Análise Completa de The Thing: Remastered – Uma Curiosidade de Jogo de Terror e Shooter
A cada lançamento de remasterização, surge uma expectativa por revisitar jogos que marcaram sua época ou, pelo menos, entender o que causou tanto alvoroço. Um desses exemplos é The Thing: Remastered, lançado em 5 de dezembro de 2024 pela Nightdive Studios, com versões para PC, PS4, PS5, Xbox Series X|S e Nintendo Switch. Como alguém que acompanhou a evolução do título desde sua estreia original em 2002, a proposta de rever este jogo cult me despertou curiosidade, principalmente devido à fama que se estabeleceu ao longo dos anos.
Embora a ideia do jogo tenha soado intrigante, sua execução nem sempre correspondeu às expectativas. Este artigo busca explorar os pontos principais do remaster de The Thing, destacando as características que tornam essa obra única, suas falhas e como a remasterização ajuda a atualizar uma proposta ambiciosa que, em 2002, não conseguiu cumprir o que prometia.
A Proposta e o Contexto de The Thing
O jogo é uma sequência direta do clássico de terror The Thing de 1982, dirigido por John Carpenter. Embora o filme tenha terminado de forma ambígua, o que deu espaço para especulações, o jogo tomou um caminho diferente ao lidar com a continuidade da história. No lugar de construir sobre o mistério e a tensão deixada pelo filme, The Thing: The Game opta por uma narrativa mais direta e até exagerada, que "respira no pescoço" do filme, muitas vezes de forma cômica. A ideia de dar continuidade à trama, especialmente com as inovações que a tecnologia de jogos poderia oferecer na época, parecia promissora. Contudo, a execução da história revelou-se um tanto desastrosa, mais parecendo uma paródia involuntária do que uma tentativa legítima de expandir o universo de Carpenter.
O Jogo em Si: O Sistema de Medo e Confiança
Um dos maiores chamarizes de marketing do jogo é o sistema de confiança e medo, que tinha como proposta criar um ambiente de desconfiança entre os membros da equipe. A premissa parecia empolgante: qualquer um poderia ser um "Thing" disfarçado, o que faria com que o jogador ficasse constantemente em alerta. No entanto, a implementação do sistema deixou a desejar. O medo entre os membros da equipe poderia ser gerado pela presença de cadáveres e ambientes sujos, mas o problema era que os cenários do jogo estavam constantemente repletos de corpos, o que tornava difícil discernir quando o medo realmente afetava alguém. Além disso, o sistema de confiança era superficial e ineficaz, já que os membros do time poderiam ser manipulados facilmente apenas com munição, e não havia consequências significativas para suas dúvidas sobre você. Ao final, a sensação de que o medo e a desconfiança tinham algum impacto foi bastante reduzida, tornando o conceito um tanto desperdiçado.
A Jogabilidade: Entre a Ambição e a Execução
The Thing se apresenta como um shooter de terceira pessoa baseado em esquadrões, onde você controla o Capitão J.F. Blake, um personagem estereotipado e sem profundidade, que mais parece um protótipo de herói genérico dos anos 90, com seu cabelo arrepiado e atitude de super-herói. A jogabilidade segue o formato de tiroteios, mas com a adição do aspecto psicológico, em que você nunca sabe quem pode ser confiável. Embora o jogo tenha um bom potencial para a tensão, com seus cenários congelantes e ambientes claustrofóbicos, o gameplay se perde muitas vezes nas corredorias apertadas e no foco excessivo em tiroteios.
Apesar disso, o sistema de combate é simples, mas funcional, com os jogadores enfrentando tanto os “Things” quanto outros inimigos humanos, criando momentos de tensão e ação. Contudo, o que se poderia chamar de experiência de terror é abafado pela quantidade de disparos e pela falta de desenvolvimento dos personagens secundários, que são trocados frequentemente e não possuem grande profundidade. Isso faz com que a sensação de ser parte de um esquadrão em um cenário de sobrevivência seja praticamente inexistente.
A Falta de Consistência e as Frustrações Técnicas
Outro ponto que gera frustração são as falhas técnicas. Durante o jogo, é possível perceber uma série de bugs e glitches, que variam de situações engraçadas a momentos que realmente prejudicam a experiência. Um exemplo hilário de glitch ocorre no início, quando um membro da equipe começa a vomitar no meio de uma animação e o efeito visual parece extremamente descoordenado. Embora o jogo seja bem executado tecnicamente em sua versão remasterizada, esses erros tiram um pouco a seriedade da narrativa e da atmosfera, trazendo um tom mais leve do que o esperado para um jogo de terror.
A Remasterização: Um Toque de Brilho em um Jogo Problemático
Apesar de suas falhas, a remasterização feita pela Nightdive Studios realmente brilha quando se trata de gráficos e efeitos visuais. Os efeitos de iluminação são impressionantes e transmitem uma sensação moderna sem perder o charme dos jogos da era pós-millennium. Os modelos dos personagens e os ambientes têm um visual mais polido, mas ainda carregam a essência de como eram originalmente, o que agradou aos fãs que conhecem o jogo desde seu lançamento.
Infelizmente, a remasterização não pode corrigir os problemas centrais do jogo. O sistema de medo e confiança mal implementado, a falta de desenvolvimento dos personagens e a história clichê ainda permanecem, o que impede que The Thing se torne o jogo de terror psicológico que muitos desejavam. No entanto, mesmo com todas essas limitações, o trabalho de remasterização foi feito com carinho, e para os fãs que já gostavam do jogo ou tinham curiosidade, o novo visual e as melhorias técnicas são dignas de nota.
Uma Curiosidade que Vale a Pena Ser Conferida
The Thing: Remastered é um exemplo claro de um jogo que falha em sua ambição, mas que, de alguma forma, cativa pela sua bagunça. Embora a história seja fraquíssima, os sistemas de medo e confiança quase inexistam e o personagem principal seja uma caricatura, há algo de fascinante em revisitar um jogo que tenta tanto, mas acaba se tornando um exemplo do que não funciona em um shooter de terror.
Se você é fã do filme e tem curiosidade em ver como o jogo se encaixa nesse universo, vale a pena conferir. O remaster traz a atualização necessária, mas não espere um jogo que vá elevar o gênero ou o expandir de maneira satisfatória. No fim, The Thing é uma curiosidade que, apesar de seus muitos defeitos, ainda proporciona momentos de diversão bizarra. Se você é do tipo que aprecia jogos com ideias malucas e falhas gritantes, então este título definitivamente merece sua atenção.