“Lembrai, lembrai do cinco de novembro
A pólvora, a traição, o ardil
Por isso não vejo como esquecer
Uma traição de pólvora tão vil.”
V de Vingança foi publicado originalmente entre 1982 e 1983 em preto e branco pela editora britânica Warrior, mas não chegou a ser finalizado. Em 1988, incentivados pela DC Comics, Allan Moore e David Lloyd retomaram a série e a concluíram com uma edição colorida.
“É inacreditável! Todos estes quadros e livros. Eu nem imaginava que existissem coisas assim.” – Evey.
“Isso é de se esperar. Eles erradicaram a cultura. Jogaram fora como um maço de rosas mortas todos os livros, os filmes e a música.” – V.
A série completa foi republicada nos EUA pelo selo Vertigo da DC e no Reino Unido pela Titan Books. No Brasil, foi publicada em 1989 em cinco edições em cores pela editora Globo e mais tarde pela Via Lettera, em dois volumes em preto e branco; em 2006 teve uma edição especial pela Panini, em volume único, colorido e com material extra. Atendendo a pedidos, em 2012 a Panini relançou esta edição especial.
O enredo é situado num passado futurista (uma espécie de passado alternativo), numa realidade em que um partido de índole totalitária ascende ao poder, após uma guerra nuclear. A analogia com o regime fascista é inevitável: o governo tem o controle da mídia, há uma polícia secreta e campos de concentração para minorias raciais e sexuais - à semelhança do que escreveu Hannah Arendt no seu livro "Origens do totalitarismo", de 1951. Existe também um sistema de monitoramento mediante o uso de câmeras, nos moldes de 1984, de George Orwell, escrito em 1948, quando o CFTV ainda não existia tal como é hoje.
A história em quadrinho foi escrita no momento em que a Inglaterra, sob a liderança da primeira ministra Margaret Thatcher, estava implementando o modelo econômico neoliberal, ao mesmo tempo em que o chamado socialismo real entrava em colapso na U.R.S.S..
"V" (codinome do protagonista) tem uma postura anarquista.
Nesta obra, o caráter totalitário do Estado é mostrado, tal como escreveram vários teóricos anarquistas - Enrico Malatesta (nos seus Escritos revolucionários), Mikhail Bakunin, Pierre Joseph Proudhon, Max Stirner, Emma Goldman, Piotr Kropotkin e Henry David Thoreau.
“Não existe coincidência, apenas a ilusão de uma coincidência.”
A obra possui inúmeras referências à letra V. O nome de Evey não foi escolhido ao acaso, ele é composto por letras que fazem referência ao 5 (V). E é a quinta letra do alfabeto, V é cinco na numeração romana e Y é a 25ª letra do alfabeto (5×5). Quando um relógio marca 11:05 ele forma um V idêntico ao da graphic novel, a hora também coincide com a famosa data citada por V, 11 sendo o mês e 5 o dia, 5 de Novembro.
A história começa após o fim do conflito político, com os campos de concentração desativados e a população complacente com a situação, até que surge "V" — um anarquista que veste uma máscara estilizada de Guy Fawkes e é possuidor de uma vasta gama de habilidades e recursos. Ele então inicia uma elaborada e teatral campanha para derrubar o Estado, em grande parte inspirada na chamada Conspiração da Pólvora do início do século XVII, da qual Guy Fawkes participou.
A história começa com Evey Hammond, uma jovem que tenta sobreviver em um mundo opressivo. Ela é resgatada por V, um vigilante mascarado que se dedica a destruir o regime. V é um personagem complexo, com um passado marcado por torturas em um campo de concentração, o que molda sua visão de mundo e sua busca por vingança.
V inicia sua missão ao explodir o Palácio de Westminster, simbolizando sua revolta contra a opressão. Ao longo da trama, ele executa uma série de ataques contra figuras do governo, utilizando táticas de guerrilha e uma abordagem filosófica sobre liberdade e controle. V se comunica com a população através de mensagens provocativas e busca inspirar uma revolução.
Evey se torna uma peça central na história. Inicialmente, ela é uma vítima do sistema, mas, ao se envolver com V, passa por uma transformação. Ele a força a confrontar suas próprias crenças sobre liberdade e segurança, levando-a a uma jornada de autodescoberta.
Conforme a história avança, V revela suas motivações mais profundas e o impacto de seu passado. Evey, por sua vez, enfrenta seus medos e dilemas éticos, especialmente quando V a submete a testes extremos para prepará-la para um futuro de resistência.
O clímax da história culmina em um grande confronto entre os ideais de V e a realidade do regime. Evey, após passar por sua própria metamorfose, se torna uma figura chave na luta pela liberdade, representando a esperança de que a opressão pode ser superada.
A obra é rica em simbolismo e crítica social, abordando temas como o poder, a anarquia, a identidade e a moralidade. "V de Vingança" se destaca não apenas pela narrativa envolvente, mas também pela sua capacidade de questionar a natureza da liberdade e do controle, deixando uma marca duradoura na cultura pop.
O que aconteceu em 5 de novembro?
No dia 5 de novembro é comemorado o Dia Mundial do V de Vingança graças à influência que a obra teve na cultura de todo o mundo. A história por trás desta data é conhecida como a Conspiração da Pólvora , um ataque fracassado ao Parlamento Britânico em 1605 . Esse movimento ocorreu na noite de 4 para 5 de novembro. Treze católicos tentaram explodir o edifício do Parlamento do Reino Unido enquanto o rei protestante Jaime I estava lá dentro, com a intenção de restaurar a monarquia católica. O líder deste movimento foi Guy Fawkes (cujas máscaras são usadas por V), sendo Robert Cateaby um dos líderes mais importantes.
Os conspiradores alugaram um porão sob a Câmara dos Lordes de Londres, onde armazenavam grandes quantidades de explosivos. No entanto, o plano falhou. Fawkes foi encontrado pela segurança do Palácio de Westminster durante vigília na noite de 4 de novembro. Uma carta anônima notificou as autoridades. Guy foi condenado à morte por enforcamento em 5 de novembro de 1605 . No momento em que o conspirador ia ser executado, ele pulou do alto do cadafalso para quebrar o pescoço e evitar o sofrimento da asfixia. A popular máscara usada por V tornou-se um símbolo de anarquia e hacktivismo graças ao Anonymous . Sua influência na cultura pode ser vista em produções como Mr. Robot .
A história do quadrinho no filme
A história do filme "V de Vingança" (2005) e a graphic novel apresentam temas semelhantes, mas divergem em vários aspectos. No quadrinho, a narrativa é mais complexa e profunda, explorando o passado de V, suas motivações filosóficas e a transformação de Evey de maneira mais sutil. O tom é mais sombrio, e a crítica ao totalitarismo é mais extensa.
No filme, a história é simplificada para um público mais amplo, focando na relação entre V e Evey, com mais ênfase na ação e no romance. Algumas subtramas, como a exploração das consequências da opressão e a evolução do regime, são reduzidas. O final do filme também é mais otimista e redentor, enquanto a graphic novel deixa questões mais ambíguas sobre liberdade e sacrifício.
Ambas as versões discutem temas de resistência e identidade, mas a graphic novel oferece uma abordagem mais filosófica e crítica, enquanto o filme prioriza a emoção e a ação.