The Stone of Madness é um jogo que, à primeira vista, pode parecer semelhante a outros títulos de táticas furtivas, como Desperados III e Shadow Gambit: The Cursed Crew. Com sua perspectiva top-down e personagens especializados que devem se esquivar de cones de visão de inimigos, o jogo compartilha muitas características com esses exemplos do gênero. No entanto, à medida que os jogadores se aprofundam no jogo, a desenvolvedora The Game Kitchen começa a revelar uma série de idiossincrasias únicas, destacando-se especialmente pelo modo como explora a desesperança e desempoderamento de seu cenário impiedoso: um monastério espanhol do século XVIII, que também serve como um asilo para loucos.
O cenário e os personagens
Em The Stone of Madness, você controla um grupo de inmates (prisioneiros) que estão tentando desvendar os segredos obscuros do monastério. Eles devem se infiltrar nas instalações, evitando guardas armados, frades fofoqueiros e até fantasmas que aparecem durante o ciclo de um dia limitado. Ao começar cada dia, você escolhe três dos cinco prisioneiros disponíveis, cada um com habilidades únicas e um design visual marcante, inspirado em Don Bluth e em O Nome da Rosa. Por exemplo, Alfredo, um dos prisioneiros, carrega uma lanterna de óleo que permite explorar rastros e encontrar objetos escondidos. Ele também pode se disfarçar de padre, o que o permite circular por áreas onde outros personagens precisam ser discretos. Já Amelia, uma criança, pode armar armadilhas e se esgueirar por espaços estreitos, como barras de prisão e túneis.
O sistema de sanidade e interações entre personagens
O que realmente distingue The Stone of Madness de outros jogos de furtividade tática é o sistema de sanidade e como ele influencia as interações entre os membros do grupo. Cada personagem tem uma medição de sanidade, que começa a cair quando eles enfrentam seus maiores medos. Isso requer que o jogador não apenas conheça as habilidades individuais de cada personagem, mas também suas fraquezas psicológicas. Por exemplo, Eduardo, o prisioneiro mais robusto, tem um medo intenso da escuridão, o que o torna mais vulnerável em áreas mal iluminadas. Ele se sai melhor ao lado de Alfredo, que pode usar sua lanterna para iluminar o caminho. Já Leonora, uma personagem violenta e ágil, tem pavor de fogo, o que cria uma dinâmica interessante entre os membros da equipe.
Além disso, a natureza dos personagens vai além das habilidades e medos. Alfredo e Leonora são os únicos que podem ler, enquanto Agnes, uma bruxa idosa, não pode escalar escadas ou cordas, e Eduardo, o mudo, não pode interagir com os outros. Esse conjunto complexo de limitações cria uma camada estratégica adicional, exigindo que o jogador analise e adapte a composição do grupo de acordo com as tarefas a serem realizadas.
Tensão e o custo das ações
A progressão em The Stone of Madness é difícil de ser alcançada e exige um controle preciso do tempo e das ações. Cada movimento pode ser crucial, e até mesmo uma simples ação de procurar por suprimentos em uma caixa pode expor o personagem ao risco de ser detectado. Além disso, a limitação de escolher apenas três personagens por vez cria uma sensação de restrição que força o jogador a ponderar sobre qual personagem é mais adequado para cada tarefa. O jogo não permite que você mude a composição do grupo até o final do dia, então é necessário avaliar cuidadosamente quando avançar e quando esperar por uma oportunidade mais adequada.
Esse limite de personagens frequentemente pode interromper o ritmo do jogo, fazendo com que você passe um tempo significativo buscando suprimentos ou criando itens durante os intervalos noturnos. Nesse período, você pode também recuperar saúde e sanidade, melhorar habilidades ou adquirir dinheiro. Embora esses momentos possam ser frustrantes, eles também reforçam a proposta do jogo de abraçar a falha como parte da experiência. Ao contrário de outros jogos de táticas furtivas, como Shadow Gambit, que implementam a mecânica de salvar e carregar constantemente, The Stone of Madness adota um sistema de salvamento automático no final de cada dia. Se você falhar, será preciso reiniciar o dia manualmente, o que adiciona uma camada de tensão e desafio ao jogo.
A importância da falha e do aprendizado incremental
Ao contrário de outros jogos de táticas furtivas, que muitas vezes recompensam o jogador por evitar falhas, The Stone of Madness adota uma abordagem mais permissiva e até necessária em relação à falha. Ser detectado ou capturado é uma parte integral do progresso no jogo. Quando um personagem é descoberto, as consequências podem variar: Alfredo, por exemplo, tem poucas chances de escapar antes de ser reencarcerado, enquanto Amelia é tratada de maneira diferente — os soldados armados a perseguem, mas não atiram nela, ao contrário dos outros prisioneiros. Essas diferenças de tratamento ao serem capturados incentivam os jogadores a pensarem em formas criativas de utilizar a falha como uma oportunidade para avançar de maneira indireta.
A jogabilidade, portanto, é altamente dependente de perseverança e de pequenos avanços, com os jogadores precisando encontrar estratégias alternativas quando uma situação parece impossível. Em vez de recompensar o jogador por perfeição em cada movimento, o jogo valoriza o aprendizado incremental, onde cada pequena vitória conta e a progressão é construída passo a passo, através de tentativa e erro.
The Stone of Madness se destaca por sua abordagem única dentro do gênero de jogos de táticas furtivas. Ao colocar o foco nas fraquezas psicológicas dos personagens, no sistema de sanidade e na dinâmica de grupo onde as limitações e medos de cada prisioneiro afetam o progresso, o jogo oferece uma experiência rica e desafiadora. O cenário sombrio de um monastério espanhol do século XVIII e as interações entre os prisioneiros criam uma atmosfera tensa e fascinante, que exige do jogador tanto habilidade tática quanto capacidade de adaptação diante dos desafios. Se você é fã de jogos que desafiam a estratégia e a resiliência, The Stone of Madness oferece uma proposta única e imersiva, com uma jogabilidade que privilegia o aprendizado incremental e a superação das falhas.