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Presence (2025) - Crítica

 Análise do Filme "Presence": Uma Experiência Cinemática Inovadora Sob a Perspectiva de um Fantasma

A presença de uma câmera muda tudo. Esse conceito, já amplamente explorado no cinema, assume um novo significado no mais recente experimento cinematográfico de Steven Soderbergh, "Presence". Neste filme, o diretor não só se destaca pela inovação técnica, mas também pela maneira como trabalha o gênero de terror, misturando os elementos clássicos de uma casa assombrada com uma perspectiva única: a de um fantasma. O resultado é uma experiência sensorial onde a câmera se torna mais do que uma ferramenta de registro, mas uma presença que observa sem ser notada.

A Técnica e a Perspectiva de um Fantasma

"Presence" se passa inteiramente dentro de uma casa centenária, imersa em mistério e com uma atmosfera única. A história não se move muito além dos limites físicos dessa casa, sendo que a cena mais afastada é apenas a visão ansiosa da janela que observa a rua. O ponto de vista é contínuo, com planos sequência, sem cortes, e a câmera segue os personagens pela casa, observando-os de lugares inusitados, como armários e cantos de salas. O filme adota uma abordagem de primeira pessoa, com a câmera movendo-se como se fosse o próprio espírito presente na casa, criando uma sensação de imersão.

A escolha por takes longos e contínuos e a ausência de planos reversos cria uma atmosfera única, que mais parece um jogo de realidade virtual ou um filme de found footage. No entanto, ao contrário de um filme de terror convencional, onde a câmera é um observador ativo, em "Presence", a câmera representa os olhos de um espectro que ronda a casa. Isso confere ao filme uma qualidade intrigante, mas ao mesmo tempo, desafiadora, pois os elementos que costumam gerar medo e tensão acabam sendo reinterpretados sob essa nova ótica. O fato de o próprio Soderbergh atuar como operador de câmera mostra a confiança no experimento e a coesão da equipe.

A História: Uma Família Assombrada e a Adolescente Sensitiva

A trama começa de maneira tranquila, com a câmera deslizando por entre as salas vazias da casa, antes de se focar em Cece (interpretada por Julia Fox), uma corretora de imóveis que faz o primeiro contato com os futuros moradores. A família que compra a casa é composta por Rebekah (Lucy Liu), Chris (Chris Sullivan), seus filhos Tyler (Eddy Maday) e Chloe (Callina Liang). A transição entre as cenas se dá com suavidade, e a história começa a explorar a dinâmica dessa família aparentemente comum. O que se destaca logo de início é a personagem Chloe, uma adolescente emocionalmente turbulenta, cujo comportamento é reflexo de uma perda recente e da negligência familiar.

Como em muitas histórias de casas assombradas, adolescentes emocionalmente vulneráveis são frequentemente retratados como os principais percebedores do sobrenatural. Chloe, que lida com a dor da perda de sua amiga e com o distanciamento dos pais, é a única que percebe a presença do espírito. Sua capacidade de sentir a presença do espírito na casa a torna uma personagem central, pois ela começa a questionar a realidade ao seu redor, enquanto lida com seus próprios conflitos internos e com a ausência de apoio da família.

A Virada na Trama: Entre o Terror e a Distração

Embora a premissa inicial seja bastante sólida, com uma atmosfera carregada de tensão e mistério, o filme acaba se desviando para um território mais peculiar e, por vezes, difícil de seguir. O roteirista David Koepp introduz personagens e situações que buscam criar uma sensação de tensão, como o surgimento de Ryan (West Mulholland), um jovem atleta de comportamentos duvidosos, que traz consigo um plano perturbador para Chloe. No entanto, essa subtrama acaba comprometendo a fluidez da narrativa e soa mais forçada do que organicamente integrada ao enredo.

A presença de Ryan, um antagonista claramente mal-intencionado, desvia o foco do que poderia ser uma exploração mais profunda do sobrenatural para um drama de relacionamento familiar. Embora as atuações de Chris Sullivan e Callina Liang sejam notáveis ao dar vida a personagens mais verossímeis em meio a esse turbilhão de eventos desconexos, o filme perde parte de sua tensão ao se desviar da premissa original.

A Falta de Medo: O Desafio de Criar Tensão Sob a Perspectiva de um Espírito

"Presence" é, sem dúvida, uma abordagem nova e ousada do gênero de filmes de terror, mas acaba se mostrando um pouco inconclusivo no que tange ao fator medo. A ideia de um filme onde o espectador está vendo tudo através dos olhos do próprio espírito é fascinante em termos conceituais. No entanto, essa perspectiva reduz a possibilidade de sustos tradicionais que um filme de terror normalmente oferece, como a famosa cena de uma sombra no fim de um corredor escuro. O filme opta por uma experiência mais introspectiva e psicológica, onde o terror não se encontra em elementos externos, mas sim no próprio ambiente e nas emoções das personagens.

A ausência de uma construção tradicional de tensão, como a expectativa para ver o fantasma, tira parte do encanto que um filme de casas assombradas pode oferecer. Mesmo assim, a atmosfera gerada pela cinematografia e o design de som ainda mantém uma qualidade inquietante, mesmo que a tensão não seja sustentada de forma eficaz ao longo de toda a obra.

Uma Experiência Cinemática Interessante, Mas Imperfeita

"Presence" é uma experiência cinematográfica que merece ser vista, especialmente para aqueles que buscam algo diferente no gênero de terror. Soderbergh e sua equipe criaram uma abordagem única, utilizando uma técnica inovadora que mistura elementos de filmes de terror com uma imersão quase interativa, onde o espectador se coloca no lugar do espírito. No entanto, a transição entre o terror psicológico e os elementos dramáticos da história acaba comprometendo o impacto da narrativa, e o filme não consegue gerar a tensão desejada.

Com uma duração de 1h25m e classificado como R, "Presence" é mais um exercício de estilo de Steven Soderbergh do que um filme convencional de terror. Embora tenha momentos de grande originalidade, especialmente na construção da perspectiva do fantasma, o enredo se perde em subtramas desnecessárias e não consegue manter o público envolvido emocionalmente até o final. Mesmo assim, é um filme interessante e inovador, que pode atrair os entusiastas do cinema experimental e os fãs de horror em busca de algo mais intelectual.

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