Star Trek: Section 31 #1 - Crítica

 Star Trek: Section 31 – Emperor Born: Uma Imersão no Universo Espelho e no Passado de Phillippa Georgiou

Star Trek: Section 31 – Emperor Born, publicado pela IDW Publishing e escrito por Alyssa Wong, é uma obra que se destaca no vasto universo de Star Trek, expandindo um dos aspectos mais intrigantes da franquia: a história de Phillippa Georgiou, especialmente em sua ascensão como a temida Imperatriz do Império Terrano no Universo Espelho. Ao contrário das expectativas de muitos, que esperavam um thriller de espionagem mais alinhado ao tom sério e calculista da Seção 31, Emperor Born traz uma narrativa surpreendente que mescla intriga, brutalidade e uma visão de poder em um universo alternativo cheio de traições.

A história, centrada no passado de Georgiou, nos leva a explorar sua jornada através do Império Terrano, onde ela foi forjada em um caminho de violência e engano, até se tornar a figura implacável que muitos conhecem. A primeira impressão que se tem ao ler a obra é a diferença de abordagem narrativa em relação à expectativa criada pelo próprio filme da Seção 31. Emperor Born não se limita a ser uma mera prequela, mas sim um mergulho profundo na personagem e em seu desenvolvimento, através de um enredo construído de maneira meticulosa, onde cada reviravolta é cuidadosamente planejada.

A Ascensão de Phillippa Georgiou e Sua Conexão com San

Uma das principais atrações dessa história é, sem dúvida, a relação complexa entre Georgiou e San, um concorrente dentro do Império Terrano. Essa dinâmica de competição, que está longe de ser apenas um confronto de forças físicas, é construída de maneira a adicionar camadas ao enredo, permitindo que o leitor compreenda os dilemas internos e as decisões muitas vezes moralmente dúbias que Georgiou precisa fazer para garantir sua posição. Esse aprofundamento é uma das razões pelas quais a obra se torna mais do que uma simples prequela; ela traz um novo nível de complexidade à personagem e ao universo em que ela habita.

Alyssa Wong, conhecida por seu trabalho em Star Wars: Doctor Aphra, traz uma abordagem similar à de suas histórias anteriores, optando por uma narrativa progressiva, onde os momentos de tensão e de revelações são disseminados de forma que o leitor se mantém preso à leitura, sempre ansioso por descobrir qual será o próximo passo de Georgiou.

A Violência e a Estética do Universo Espelho

O aspecto visual de Emperor Born é outro ponto de destaque que não pode ser ignorado. Megan Levens, a artista responsável pelos desenhos, realiza um trabalho impressionante ao capturar com precisão a aparência de Michelle Yeoh e Miku Martineau como Phillippa Georgiou, tornando as cenas do quadrinho visualmente cativantes. Há momentos em que a arte realmente parece que estamos olhando para uma cena excluída do próprio filme da Seção 31, o que confere uma sensação de continuidade e autenticidade ao universo que a história busca expandir.

Além disso, a violência é tratada com uma cautela dramática, destacando-se não só no conteúdo, mas também na forma como é representada nas páginas. Uma das cenas mais impactantes ocorre logo no início, onde um professor do Império Terrano faz um monólogo sobre o que é necessário para se tornar Imperador, antes de usar uma espada para decapitar um aluno. A cor se torna uma ferramenta narrativa importante nesse momento. O trabalho de Charlie Kirchoff com as cores, que alterna entre tons de preto e vermelho, cria um contraste vívido com a figura de Georgiou, que permanece em cores normais, evidenciando sua singularidade e a posição que ela ocupará no futuro.

Essa escolha de cores também se repete em outras cenas, como o azul frio das salas de guerra do Império e as dunas arenosas do planeta onde os cadetes treinam, criando um ambiente que é tanto visualmente deslumbrante quanto emocionalmente envolvente. As cores se tornam quase uma personagem por si mesmas, ajudando a contar a história e a evocar os sentimentos apropriados para cada situação.

O Legado das Prequelas e o Impacto de Emperor Born

O formato de Emperor Born como um one-shot, em vez de uma minissérie, é uma decisão que deixa muitos leitores com um sabor amargo, já que a narrativa e os personagens apresentados são tão ricos que facilmente poderiam ter sido explorados em mais detalhes. Ao contrário de algumas prequelas que tentam simplesmente preencher lacunas de informações ou estabelecer conexões óbvias com a fonte original, Emperor Born se destaca ao expandir o Universo Espelho de maneira orgânica e interessante. Ao fazer isso, o quadrinho não apenas oferece um prelúdio à trama de Star Trek: Seção 31, mas também cria suas próprias tramas e mistérios que têm o potencial de crescer ainda mais.

Esse tipo de construção narrativa também me lembra da primeira tentativa da IDW em uma série de Star Trek, que se não apenas serviu como uma prequela dos filmes de reinicialização de J.J. Abrams, mas também expansão e enriquecimento do universo original. Emperor Born faz algo semelhante, ao explorar um lado do universo de Star Trek que é mais sombrio e imersivo, focando em uma personagem complexa e suas escolhas.

No final das contas, Star Trek: Section 31 – Emperor Born é um quadrinho essencial para aqueles que desejam explorar mais profundamente o Universo Espelho e o passado de Phillippa Georgiou. A narrativa meticulosa de Alyssa Wong, aliada à impressionante arte de Megan Levens e ao uso magistral das cores de Charlie Kirchoff, cria uma obra que é não apenas uma prequela interessante, mas uma expansão legítima e poderosa do universo de Star Trek. Se você é fã da franquia, certamente vai querer se perder nas páginas dessa história, que, de maneira surpreendente, supera muitas das expectativas que foram colocadas sobre ela.

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