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Rose (2025) - Crítica

 "Rose": Uma Jornada de Redescoberta e a Celebração da Vida

O filme "Rose", dirigido por Aurélie Saada, é uma obra cativante que explora a vida de uma mulher idosa, interpretada por Françoise Fabian, e sua jornada de redescoberta e reintegração com as alegrias mais simples da vida após a perda do marido. Ao longo de 1h42 de projeção, o filme revela, de forma sensível e com uma boa dose de humor, a importância de reavivar o prazer de viver, independentemente da idade.



O Início Trágico e a Introdução de Rose

O enredo de "Rose" se inicia de maneira arrebatadora, com a personagem principal, Rose Goldberg (Françoise Fabian), celebrando o aniversário de seu marido, Philippe, em uma festa cheia de música e energia. A cena começa com Rose cantando “Bei Mir Bist Du Schön”, uma música animada, com um toque de nostalgia, ao som de uma banda ao vivo. Mas a alegria da celebração é abruptamente interrompida quando Pierre, o filho de Rose, traz notícias devastadoras sobre o estado de saúde de seu pai, e logo a próxima cena nos apresenta a funeral de Philippe, o que marca a mudança drástica na vida de Rose.

O Luto e a Busca por Significado

Após a morte de Philippe, Rose entra em um profundo período de luto, marcado por suas longas reflexões e perda de interesse por muitas atividades cotidianas. Como muitos indivíduos mais velhos, Rose parece ter se afastado dos pequenos prazeres da vida, aqueles que, na juventude, proporcionavam momentos de felicidade e satisfação. Durante o luto, Rose deixa de se cuidar, não se arruma, não cuida mais do cabelo e vive uma vida de melancolia. Sua família fica preocupada e começa a sugerir diferentes formas de ajudá-la: seu filho Pierre propõe a contratação de uma empregada, Sarah, sua filha, sugere a procura por um terapeuta, enquanto Léon, o filho mais novo, indica um dia de spa.

Mas é após o encontro com Marceline (Michèle Moretti), uma mulher mais velha e irreverente, em uma festa, e um flerte com o dono de um café, Laurent (Pascal Elbé), que algo muda em Rose. A partir desse momento, uma chama de curiosidade pela vida se acende novamente nela, dando início a uma jornada de ressignificação e reapreciação das pequenas coisas da vida.

A Vida de Rose se Transforma: Um “Revolução Íntima”

O filme, descrito pela própria Aurélie Saada como uma "revolução íntima", ganha força ao mostrar como Rose, aos poucos, vai retomando o controle sobre sua vida. Ela começa a se permitir momentos de prazer e de liberdade, como dançar sozinha na cozinha, preparar doces para alguém especial, ou participar de conversas animadas ao redor da mesa de jantar. Ao fazer isso, Rose vai se afastando do luto e se aproximando daquilo que, por tanto tempo, deixou de lado: o prazer de viver.

Ao mesmo tempo, a vida dos filhos de Rose começa a desmoronar. Pierre, o filho conservador e casado, se vê envolvido com uma antiga amiga de escola; Sarah, ainda apaixonada por seu ex-marido, recebe notícias devastadoras sobre ele; e Léon, o filho problemático, enfrenta sérios problemas legais e fica cada vez mais dependente de sua mãe. Rose, então, se torna o ponto de referência para seus filhos, mas, ao mesmo tempo, é desafiada por suas próprias decisões, que começam a mostrar que ela não será mais a mulher submissa ao peso das expectativas familiares.

A Sensualidade da Vida: A Música e a Direção de Arte

Uma das maiores qualidades de "Rose" é sua habilidade de capturar a sensualidade da vida, como mostra a vibrante direção de Aurélie Saada. A cinematografia e a direção de arte são encantadoras, revelando apartamentos cheios de arte, fotografias, livros e relíquias pessoais que ilustram a complexidade interior dos personagens. A maneira como Saada utiliza a música – com canções em hebraico, árabe, yiddish e italiano – proporciona uma riqueza de emoções e dá a cada cena uma ritmicidade única, que se alinha com as mudanças de estado emocional de Rose.

Além disso, o guarda-roupa de Rose passa por uma transformação ao longo do filme, refletindo a sua renovação. No início, ela aparece mais retraída, sem interesse no que usa ou no que aparenta, mas, ao longo da trama, ela começa a se vestir com mais autoestima, escolhendo peças mais vibrantes e, ao final, aparece com um caftan verde água e saltos altos, representando a nova mulher que ela está se tornando.

Françoise Fabian: O Brilho de uma Performance Icônica

Embora o filme seja repleto de um elenco talentoso, a verdadeira estrela é Françoise Fabian, cuja interpretação de Rose é absolutamente fascinante. Fabian entrega uma performance cheia de sutilezas, onde seu sorriso enigmático é um dos maiores destaques. Ele parece carregar várias interpretações e emoções simultâneas, muitas vezes variando de desejo a curiosidade, de felicidade a nostalgia, tudo isso em um intervalo de segundos. A interpretação de Fabian é como a de uma Mona Lisa viva, capaz de expressar uma multiplicidade de sentimentos com apenas um olhar.

O Momento de Libertação e o Confronto com a Família

Em um dos momentos mais emocionantes do filme, Rose se encontra em uma cafeteria, onde, pela primeira vez em muito tempo, se permite conversar, dançar e se divertir com pessoas desconhecidas. Ela compartilha seus doces caseiros, fala sobre a Tunísia e se entrega a uma noite de alegria sem se preocupar com o futuro ou o passado. Quando perguntada sobre o que desejaria naquele momento, ela responde: "Para esta noite nunca terminar".

Porém, o filme culmina em uma cena tensa e reveladora, quando Rose acorda no chão após uma noite de bebedeira e se vê confrontada pelos filhos, que não aprovam seu novo comportamento. É neste ponto que Fabian, com seu sorriso mais frio e desafiador, diz a frase que define a essência do filme: "Meus amores, se isso assusta vocês, então eu vou parar. Mas eu não quero."

A Celebração da Vida em Sua Plenitude

"Rose" é uma obra que convida o espectador a refletir sobre a importância de celebrar a vida em todas as suas formas. O filme mostra que nunca é tarde para se permitir viver de maneira plena e sem arrependimentos. A revolução íntima de Rose é uma jornada de autodescoberta, uma celebração de momentos simples, mas profundamente significativos, como dançar, conversar, sorrir e aproveitar o presente.

Com a direção sensível de Aurélie Saada e a atuação brilhante de Françoise Fabian, "Rose" se destaca como um filme sobre a renovação, a libertação e a afirmação da vida, mesmo diante das dificuldades da idade, do luto e da expectativa familiar. É uma obra que celebra a beleza de ser vulnerável, de se abrir ao novo e de encontrar força nas pequenas coisas que nos fazem humanos.

"Rose" é um lembrete de que, não importa a idade, há sempre uma nova chance para abraçar a vida com intensidade e amor.

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