Venom - Tempo de Carnificina (2021) - Crítica

Em Venom - Tempo de Carnificina, depois de um ano dos acontecimentos do primeiro filme, Eddie Brock (Tom Hardy) está com problemas para se acostumar na vida com o symbiote Venom. Eddie tenta se restabelecer como jornalista ao entrevistar o serial killer Cletus Kasady, também portando um symbiote chamado Carnage e que acaba escapando da prisão após sua execução falhada.

O filme é dirigido por Andy Serkis a partir de um roteiro de Kelly Marcel, e é estrelado por Tom Hardy como Eddie Brock / Venom, ao lado de Woody Harrelson, Michelle Williams, Reid Scott e Naomie Harris.



Os planos para uma sequência de Venom começaram durante a produção do filme, com Harrelson fazendo uma breve aparição como Cletus Kasady no final de Venom, com a intenção de ele interpretar o papel de vilão em uma possível sequência. O trabalho começou em janeiro de 2019, com Marcel e o elenco principal confirmados para retornar. Serkis foi contratado em agosto e as filmagens começaram em novembro no Leavesden Studios na Inglaterra.

Venom: Let There Be Carnage foi lançado nos EUA em 1 de outubro de 2021.

Em 2018, Venom foi uma verdadeira surpresa no cinema de super-heróis por causa de seu enorme sucesso de bilheteria, arrecadando mais de US$ 854 milhões mundialmente – mesmo que não tenha sido bem recebido pela crítica especializada. Isso deu início ao Universo Homem-Aranha da Sony, produções compartilhadas com personagens do Homem-Aranha que a empresa detém os direitos, o que inclui seus antagonistas clássicos – como é o caso de Venom, Morbius e Kraven, o Caçador, enquanto Tom Holland faz parte de um acordo histórico com o Universo Cinematográfico Marvel. Não demoraria muito tempo para que uma sequência do filme de 2018 fosse lançada, e aqui temos Venom: Tempo de Carnificina (2021).

O diretor Andy Serkis faz de Venom – Tempo de Carnificina um filme que se devota ao essencial para a sua trama, e é particularmente um exemplar que se destoa, de forma positiva, da grande maioria de filmes de herói que temos hoje em dia, preocupados falsamente com a mitologia e escancarando isso com a maneira trapalhada com a qual as trabalha em cena. Assim, em seus econômicos 80 minutos de duração, temos sequências dinâmicas e incomuns para um filme do tipo, como a surpreendente montagem contada através de desenhos animados. Para um filme criticado pela curta duração, é curioso como Serkis utiliza frequentemente calmos fade-ins e fade-outs, um recurso que parece cada vez mais perder a vez no cinema pop de imediatismo clipado atual, algo que remete a uma era mais inocente no gênero.


Essa inocência permeia Venom – Tempo de Carnificina mesmo dentro do cinema satírico que ele escolhe fazer aqui: um filme que escolhe a estrutura e dinâmicas de uma comédia romântica, onde Venom e Eddie fazem esse casal disfuncional. Nesse gênero que é irônico praticamente por excelência, não se sente o sarcasmo visto em muitas dessas produções. O exemplo recente que vem a mente é O Esquadrão Suicida, uma produção competente, mas que utilizava uma espécie de escárnio com o gênero apenas para parecer mais cool, mais descolado, assim como as excentricidades formais que utilizava para nos distrair de uma narrativa muito convencional e comercial. Tempo de Carnificina é um filme mais transgressor e excêntrico em forma e estilo que o Esquadrão de Gunn, com toda a suas tripas e sangue presentes naquele filme.


Assim, sente-se na tela como o filme de Serkis se diverte com sua trama muito simples, onde o humor vem das interações de Eddie e Venom, sempre divertidas e engraçadas, ora pelas discussões paródicas de comédia romântica, ora pelo humor pastelão e físico. É um filme que troca sequências de ação (existem apenas duas grandes sequências de ação no filme) por momentos como aquele onde o simbionte, separado de Eddie, vai á uma balada à fantasia estilo glow in the dark e as pessoas acham que aquela figura alienígena de quase 3 metros é uma fantasia. Simples assim.  Há uma honestidade na forma inocente com a qual o filme se desdobra e como exige que acreditemos na situação que permeia toda a produção, algo que lembra – pontualmente – os filmes do Homem-Aranha de Sam Raimi, principalmente na ótima trilha sonora de Beltrami, expressiva que evoca Danny Elfman enquanto inclui riffs de guitarra saídos de um heavy metal, algo que combina muito com o personagem. No entanto, é o elegante blues da faixa “Venom and Blues” que surpreende. É daquelas faixas que nunca vemos no filme de herói atual, surpreendente mesmo.


