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Y2K (2024) - Crítica

 Y2K: A Comédia de Terror e Nostalgia de Kyle Mooney

Kyle Mooney, ex-integrante do Saturday Night Live e especialista em cultura pop dos anos 90, faz sua estreia como diretor de longa-metragem com Y2K, um filme que captura perfeitamente a essência do fim do milênio, o auge de uma era de transição tecnológica e cultural, e a nostalgia de uma geração que cresceu nos anos 90. Mas Mooney não é apenas um cronista da década. Ele também sabe como extrair a melancolia por trás de tudo que parecia ser descartável, seja através de sitcoms de família ruins ou comediantes de stand-up sem graça. Em Y2K, ele faz isso de uma maneira que mistura comédia, terror e uma satire mordaz da virada do milênio, criando uma experiência cinematográfica única.

A Virada do Milênio e a Nostalgia Genial de Mooney

O filme se passa no 31 de dezembro de 1999, quando o mundo estava em plena expectativa pelo bug do milênio (Y2K) e pela transição do século XX para o XXI. Mooney começa com um cenário que é um banho de nostalgia, perfeito para aqueles que viveram o fim dos anos 90. A começar pelos detalhes simples, como conectar um CD player portátil ao rádio do carro com o velho adaptador de fita, ou ouvir os sons do modem de discagem enquanto você tentava conectar-se à internet. Para Eli (Jaeden Martell) e Danny (Julian Dennison), dois amigos inseparáveis, a noite de Ano Novo se torna um reflexo da juventude: amizades intensas, primeiras paixões e, é claro, a cultura juvenil de final de milênio, com referências de músicas como “Tubthumping” do Chumbawamba e “The Thong Song” de Sisqó.

Mas logo a atmosfera leve e engraçada começa a se transformar. O que parecia ser uma comédia de adolescentes tentando viver uma última grande festa antes do fim do milênio, se desvia para uma história de terror. Quando a virada do ano chega e o bug do Y2K ativa, os computadores e máquinas começam a se rebelar, dando início a uma sangrenta revolta tecnológica, com robôs assassinos caçando os sobreviventes. Mooney mistura elementos de comédia de coming-of-age com terror de slasher, criando uma narrativa inusitada que prende a atenção do espectador com suas reviravoltas inesperadas.

Comédia, Terror e Crítica Social: O Estilo de Mooney

O que torna Y2K realmente interessante é a forma como Mooney e o co-roteirista Evan Winter abordam gêneros misturados. A primeira meia-hora do filme é quase uma homenagem a Superbad, com suas piadas adolescentes e uma sensação de nostalgia pela era pré-internet, quando as formas de se comunicar com os outros eram mais limitadas e complicadas. À medida que o filme avança, no entanto, o tom se torna mais sombrio, e o humor vai se entrelaçando com a violência e o terror de maneira mais intensa, especialmente quando os personagens tentam escapar de suas mortes iminentes.

Mooney também não hesita em adicionar muitas mortes sangrentas, talvez como uma forma de se distanciar de outros filmes de comédia de terror que frequentemente optam por evitar a violência explícita. As mortes não são apenas grotescas, mas também fazem parte de uma crítica sutil à sociedade e aos avanços tecnológicos. Em vez de mostrar uma sociedade em decadência ao longo de décadas, Y2K opta por uma visão de um colapso instantâneo, onde máquinas e inteligência artificial decidem destruir a civilização de uma só vez, algo que pode ser interpretado como uma metáfora para o medo do desconhecido e da rápida evolução tecnológica.

Personagens e Suas Relações: O Coração de Y2K

No centro da trama, temos o trio de amigos formado por Eli, Danny e Laura (interpretada por Rachel Zegler), uma garota popular com habilidades em hackers, que é um exemplo perfeito do romance idealizado dos anos 90. A química entre os três é genuína e natural, e a forma como cada um deles lida com os eventos de terror que acontecem à sua volta adiciona uma camada de profundidade emocional ao filme. Eli, com sua sensibilidade e inexperiência, é interpretado por Jaeden Martell, que traz para o papel uma awkwardness que é imediatamente familiar para aqueles que cresceram com filmes de coming-of-age.

Danny, interpretado por Julian Dennison, assume o papel do amigo engraçado e irreverente, enquanto Laura, a hacker, poderia facilmente se tornar um clichê de fantasia masculina, mas Zegler consegue humanizar a personagem de maneira convincente, tornando-a uma presença forte e interessante. Outros personagens como Ash (Lachlan Watson), um fã hardcore do Limp Bizkit, e CJ (Daniel Zolghadri), um rapper autointitulado, adicionam uma diversidade de personalidades que enriquecem a dinâmica do filme, mesmo quando ele se transforma em uma luta pela sobrevivência.

Um Mundo Cinemático de Nostalgia: A Estética Visual de Y2K

A direção de Kyle Mooney também se destaca, especialmente no que diz respeito à estética visual do filme. Com a cinematografia de Bill Pope, conhecido por seu trabalho em filmes como Shaun of the Dead e Scott Pilgrim vs. the World, Y2K tem um visual que mistura comédia e gênero com estilo, trazendo à tona a sensação de um filme de música pop da virada do milênio. As escolhas de iluminação podem não ser as mais dramáticas, mas elas são eficazes para criar a atmosfera descompromissada de um filme que, no fundo, está rindo do que está acontecendo.

Em muitos momentos, o filme adota um tom autoirônico e brincalhão, como se estivesse recontando a história de uma época em que as coisas eram tão bobas e engraçadas, mas que ainda assim formam uma parte importante da identidade de uma geração. Mooney não se esquiva de uma abordagem de resgate de cultura trash, tornando Y2K uma espécie de celebração de um momento específico da história, sem perder a crítica a muitos dos excessos e fantasias dessa era.

A Comédia, o Terror e a Geração Y2K

Em sua estreia como diretor de longa-metragem, Kyle Mooney oferece algo realmente único com Y2K: uma comédia de terror com elementos de sátira, que examina a ansiedade cultural da virada do milênio, tudo enquanto proporciona uma celebração irreverente da estética dos anos 90. O filme, apesar de suas falhas narrativas e desvio de foco no segundo ato, continua sendo uma experiência cinematográfica que ressoa profundamente para aqueles que viveram aquela época, ao mesmo tempo em que proporciona uma boa dose de diversão e descontração para quem busca um filme leve, mas com um toque de humor negro e distorção da realidade.

Com uma forte performance do elenco e um olhar nostálgico sobre o passado, Y2K é um filme que pode não ser perfeito, mas é definitivamente encantador e cativante. Para todos que cresceram nas últimas décadas do século XX, esse é um tributo ao fim de uma era, e uma reflexão sobre como a cultura pop de então ainda nos assombra de formas inusitadas.

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