Análise Crítica de Birds of Prey #17: Superficialidade e Faltas de Profundidade
Birds of Prey #17, uma das edições mais recentes da série, desperta uma discussão sobre a qualidade da escrita e o desenvolvimento de personagens dentro do universo dos quadrinhos da DC. Embora ofereça alguns momentos de ação de destaque, o número é prejudicado por uma escrita superficial e focada em plot, em detrimento de um desenvolvimento mais robusto dos personagens. Neste artigo, vamos explorar os pontos positivos e negativos dessa edição, abordando o estilo de Kelly Thompson e a contribuição visual de Sami Basri, além de analisar o impacto geral da história e suas falhas.
Pontos Positivos: Ação Bem Executada e Efeito Visual Criativo
Desde o início de Birds of Prey #17, a ação é o ponto forte da edição. O número começa com Cassandra Cain, que está sob o efeito de uma droga que a transforma em uma versão selvagem e feroz de si mesma. Essa parte da história é bem executada, especialmente na forma como a perspectiva da cena é retratada. Cassandra vê seus resgatadores como monstros, e o leitor é levado a compartilhar dessa visão distorcida. Esse efeito visual, que altera a percepção da personagem, é um toque inteligente e adiciona uma camada de complexidade à cena, mostrando como a perspectiva alterada pode influenciar a percepção de realidade.
Sami Basri faz um excelente trabalho nas ilustrações dessa sequência. Ele captura não apenas a ferocidade de Cassandra, mas também a sensação de desorientação e confusão que ela sente sob os efeitos da droga. Este é talvez o melhor trabalho de Basri em seus quatro números nesta série. A dinâmica das cenas de ação é envolvente e a arte complementa a tensão da narrativa de forma eficaz, oferecendo um bom equilíbrio entre intensidade e clareza visual.
Pontos Negativos: Escrita Superficial e Falta de Profundidade
No entanto, o principal problema de Birds of Prey #17 é a escrita de Kelly Thompson, que se mantém superficial e excessivamente focada no enredo. Um dos maiores exemplos disso é a inclusão de personagens como Grace e Onyx, que aparecem meramente para participar de cenas de luta. Não há desenvolvimento significativo para essas figuras, o que é uma grande decepção. Grace e Onyx têm muito potencial para se tornar personagens mais profundos e interessantes dentro do universo de Birds of Prey, mas Thompson as utiliza como instrumentos de ação, sem explorar suas histórias ou relacionamentos de forma significativa. A falta de um desenvolvimento mais emocional ou relacional das personagens diminui a sensação de importância da participação delas, tornando suas aparições quase desnecessárias.
Essa crítica se estende a Cela, outro personagem que parece ser apenas um dispositivo de trama, sem uma real motivação ou razão de existir além de fornecer uma solução conveniente para a situação de Ivy. Thompson recorre a personagens como Cela, que são introduzidos apenas para adiantar a narrativa sem agregar valor substancial à história. No passado, personagens como Power Girl ou Huntress foram chamados para momentos significativos que acrescentaram camadas à narrativa e ao desenvolvimento dos personagens, mas essa profundidade está faltando na abordagem de Thompson.
O título parece ser mais sobre uma mensagem superficial do que uma história envolvente, e isso é especialmente evidente no final, quando Thompson revela que tudo gira em torno de "irmandade". Embora o tema da irmandade possa ser poderoso, a maneira como ele é apresentado no final da edição se sente forçada e sem impacto real. Em vez de ser demonstrado por meio de ações e interações significativas entre as personagens, o tema é apenas exposto como um mantra, sem um desenvolvimento narrativo adequado.
A Falta de Motivação para os Vilões e o Desapontamento Geral
Outro ponto que enfraquece a história é a falta de uma motivação realmente convincente para os vilões, especificamente a Ninth Day Corporation. Ao final do número, eles se tornam simplesmente vilões genéricos, sem uma justificativa sólida para suas ações. A razão pela qual eles sequestraram as mulheres ou envolveram as Amazonas ainda não foi totalmente explicada ou aprofundada. Isso cria uma sensação de desinteresse, pois, como leitores, não nos importamos com as motivações por trás dos antagonistas.
Essa falta de profundidade nas figuras vilanescas, junto com a falta de desenvolvimento das personagens principais, torna a narrativa vazia. O contraste com os grandes arcos de Dixon e Simone é inevitável. Ambos os escritores contribuíram com uma maturidade e complexidade que falta neste título. A edição #17 de Birds of Prey se torna um lembrete de como uma narrativa pode se perder quando as motivações e relações entre os personagens não são tratadas de forma cuidadosa e envolvente.
A Superficialidade do Título: Comparações com Run Anteriores e Expectativas Baixas
A falta de profundidade e a escrita unidimensional são particularmente desanimadoras quando se considera o legado da série. O trabalho de Chuck Dixon e Gail Simone em Birds of Prey foi fundamental para estabelecer uma base sólida para os personagens e suas dinâmicas. Ambos os escritores criaram arcos que não só eram emocionantes, mas também cheios de maturidade e complexidade emocional. A escrita de Thompson, por outro lado, tem dificuldade em encontrar esse nível de profundidade. Enquanto ela tenta dar a entender que as personagens estão unidas por uma irmandade, isso nunca é demonstrado efetivamente na história. A série se concentra mais em uma mensagem do que em construir momentos significativos que a validem.
É triste observar que um título com tanto potencial, que já foi uma das maiores forças do universo DC, agora se vê reduzido a uma série onde a ação e o enredo dominam, mas os personagens e as interações emocionais se perdem no caminho.
Desapontamento em Meio à Superficialidade
Em suma, Birds of Prey #17 é uma edição que oferece alguns momentos de ação satisfatórios, mas é muito limitada em termos de substância e profundidade. A escrita de Kelly Thompson, embora eficiente em movimentar a trama, não consegue proporcionar um desenvolvimento significativo para as personagens ou uma motivação real para os vilões. A falta de relevância emocional e o foco em uma mensagem superficial enfraquecem a história. Para os fãs que esperam algo comparável aos arcos imortais de Chuck Dixon ou Gail Simone, essa edição será sem dúvida uma decepção.