lugar comum das narrativas sobre exploração de recursos naturais e os custos humanos e ambientais que isso implica.
A Falta de Foco: "Landman" Como Drama Familiar e Política Conservadora
Um dos maiores problemas de "Landman" está em sua tentativa de se estabelecer como um drama familiar, algo que nunca se concretiza de forma satisfatória. A série, em vez de focar em uma análise profunda da vida e dos dilemas de Tommy e seus colegas landmen, opta por explorar aspectos da vida pessoal de seus personagens. Isso inclui, por exemplo, o relacionamento problemático de Tommy com sua ex-esposa, Angela (interpretada por Ali Larter), e a filha adolescente Ainsley (Michelle Randolph), uma jovem superficial e mimada que, de forma cômica, reflete os estereótipos de uma geração excessivamente sexualizada.
A série frequentemente recorre a piadas grosseiras e situações absurdas, como a cena em que Ainsley dá uma aula de permissividade sexual ao pai, para preencher os vazios entre os momentos de "drama pesado" e "conflitos morais". Esse tipo de humor — que visa agradar a um público conservador e retrógrado — transforma a trama em algo mais caricatural do que em uma exploração sincera das complexidades familiares. O tratamento desses personagens e suas interações revelam um claro desprezo pelo sexismo e pela liberdade sexual feminina, o que se torna ainda mais evidente quando a narrativa faz questão de exagerar as falhas e fraquezas de personagens femininas, como Angela e Ainsley.
A Performance de Billy Bob Thornton e o Ritmo Lento da Série
Billy Bob Thornton, como Tommy Norris, é um dos poucos pontos altos de "Landman". Ele traz para o papel a mesma mistura de charme e cinismo que fez dele uma presença marcante em outros papéis, como em Goliath. Sua interpretação tem a capacidade de conectar o espectador com o personagem, que, apesar de suas falhas e atitudes agressivas, possui uma estranha profundidade. Seu modo de falar lento e carregado é magnético, o que ajuda a manter algum grau de interesse nas cenas que de outra forma seriam entediantes.
No entanto, mesmo com Thornton carregando muitos dos momentos da série, o ritmo de "Landman" é excruciante. A série caminha como um derrick de petróleo, lenta e monótona, com muitas cenas desnecessárias, como os episódios focados no filho de Tommy, Copper (Jacob Lofland), que trabalha como operário nas plataformas de perfuração. O personagem de Copper não tem muito a oferecer além de piadas fracas e situações óbvias para preencher a trama, e a série não parece saber o que fazer com ele além de colocá-lo em situações para gerar algum tipo de “chocante” desenvolvimento. O episódio que explora uma explosão em uma plataforma de petróleo parece uma tentativa forçada de trazer emoção para um enredo já morno.
A Falta de Coerência e Humor Prejudicial
Um dos maiores problemas de "Landman" é a sua falta de coerência tonal. O drama lento e sombrio que tenta explorar as complexidades da exploração do petróleo e a vida dos landmen se mistura com momentos de humor infantil, fazendo com que o ritmo da série se arraste e a emoção pareça artificial. É desconcertante ver uma cena dramática ou emotiva ser interrompida por piadas fracas ou cenas de comédia de estilo sitcom, como um personagem vagando acidentalmente para o chuveiro errado. Essas mudanças de tom não só são desnecessárias, como também fazem a série parecer uma mistura mal feita de gêneros, sem conseguir se firmar em um estilo coeso.
Além disso, os stakes (jogos de poder) em "Landman" são tão subterrâneos que os episódios se tornam longos e arrastados. Em vez de criar um suspense envolvente, a série se perde em diálogos vazios, tramas secundárias sem substância e uma exploração superficial de suas questões centrais. Ao final de cada episódio, a sensação predominante é de frustração, com o espectador tendo dificuldade para se conectar com as situações ou com os personagens, que não parecem nunca avançar de maneira significativa.
Conclusão: Uma Oportunidade Perdida
"Landman" é mais uma criação de Taylor Sheridan que se perde na tentativa de abordar questões universais através de um contexto local. Embora tenha o potencial para explorar temas como ganância corporativa, a exploração de recursos naturais, e os conflitos familiares em um cenário de fronteira, a série falha em capturar a complexidade de suas premissas. Ao invés disso, ela se torna um emaranhado de estereótipos e piadas forçadas, que só prejudicam o desenvolvimento de uma trama já morosa e sem foco.
Enquanto Billy Bob Thornton se destaca como o personagem principal, o restante do elenco e a direção do projeto parecem perder a oportunidade de criar algo significativo. No final, "Landman" parece uma série que não sabe o que quer ser, se tornando apenas um eco de Yellowstone, sem a mesma intensidade ou profundidade. Se você procura um drama envolvente sobre o oeste e o petróleo, é melhor seguir para outros poços — este já foi furado e está seco.