"Green and Gold": Uma Análise da Força e das Fraquezas de um Drama Rural
Em "Green and Gold", Craig T. Nelson entrega uma performance intensa e destemida como Buck, um agricultor de leiteiro de Wisconsin que está atolado em dívidas e preso à sua tradição e orgulho, mas que, no fim das contas, aposta literalmente sua fazenda para tentar salvá-la. O filme de Anders Lindwall, embora previsível e repleto de clichês, é sustentado pela força da atuação de Nelson, que faz mais do que o próprio roteiro sugere, conseguindo dar vida a um personagem que, à primeira vista, parece difícil de gostar.
Buck: Um Homem de Orgulho e Tradição
Buck é um personagem difícil, teimoso e totalmente imerso em um estilo de vida que parece ter parado no tempo. Nelson interpreta Buck com uma expressão estoica e uma presença sólida, apresentando um homem que valoriza acima de tudo sua fazenda, sua esposa Margaret (Annabel Armour) e sua neta Jenny (Madison Lawlor), mas que se recusa a evoluir. Ele prefere trabalhar com arado puxado por cavalo a utilizar equipamentos mais modernos e eficientes, e ignora qualquer tentativa de outros, inclusive sua família, de convencê-lo a atualizar suas práticas. O problema é que sua falta de flexibilidade o levou a um ponto de quase perder a fazenda, com uma dívida crescente e a ameaça de execução hipotecária por parte de um banqueiro implacável.
Nelson, como Buck, nunca suaviza as arestas de seu personagem. Buck não é um herói simpático e, ao contrário de muitos filmes desse gênero, o filme não tenta forçar uma identificação com o público. O personagem é orgulhoso até a exaustão e tem uma visão antiquada e limitada da vida, o que faz com que suas ações, por mais que dolorosas, se tornem compreensíveis dentro de sua visão de mundo, embora não sejam justificáveis.
A História de Jenny: A Luta Entre Tradição e Aspirações Pessoais
Ao lado de Buck, temos Jenny, sua neta, que representa uma geração diferente: sonhadora, musical e com grandes ambições, principalmente no mundo da música. Jenny deseja deixar o campo e seguir sua carreira de cantora e compositora, algo que Buck constantemente tenta desencorajar. Aqui, o filme apresenta um claro conflito geracional: Jenny, uma jovem cheia de potencial e energia, contra Buck, que prefere o conforto da rotina e a segurança da tradição.
A relação de Jenny com seu avô, embora cheia de tensão, também carrega uma certa nostalgia familiar e uma lealdade cega, refletindo a ideia de que, apesar das divergências, a família é um pilar importante. Quando Jenny encontra Billy (interpretado por Brandon Sklenar), um cantor em ascensão, sua jornada pessoal de querer se provar no mundo da música entra em contato com as inseguranças e o comportamento inflexível de Buck. A interação entre Jenny e Billy é uma das partes mais previsíveis do filme, com o enredo os colocando em um cenário onde as intenções de Billy são questionadas, gerando um romance incerto que adiciona uma camada de complexidade à trama.
A Trama e Seus Clichês: Entre o Familiar e o Previsível
O enredo de "Green and Gold" segue um caminho bastante previsível. O drama rural que se desenrola entre Buck e sua família toca em temas já bastante explorados, como o orgulho do fazendeiro, a resistência à mudança e o conflito entre a vida tradicional e os sonhos modernos. O filme faz uso da Lei de Chekhov’s Ladder, onde um item (no caso, uma escada) é excessivamente enfatizado para garantir que o público saiba que algo ruim acontecerá com ele em algum momento. Esse tipo de construção narrativa não é novidade para os amantes de filmes com temática rural, mas, em “Green and Gold”, o uso desses elementos torna a história fácil de prever e sem grandes surpresas.
O que poderia ser um drama pungente sobre os desafios de um agricultor em dificuldades e o desejo de um jovem por algo mais, acaba se tornando um filme previsível e recheado de clichês. A trama, por exemplo, envolve uma aposta que Buck faz com o banqueiro: se o Green Bay Packers vencerem o Super Bowl, ele terá mais um ano para salvar sua fazenda. Embora a aposta adicione um toque de suspense, é um truque narrativo que, no final, não faz muito para alterar a sensação geral de que estamos diante de algo já visto antes.
A Influência de Filmes Anteriores: Comparações Com o Passado
"Green and Gold" acaba se tornando uma mistura de um filme de TV estilo Hallmark com um drama rural de festivais de cinema, reminiscente de produções da década de 1980 e 1990. O filme tenta se distanciar de ser um simples “salve a fazenda”, mas, ao buscar inspiração em filmes como "It’s a Wonderful Life" e "Field of Dreams", o filme termina abraçando um final agressivamente otimista e reconfortante, o que gera uma sensação de falta de autenticidade no desenvolvimento da trama.
Ao final, a película se perde em excessos sentimentais, com um desenlace tão shamelessly uplifting (exageradamente edificante) que chega a parecer artificial. O fato de Buck, um personagem tão cínico e resistente à mudança, se ver envolvido em uma reviravolta tão otimista parece forçado, quase como se ele mesmo estivesse assistindo a tudo pela TV e trocando de canal.
A Direção e o Elenco: A Força de Craig T. Nelson
A direção de Anders Lindwall não é particularmente inovadora, mas ele se destaca ao capturar a vida rural com uma atenção cuidadosa aos detalhes do cotidiano e à autenticidade das emoções. No entanto, o filme nunca consegue escapar dos limites de seu roteiro previsível. O elenco, liderado por Craig T. Nelson, é o que realmente eleva a produção. Nelson entrega uma atuação sólida e multifacetada que coloca todo o peso do filme sobre seus ombros, mesmo quando o material à sua disposição não é dos mais inspiradores.
Brandon Sklenar também se destaca em seu papel como Billy, mas seu personagem, como o de Jenny, sofre de uma caracterização pouco desenvolvida. As interações entre Jenny e Billy, embora necessárias para o arco emocional do filme, se tornam um tanto monótonas e pouco envolventes.
Um Filme Previsível, Mas com um Grande Desempenho
Em resumo, "Green and Gold" é um filme que, apesar de seus clichês e previsibilidade, é salvo pela excelente performance de Craig T. Nelson. Ele entrega um personagem complexo e difícil, mas ao mesmo tempo genuíno, que oferece uma narrativa emocional que toca nos temas de tradição, mudança e sacrifício. Embora o filme não consiga evitar a tentação de apelar para soluções fáceis e um final excessivamente otimista, a força de sua atuação principal e o retrato sensível da vida rural ajudam a dar substância ao que, de outra forma, seria uma produção genérica.
"Green and Gold" pode não ser o filme mais inovador ou surpreendente, mas é uma obra que vale a pena ser vista se você está em busca de uma história simples e emocionalmente envolvente, impulsionada por uma atuação impecável de Craig T. Nelson.