Venom: Tempo de Carnificina se passa um ano depois dos acontecimentos do primeiro filme. Eddie Brock (Tom Hardy) está com problemas para se acostumar na vida com o simbiote Venom. Eddie tenta se restabelecer como jornalista ao entrevistar o serial killer Cletus Kasady (Woody Harrelson), também portando um simbionte chamado Carnificina e que acaba escapando da prisão após sua execução falhada.


Venom: Tempo de Carnificina abraça de vez a galhofa e acerta ao explorar seu lado mais cômico na divertida relação entre seus protagonistas, Venom e Eddie Brock. Mesmo assim, ele apresenta muitos problemas: as cenas de ação são caóticas, a narrativa é apressada e, por fim, falha em estabelecer seu vilão principal, Carnificina. Longe de satisfazer o público de super-heróis e os fãs de quadrinhos, essa sequência pelo menos rende alguns momentos divertidos e mais inspirados que o primeiro filme de 2018.


Se a maioria dos fãs atuais, do fan service que começa e termina em si mesmo, dirá que esta continuação vale mais pela cena pós-créditos, que aponta para uma conexão com universos cinematográficos de sucesso (e escancara que essa geração deve ser acima de tudo, masoquista), é a cena final de Venom – Tempo de Carnificina que representa o real triunfo do filme, divertida e inocente paródia de comédias românticas: à beira da praia, no sol otimista, na breguice sem concessões.


Quando Venom estreou nos cinemas, a truncagem na maneira de contar a história esquisita de uma gosma escura vindo do espaço, capaz de infectar violentamente um fracassado jornalista para salvar o mundo de outra gosma do mal, se tornou alvo de comédia e reinterpretação da parasitose como tensão sexual de comédia romântica entre os dois personagens. Isso é compreensível por fatores específicos do primeiro filme, como: o beijo da mulher Venom, a separação de Eddie da sua namorada Anne (Michelle Williams) e o histórico do diretor Ruben Fleischer (Zumbilândia, Santa Clarita Diet, Caça aos Gângsteres) com filmes cômicos a partir de temas violentos. No entanto, eram tantas conveniências para uma trama “heróica”, num típico roteiro clássico que tenta se justificar para misturar uma ficção científica genérica com tons de comédia, que se torna o caso de uma “obra tão ruim que diverte” ou que “causa ofensa descartável”.


Venom: Tempo de Carnificina é diferente. Não busca dialogar com gêneros de cinema ou propor algo autoral, como Ruben tentou e foi barrado pela Sony Pictures. Dessa vez, Andy Serkis, conhecido por interpretar Gollum em Senhor dos Anéis e César em Planeta dos Macacos, parece que teve  uma boa conversa com o produtor de cinema inglês Jonathan Cavendish (desde Razão Para Viver, passando por Mowgli e chegando, finalmente, na sequência de Venom), para ter a oportunidade de um trabalho como diretor. 


São trabalhos por encomenda. De maneira geral, um sobre o pai do produtor, o outro uma concorrência direta com a Disney pela Warner e agora um mantenedor de bilheteria da Sony no universo do Homem-Aranha sem o Homem-Aranha. Por isso, essa sequência entrega um produto bem sucinto em termos de metragem e uma reciclada qualidade do que sobrou de Tom Hardy e da roteirista Kelly Marcel, a única que restou da equipe de roteiristas do primeiro filme.


Nesse formato ainda mais evidente de sacola de venda, o filme apresenta um fiapo de roteiro, com métodos didáticos que valorizam bem mais o vilão Carnificina como definidor dos rumos urgentes do entretenimento da história e complementos visuais confortáveis com toques de realismo e cartum. Nisso, Serkis e Beltrami – compositor queridinho das produtoras para trabalhos menos autorais em Hollywood e pegador de bucha, como descrevi no texto sobre a trilha sonora de Quarteto Fantástico de 2015– formam uma dupla subserviente para compor uma produção consumível nos ares mais simpáticos e diretos que um blockbuster precisa para vender muito… com o  pouco que se tem para contar. Não é lá grande coisa, afinal, a história que toma o encarceirado Cletus Kasady como guião narrativo que chama Eddie Brock para contar sua história no jornal, enquanto o Venom com instinto heroico de Protetor Letal atrapalha os planos do assassino para iniciar a narrativa.

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