“Going Dutch” – Uma Análise do Novo Comédia Militar de Fox
Após o cancelamento apressado de Enlisted, uma série subestimada que também se passava no ambiente militar, Fox tenta novamente explorar o gênero de sitcoms militares com a premiere de "Going Dutch". Ao contrário de seu antecessor, que abordava as interações de militares em uma base americana, Going Dutch leva a narrativa para um posto militar na Holanda, trazendo uma rica mistura de humor relacionado ao choque cultural, as peculiaridades europeias e a dinâmica de uma família desestruturada.
Criada por Joel Church-Cooper (conhecido por seu trabalho em Brockmire), a série conta com Denis Leary, também produtor executivo ao lado de seu filho Jack Leary, no papel de Coronel Patrick Quinn, um oficial de carreira deslocado para a base militar de Stroopsdorf, o que ele chama de “a base militar menos importante do mundo”. Esta comédia usa a tensão entre o personagem e a cultura local para criar situações engraçadas, enquanto explora a relação distante entre Patrick e sua filha Maggie, interpretada por Taylor Misiak.
A Dinâmica de Pai e Filha: O Coração da Série
A premissa de Going Dutch gira em torno da relação de Patrick Quinn e sua filha Maggie, uma oficial do exército e defensora da forma mais tranquila de viver e trabalhar em Stroopsdorf. Ao contrário de seu pai rígido e brutalmente honesto, Maggie adota uma abordagem mais suave e adaptada ao estilo de vida europeu — com direito a picking de lavanda, disco silencioso e até uma abordagem mais relaxada para os costumes do trabalho militar. Essa dinâmica entre pai e filha é explorada de forma contínua ao longo dos episódios, com Patrick se tornando cada vez mais um peixe fora d'água enquanto lida com o comportamento descontraído de sua filha e a natureza descomplicada do posto.
No entanto, enquanto Maggie é uma presença central, ela não está completamente desenvolvida como protagonista. Muitas vezes, sua caracterização fica ofuscada pela forte presença de Patrick, que assume o centro das atenções por suas interações hilárias e muitas vezes desastrosas com a cultura holandesa e os outros militares. Embora Maggie mostre sinais de ser mais do que apenas uma defensora da cultura local — com seu histórico de West Point e ambições políticas — sua jornada pessoal parece ainda um pouco subdesenvolvida em relação ao peso dado a seu pai.
Patrick Quinn: A Figura Central e Seus Conflitos Culturais
Interpretado por Denis Leary, Patrick é um personagem que se encaixa perfeitamente no estereótipo de homem macho com forte senso de patriotismo, mas completamente desajustado em um ambiente militar diferente do que está acostumado. Sua rudeza e impaciência com a abordagem mais descontraída dos militares europeus são o motor de muitos dos momentos cômicos da série. Em suas interações com outros personagens como Sargento Dana Conway (Laci Mosley) e Corporal Elias Papadakis (Hal Cumpston), Patrick cria situações tensas que resultam em conflitos culturais e cenas de humor físico. Seja desdenhando de um dos soldados por andar de bicicleta ou criticando os gastos com vinhos finos no comissário, Patrick é constantemente um peixe fora d'água, e isso gera algumas das melhores piadas da série.
Leary, já acostumado a papéis de personagens ranzinzas e explosivos, não tem dificuldade em trazer Patrick à vida, e sua performance é eficaz ao entregar os contrastes de um homem que, embora ainda imerso no mundo de comando militar, se vê forçado a lidar com uma realidade completamente nova. Sua transição de líder de batalhas para um simples “administrador de base” está longe de ser fácil ou rápida, e sua luta interna é muitas vezes um alicerce de comédia.
As Interações e a Química entre os Personagens
O show, que oferece uma premissa de choque cultural, se destaca não apenas na criação de situações engraçadas, mas também nas interações genuínas entre os personagens. Laci Mosley, como Sargento Conway, traz uma presença de força que ajuda a equilibrar as interações de Patrick com outros membros da equipe militar. Ao mesmo tempo, Hal Cumpston, interpretando Corporal Papadakis, adiciona uma camada de imprevisibilidade e leveza ao lidar com as críticas de Patrick sobre seu estilo de vida europeu. Cada personagem tem seu papel bem definido dentro da narrativa, ajudando a explorar tanto o choque cultural quanto o crescimento emocional de Patrick e os que o cercam.
Tensões Com a Política e Comentários Sociais
Embora Going Dutch seja uma comédia leve, ela não deixa de tocar em questões importantes e provocativas, particularmente sobre o papel dos Estados Unidos no cenário global. A série não tenta ser uma crítica política explícita, mas há momentos, como o comentário de Patrick sobre missões militares dos EUA, que geram uma reflexão mais profunda. Quando Maggie diz: “Eu estava tão comprometida em completar a missão que não pensei nas consequências”, e Patrick responde: “Isso é como toda missão do Exército dos EUA desde 2001!”, a série insinua críticas à história de política externa dos Estados Unidos, o que pode gerar controvérsias ou conversas entre os espectadores. No entanto, esse tipo de comentário não parece ser o ponto central da série, mas apenas um detalhe sarcástico dentro de um tom mais amplo de humor.
Rumo à Maturidade: O Potencial Futuro da Série
Embora Going Dutch tenha potencial, ela ainda está em processo de encontrar seu tom perfeito e seu foco emocional. O relacionamento entre Patrick e Maggie é o coração da série, mas como já mencionado, a personagem de Maggie ainda precisa ser mais bem explorada. Sua dualidade entre ser uma defensora da base holandesa e suas ambições de uma carreira mais alta não está completamente resolvida, e a série ainda precisa de alguns episódios para que ela se torne uma protagonista mais independente.
Além disso, como muitas comédias, Going Dutch pode precisar de um tempo para maturar. Há uma sensação de que os primeiros episódios, embora eficazes em provocar risos, ainda não têm a profundidade emocional que poderia ajudar a série a se destacar entre outras sitcoms militares ou até comédias em geral. No entanto, o tempo de desenvolvimento pode ser o suficiente para que o show se encontre e produza episódios mais emocionalmente ressonantes.
Um Bom Começo com Potencial para Crescer
Em sua estreia, Going Dutch oferece uma premissa única e uma performance cativante de Denis Leary, criando uma base sólida para o futuro da série. Apesar de suas falhas em desenvolver completamente todos os personagens e temas, a série tem um grande potencial de crescimento. Com o tempo, ela pode se tornar uma comédia mais equilibrada e emocionalmente envolvente, explorando não só o choque cultural e a dinâmica familiar, mas também questões mais profundas sobre a vida militar e as relações interpessoais. Para os fãs de sitcoms militares e humor inteligente, Going Dutch é uma série que vale a pena acompanhar, especialmente à medida que vai evoluindo com o tempo.