Zero Day (2025- ) - Crítica

 Análise de "Zero Day" – A Série Limitada de Suspense Político com Robert De Niro: Entre Entretenimento e Crítica Política

Em um cenário onde grandes estrelas de Hollywood, como Al Pacino, Harrison Ford e Joe Pesci, já começaram a ceder ao chamado do streaming e da televisão, Robert De Niro, um dos maiores ícones do cinema, demorou mais tempo que a maioria de seus colegas para fazer sua estreia nesse meio. Agora, ele finalmente se entrega a uma série limitada na Netflix, "Zero Day", um thriller político contemporâneo que traz um enredo cheio de reviravoltas e personagens complexos, mas também levanta questões sobre a forma como a política e o entretenimento se entrelaçam.

A Premissa de "Zero Day": De Niro Como Ex-Presidente e a Investigação de um Ataque Cibernético

A série coloca De Niro no papel de George Mullen, um ex-presidente dos Estados Unidos, que após sair da aposentadoria, é chamado para liderar uma comissão investigativa sobre um devastador ataque cibernético. O ataque, que ocorre nos primeiros minutos da série, causa o colapso temporário da rede elétrica do país, gerando instabilidade e terror entre a população, especialmente após uma mensagem ameaçadora enviada a todos os telefones celulares: “ISSO VAI ACONTECER DE NOVO”. Este evento resulta em milhares de mortes e coloca o governo americano em uma posição vulnerável. A presidente atual, Evelyn Mitchell (interpretada por Angela Bassett), recruta Mullen para liderar uma investigação de grande importância, mas politicamente tóxica.

O dilema central da história é o fato de que a comissão de Mullen tem poderes extraordinários, incluindo a capacidade de violar liberdades civis em sua busca por respostas. Ao mesmo tempo, Mullen enfrenta problemas cognitivos, o que complica ainda mais sua tarefa. A série se desenrola enquanto Mullen tenta manter sua integridade e descobrir a verdade antes que o ataque cibernético aconteça novamente, ao mesmo tempo que lida com as pressões políticas e pessoais.

Suspense e Conspiração: Entre o Realismo e o Absurdo

"Zero Day" consegue equilibrar um enredo sério e direto com momentos que beiram o absurdo. Em vários momentos, a série força os espectadores a questionarem: "Isso poderia realmente acontecer?" ou "Isso nunca aconteceria na realidade?" A produção faz um ótimo trabalho ao misturar tensões políticas contemporâneas e tecnologia com um enredo que desafia a verossimilhança. Essa linha tênue entre a suspensão de descrença e a realidade é uma das características mais intrigantes do programa.

Além disso, o trabalho de produção de Eric Newman (executivo de Narcos) e os roteiros de Noah Oppenheim (ex-presidente da NBC News) e Michael S. Schmidt (jornalista vencedor do Prêmio Pulitzer) garantem que o diálogo seja crispante, com uma fluidez de poder entre os altos escalões do governo. As conversas entre os personagens são inteligentes, rápidas e pontuadas com palavrões, criando um tom realista para as interações políticas. No entanto, a série peca por não explorar profundamente as consequências mais amplas dos problemas governamentais apresentados, especialmente no que se refere a temas como polarização política e a influência do dinheiro na política. Embora esses sejam tópicos relevantes, a forma como são tratados na série parece mais vaga e apartidária, sem realmente aprofundar as questões.

O Estilo e a Direção de Lesli Linka Glatter

A série se beneficia da direção de Lesli Linka Glatter, uma veterana da televisão conhecida por seu trabalho em séries como Homeland e The West Wing. Glatter traz uma abordagem sóbria e eficiente, mantendo o foco nos atores e no enredo. Seu estilo de direção é elegante, sem ser chamativo, e ela sabe como manter a tensão ao longo de cada episódio, mesmo que os diálogos cheios de informações possam sobrecarregar o espectador. A narrativa se move de maneira acelerada, com uma tensão crescente que mantém o público interessado, apesar de algumas falhas no desenvolvimento mais profundo dos personagens secundários.

Robert De Niro e o Elenco de Apoio

É impossível não destacar a atuação de Robert De Niro como George Mullen, o ex-presidente. A presença de De Niro na TV é um grande atrativo para os fãs, e ele não desaponta. Seu Mullen é convincente como um nova-iorquino espinhoso, decidido a fazer o certo, mesmo que isso envolva tomar decisões difíceis. De Niro entrega o personagem com credibilidade e uma presença autoritária, tornando fácil acreditar que ele seria o tipo de líder que poderia unir o país em tempos de crise.

O elenco de apoio também brilha com grandes nomes, como Jesse Plemons, que faz uma performance moralmente ambígua como Roger Carlson, o braço direito de Mullen; Lizzy Caplan como a congressista Alexandra Mullen, filha de George; e Joan Allen, que interpreta a esposa Sheila Mullen com a mesma bondade serena que ela trouxe a papéis anteriores. Connie Britton também faz uma excelente performance como a chefe de gabinete de Mullen, Valerie Whitesell, enquanto Matthew Modine brilha como o congressista Richard Dreyer.

Esses atores contribuem enormemente para elevar o nível da série, apesar de algumas falhas no roteiro, como diálogos e reviravoltas que podem parecer forçadas.

Entretenimento ou Relevância?

"Zero Day" se apresenta como um "cheeseburger gourmet" da Netflix – um produto bem feito, mas que não leva as questões que propõe totalmente a sério. Com uma estética de drama político e uma alma de livro de bolso de aeroporto, a série oferece o tipo de diversão que os fãs de thrillers políticos irão saborear, sem esperar uma análise profunda ou relevante das questões governamentais que ela levanta.

Com uma produção de alta qualidade, um elenco estelar e diálogos inteligentes, "Zero Day" é um thriller eficaz que mantém seu público entretido, mas não oferece respostas substanciais sobre os temas políticos que tenta explorar. Ao final, a série acaba sendo mais uma forma de entretenimento emocionante do que uma crítica política significativa.

 Um Thriller com Mais Estilo do Que Substância

Em resumo, "Zero Day" é uma série que brilha no quesito entretenimento e no aspecto visual, mas deixa a desejar quando se trata de substantividade política. Se você está buscando uma série intrigante e bem feita para se entreter, Zero Day pode ser uma ótima escolha. Mas se sua expectativa for de algo mais profundo ou importante, você pode se decepcionar. No final, a série se aproxima mais de um espetáculo de thriller político, onde o principal objetivo é divertir, sem se importar muito com as questões mais complexas que poderia abordar.

Se sua meta for apenas diversão e tensão política, sem se aprofundar muito nas discussões partidárias, "Zero Day" será uma experiência envolvente e empolgante.

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