“Back in Action”: Uma Análise Crítica da Retorno de Cameron Diaz ao Cinema
É sempre um prazer ver atores icônicos retornando ao grande écran após uma longa ausência, e a volta de Cameron Diaz após uma década de hiato certamente desperta interesse. No entanto, seu novo filme, "Back in Action", lançado pela Netflix, deixa a desejar em vários aspectos, fazendo com que esse retorno, ao invés de ser comemorado, se torne uma experiência desapontadora. Embora tenha seus méritos, o filme parece se perder no meio de uma fórmula desgastada e previsível, sem conseguir aproveitar o potencial do reencontro de Diaz e Jamie Foxx.
O Encontro de Vidas Passadas
O que mais chama atenção em "Back in Action" é o fato de Cameron Diaz e Jamie Foxx estarem novamente juntos após o remake de "Annie" (2014), onde Diaz interpretou a vilã Miss Hannigan e Foxx o figura do Daddy Warbucks. No entanto, a química que poderia existir entre os dois parece estar ausente aqui. O filme, dirigido e coescrito por Seth Gordon, mistura elementos de ação e comédia, mas falha em construir uma dinâmica convincente entre os protagonistas.
O enredo do filme gira em torno de Emily (Diaz) e Matt (Foxx), dois ex-espiões que, após uma missão fracassada no passado, tentam levar uma vida tranquila e suburbana com seus filhos. Porém, suas vidas pacatas são interrompidas quando descobrem que foram comprometidos por uma ameaça do passado, obrigando-os a voltar à ação. A premissa é simples e já bastante familiar no gênero de espionagem, e isso já coloca o filme no território das comédias de ação previsíveis, mas "Back in Action" tenta se destacar ao explorar a tensão entre pais e filhos, principalmente a relação com a filha adolescente Alice (interpretada por McKenna Roberts), que é cativante nas cenas em que interage com seus pais, mesmo que o enredo não vá muito além da superficialidade.
A Superficialidade da Fórmula
"Back in Action" adota uma abordagem bastante superficial, como muitas comédias de ação de Hollywood nos dias de hoje. O filme é saturado de sequências CGI excessivas e batalhas exageradas que acabam ofuscando qualquer tentativa de profundidade emocional ou desenvolvimentos mais complexos de personagens. Isso é algo que vem se tornando cada vez mais comum no gênero, o que resulta em filmes que oferecem entretenimento momentâneo, mas carecem de substância. O filme até tenta, ao longo de sua narrativa, sugerir que existe uma tensão emocional entre os protagonistas e seus filhos, especialmente nas interações com a adolescente Alice e o filho mais novo Leo (interpretado por Rylan Jackson). No entanto, esses momentos são diluídos por piadas forçadas e diálogos vazios que acabam desvirtuando o que poderia ser um aspecto genuinamente interessante da história.
A Falta de Química Entre Diaz e Foxx
Um dos maiores problemas de "Back in Action" é a falta de química entre os protagonistas. Cameron Diaz e Jamie Foxx são, indiscutivelmente, dois dos atores mais carismáticos de Hollywood, e já mostraram sua química em filmes anteriores como o drama esportivo "Any Given Sunday" (1999), dirigido por Oliver Stone. No entanto, neste filme, mesmo com seu talento individual, os dois parecem estar em planetas diferentes, sem qualquer conexão real nas cenas que deveriam ser mais íntimas ou emocionais. A principal razão para isso é a escrita fraca do roteiro, que constantemente os coloca em situações de bickering (discussão constante) ou apenas os faz se engajar em diálogos explicativos, sem dar espaço para um desenvolvimento mais natural de suas interações. A falta de interação genuína entre eles faz com que os momentos que deveriam ser mais intensos ou engraçados simplesmente não funcionem.
O Uso de Tropes Exaustivos
Outro ponto que faz "Back in Action" se destacar pela sua previsibilidade é o uso de tropes cansativos que já foram explorados até o limite em outras produções do gênero. Um exemplo disso é o uso de músicas irônicas durante cenas de ação, um recurso que, embora tenha sido eficaz em outros filmes, já se tornou um clichê irritante. Canções como "At Last" de Etta James durante uma troca de tiros, "Papa’s Got a Brand New Bag" de James Brown durante uma luta com vilões e, especialmente, "Ain’t That a Kick in the Head" de Dean Martin, enquanto os personagens estão literalmente dando “kicks” na cabeça dos inimigos, só conseguem gerar uma sensação de previsibilidade e desconexão com o tom do filme. Esses elementos são usados como uma tentativa de subverter a violência das cenas de ação com um toque de humor, mas o resultado é uma tentativa forçada que nunca parece orgânica.
Personagens Subutilizados e Potenciais Perdidos
Embora o elenco de "Back in Action" seja recheado de atores de grande talento, muitos deles são mal aproveitados. Glenn Close, que interpreta a mãe de Emily, Ginny, poderia ter dado uma performance memorável como uma ex-espiã que ainda carrega uma aura de autoridade. Porém, sua personagem nunca é desenvolvida de forma adequada, e ela acaba sendo apenas uma figura decorativa no filme. Da mesma forma, Andrew Scott, um dos atores mais promissores da sua geração, é completamente desperdiçado no papel de um agente da MI6 em busca do famoso "MacGuffin" do filme. A presença de Scott é tão desinteressante que se torna doloroso vê-lo em cena, completamente sem brilho.
Um Filme Cansativo e Sem Alma
Em última análise, "Back in Action" é mais um exemplo da tendência crescente de filmes de ação globais que priorizam o espetáculo visual e a estética brilhante e vazia em detrimento de uma narrativa sólida e personagens bem desenvolvidos. Mesmo com o retorno de uma estrela como Cameron Diaz e o carisma de Jamie Foxx, o filme cai na armadilha de ser apenas mais um produto de streaming que você assiste sem se importar muito com o que está acontecendo na tela. A tentativa de inserir elementos emocionais e humorísticos no meio da ação falha devido a um roteiro preguiçoso, personagens unidimensionais e uma clara falta de uma verdadeira conexão entre os atores principais.
Se você busca um filme para assistir enquanto faz outras coisas, "Back in Action" pode ser uma escolha, mas para quem procura algo mais substancial, provavelmente o filme deixará um gosto amargo de que poderia ter sido mais.