Gunslinger Spawn #39: Um Cowboy do Inferno em Ação com Estilo e Impacto Visual
Quando falamos de heróis com origem sobrenatural e histórias que misturam o velho oeste com elementos do além, poucos conseguem capturar a essência de um anti-herói do jeito que Gunslinger faz. A edição Gunslinger #39, escrita por Todd McFarlane e ilustrada por Carlo Barberi, leva nosso protagonista, um cowboy amaldiçoado, para um novo confronto, cheio de ação, mas com uma história que não se aprofunda tanto quanto poderia. No entanto, o que a história perde em profundidade, compensa em estilo e ritmo, criando um espetáculo visual digno de ser apreciado pelos fãs da série.
O Uso de Cães Policiais e a Perseguição Sobrenatural
O início de Gunslinger #39 nos apresenta a uma situação de perseguição policial aparentemente comum: uma unidade K-9 é chamada para rastrear um criminoso perigoso. Tudo parece muito lógico à primeira vista, mas logo percebemos que o cenário é muito mais complexo do que simples policiais caçando um criminoso. O homem que estão tentando capturar não é de carne e osso comum — ele vem de outro plano, outro reino. O cheiro dele, uma característica peculiar, é o que os cães tentam seguir. No entanto, a natureza sobrenatural desse cheiro torna a tarefa quase impossível, criando um confronto de dimensões que fogem ao entendimento humano.
À medida que os cães se aproximam, suas reações são quase de uma outra realidade: seus olhos brilham em vermelho, fazendo-os lembrar mais de cães do inferno, ou "hellhounds", do que de animais comuns. A ideia de que os cães, além de não conseguirem entender a situação, também enfrentam uma ameaça além de sua capacidade, traz um tom de tensão ao enredo. E, como seria de se esperar, as autoridades não estão preparadas para lidar com o que está acontecendo, gerando um clima de confusão e caos.
O Gunslinger: Herói do Inferno em Ação
O protagonista, o Gunslinger, está em uma fuga constante, enfrentando tanto os cães quanto os policiais. Ele sabe que não pode matar os policiais; sua estratégia é de escapar, jogando os cães para uma direção enquanto ele segue em outra. Esse uso de táticas de guerrilha e sua experiência em situações de vida ou morte são evidentes ao longo da história. McFarlane, ao narrar uma trama de drama sobrenatural simples, entrega ao Gunslinger um papel de herói do além, que, mesmo sendo perseguido, mantém uma postura fria e calculista. A sensação de perigo e ação constante permeia a trama, mas a falta de vulnerabilidade real do Gunslinger é um dos pontos fracos do enredo. Embora ele esteja em fuga e em constante ameaça, é difícil acreditar na real vulnerabilidade do personagem, o que diminui o impacto emocional da história.
A Simplicidade do Enredo e o Ritmo Visual
A história escrita por McFarlane é, como mencionado, relativamente simples e direta. Não há grandes reviravoltas ou momentos de grande revelação. A narrativa gira em torno de um conflito de perseguição com um toque sobrenatural, sem se aprofundar demais nas complexidades do personagem ou nos motivos por trás de suas ações. Apesar disso, o que falta em profundidade, o enredo compensa com ação pura e simples, uma experiência de leitura que, apesar de não ser profundamente envolvente, consegue manter o ritmo e a emoção.
O protagonista, um cowboy amaldiçoado, enfrenta suas ameaças de maneira quase mítica, em um espetáculo visual que carrega um certo atemporalismo, com ecos de heróis clássicos que atravessam gerações. O ritmo e a ação do Gunslinger são suficientes para manter o interesse do leitor, mesmo que a história em si não ofereça algo muito novo ou profundo. A luta constante contra forças que ele não compreende completamente é o que mantém a tensão e a energia da trama.
A Arte de Carlo Barberi: Uma Homenagem ao Cinema Western
A arte de Carlo Barberi é um dos pontos altos desta edição. Barberi mantém a ação fechada e intimista, com muitos close-ups que capturam as emoções e tensões dos personagens. Esses detalhes são um tributo evidente ao estilo cinematográfico de cineastas de westerns clássicos, como Sergio Leone, famoso por suas cenas de tensão visual e os primeiros planos de seus personagens. Embora esse tipo de abordagem seja um tanto clichê dentro do gênero, ele funciona de maneira eficaz, ajudando a construir o clima de tensão e conflito.
Há também momentos de grande impacto visual, quando a ação se expande em páginas mais amplas e impressionantes. Alguns momentos mais intensos, especialmente nas cenas de neve, conseguem ser visualmente arrebatadores, trazendo uma sensação de sobrecarga visual que combina bem com a ação e a atmosfera do confronto.
A Falta de Vulnerabilidade e o Protagonista Imbatível
O maior desafio para o leitor de Gunslinger #39 é a sensação de falta de vulnerabilidade do protagonista. O Gunslinger é um personagem poderoso, um tipo de desperado sobrenatural que é praticamente imbatível. Ele está em uma fuga constante, mas, devido à sua natureza e habilidades, é difícil sentir que ele está realmente em risco. McFarlane tenta criar uma sensação de perigo, mas o Gunslinger continua sendo um personagem forte e resistente, sem muita fraqueza para tornar a luta mais dramática ou empática.
Esse fator cria uma desconexão emocional com o protagonista. Enquanto o Gunslinger segue sua jornada com um olhar determinado, as ameaças à sua vida não parecem ter o peso necessário para fazer o leitor se preocupar genuinamente com seu destino. A falta de uma vulnerabilidade mais palpável é uma questão central para qualquer história de heroísmo, e, no caso de Gunslinger, isso limita a profundidade da conexão emocional com a narrativa.
Ação e Estilo Visual em Primeiro Lugar
Em resumo, Gunslinger #39 é uma edição que, embora careça de grandes complexidades narrativas ou profundidade de personagem, se destaca por sua ação eletrizante e seu visual cinematográfico. Todd McFarlane entrega uma história simples e direta, mas que consegue manter o leitor interessado pela ação constante e pela figura imponente de seu herói amaldiçoado. Carlo Barberi, com sua arte cheia de tributos ao cinema western, entrega um espetáculo visual que compensa as falhas narrativas e traz energia à trama.
Se você é fã de histórias de ação com heróis sobrenaturais, perseguições intensas e um estilo visual forte, Gunslinger #39 certamente proporcionará uma leitura divertida e visualmente impactante, mesmo que não seja a edição mais profunda ou envolvente da série.