Duna: A Profecia (2024- ) - Crítica

 Crítica: "Dune: Prophecy" - Um Prequel Fraco Que Luta para Encontrar Sua Identidade

Após o monumental sucesso de Dune: Parte Dois de Denis Villeneuve, as expectativas para a expansão do universo de Dune estavam nas alturas, especialmente com a estreia da série prequela Dune: Prophecy na HBO Max. Originalmente anunciada como Dune: Sisterhood em 2019, a série passou por diversos atrasos e reformulações criativas antes de finalmente estrear em novembro de 2024. Apesar de estar situada no mesmo rico universo dos filmes, Dune: Prophecy luta para se destacar, sendo prejudicada pelas altas expectativas que não consegue corresponder. Embora a série tenha elementos interessantes, ela acaba falhando sob o peso da tarefa de tentar se igualar à grandiosidade dos filmes.

Uma Premissa Cheia de Potencial

O conceito por trás de Dune: Prophecy é, sem dúvida, interessante. Situada milhares de anos antes do nascimento de Paul Atreides, a série se aprofunda nos primeiros dias da irmandade Bene Gesserit, a poderosa ordem religiosa central no universo de Dune. A história foca em Valya Harkonnen (interpretada por Jessica Barden e Emily Watson), uma jovem membro da Bene Gesserit determinada a garantir a sobrevivência de sua ordem e evitar a visão apocalíptica que ela experimenta em sua juventude. À medida que sobe nas fileiras da Bene Gesserit, Valya orquestra casamentos políticos entre as casas mais poderosas para garantir o futuro do universo, incluindo o casamento de Princesa Ynez (Sarah-Sofie Boussnina) com a família do Imperador Javicco Corrino (Mark Strong).

Embora a premissa prometa uma exploração rica de política, profecias e poder, a série é sufocada por problemas de ritmo, personagens subdesenvolvidos e um tom que luta para se alinhar com o universo já estabelecido de Dune. A série começa com uma declaração sussurrada, "Vitória é celebrada na luz, mas é conquistada na escuridão", estabelecendo o tom para uma narrativa mais sombria, mas rapidamente se desvia para uma história irregular que não consegue capturar a grandiosidade dos filmes.

Mudanças Criativas e Oportunidades Perdidas

Um dos problemas mais evidentes de Dune: Prophecy é a sensação de que a série está constantemente tentando conciliar várias versões de si mesma. Após diversas reformulações criativas, a série nunca consegue encontrar um rumo claro, oscilando entre intriga política, visões místicas e drama focado nos personagens. Enquanto os filmes de Villeneuve são comedidos, precisos e assustadoramente belos na construção do mundo, Dune: Prophecy parece dispersa, frequentemente perdendo o fio condutor de sua história mais interessante sobre a Bene Gesserit e a luta pelo poder.

O material envolvendo a Bene Gesserit é o aspecto mais forte da série, especialmente nas atuações de Emily Watson (como Valya Harkonnen) e Olivia Williams (como sua irmã Tula Harkonnen). Ambas as atrizes trazem uma intensidade silenciosa aos seus papéis, criando uma tensão palpável sempre que estão em cena juntas. Sua dinâmica poderia ser o pilar da série, mas a história frequentemente desvia de seu foco, direcionando atenção para personagens secundários cujas tramas acabam minando o ritmo da narrativa.

Um dos aspectos mais frustrantes da série é como ela lida com o drama político. À medida que Valya e a Bene Gesserit tramam suas manobras, a série introduz personagens secundários envolvidos em política interplanetária. No entanto, essas cenas — que envolvem personagens como Imperador Javicco Corrino (Mark Strong) e Princesa Ynez — parecem mero enredo secundário. As atuações nessas cenas são duras, e o diálogo não consegue carregar o peso dos grandes conflitos que deveriam envolver esses personagens. O resultado é uma série que não se sente parte do universo de Dune, mas sim uma dramatização genérica de intriga política no espaço.

Desmond Hart: A Salvação da Série

Entre as tramas dispersas, a atuação de Travis Fimmel como Desmond Hart se destaca. Desmond, um misterioso guerreiro que retorna de uma experiência de quase-morte nas areias de Arrakis (onde foi engolido por um verme Shai-Hulud), traz uma energia única à série. Com sua presença assombrante e diálogos enigmáticos, Hart atua tanto como aliado quanto como possível inimigo de Valya. Sua história sobre fé cega e o poder que adquiriu após sobreviver ao ataque do verme é um dos arcos mais intrigantes da série. Infelizmente, esse arco não é totalmente desenvolvido, e a presença de Hart na narrativa não atinge seu potencial máximo. É uma pena, porque ele poderia ter sido o catalisador para a exploração da série sobre poder, fé e as consequências perigosas de acreditar em algo maior que si mesmo.

O Peso do Legado de Dune

Em última análise, Dune: Prophecy sofre porque está tentando preencher os sapatos de uma franquia que já atingiu quase a perfeição em sua forma cinematográfica. Os filmes de Dune, especialmente as adaptações de Villeneuve, estabeleceram um alto padrão em termos de narrativa visual, construção de mundo e exploração temática. Em contraste, Dune: Prophecy parece estar tentando descobrir que tipo de série quer ser. A escrita carece da profundidade e sofisticação que tornaram os filmes tão impactantes, e o ritmo é irregular, com alguns episódios se arrastando desnecessariamente.

A falha da série em focar em seus elementos mais interessantes — principalmente a Bene Gesserit e suas dinâmicas de poder internas — faz com que ela se sinta como uma oportunidade perdida. Há uma sensação de que Dune: Prophecy teria funcionado melhor como uma série mais enxuta e focada nas maquinações políticas da Bene Gesserit e nas complexas relações entre suas personagens femininas. Em vez disso, ela se espalha em um drama político sem alma, que só ganha vida de forma intermitente através de seus personagens mais interessantes e suas histórias.

Considerações Finais

Dune: Prophecy é uma série com muito potencial, mas que, no final, não consegue corresponder às suas promessas. Ela luta para se estabelecer em um universo já definido pelos filmes de Denis Villeneuve, e sua dependência de personagens secundários e intriga política enfraquece as histórias mais envolventes que poderia contar. As atuações de Emily Watson e Olivia Williams oferecem a gravidade necessária, mas não conseguem salvar uma série que não sabe exatamente o que quer ser. Quando o quarto episódio chega, o espectador não pode deixar de se perguntar por que não está simplesmente reassistindo aos filmes, que, em sua essência, compreendem melhor a franquia que estão adaptando.

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