"Score" (1974): Uma Exploração Cinemática do Erotismo e da Pornografia na Era de Ouro
"Score", dirigido por Radley Metzger, é um filme que transita entre a pornografia e a arte, refletindo a tensão da Era de Ouro da Pornografia dos anos 1970. Ele surgiu em uma época em que as mudanças culturais dos anos 1960 pareciam abrir as portas para atitudes mais liberais em relação ao sexo, e por um tempo, parecia que o cinema abraçaria uma representação mais explícita da intimidade humana. Hoje, a influência desse período ainda é sentida no cinema, mas muitas vezes obscurecida pelo domínio de conteúdos mais sanitizados no mainstream. Filmes como "Score" servem como fascinantes relíquias desse breve momento no tempo, oferecendo uma lente única através da qual podemos examinar a evolução do sexo no cinema.
A Tensão Entre Erotismo e Pornografia
Uma das tensões centrais em "Score" é o conflito entre ser um filme pornográfico e uma experiência cinematográfica. Metzger, conhecido tanto pelo seu trabalho no cinema adulto quanto pelos seus filmes mais mainstream, claramente está dividido entre esses dois mundos. O filme levanta uma questão intrigante: Metzger quer fazer um filme que satisfaça puramente o público pornográfico com imagens explícitas, ou ele quer criar algo mais artístico, mais erótico por natureza?
No fundo, "Score" está muito mais interessado no erotismo do que na pornografia explícita. Em uma época em que os filmes adultos eram frequentemente explícitos e diretos, a abordagem de Metzger foi diferente. Ele optou por se concentrar na atmosfera e no clima das situações, em vez de apenas retratar o sexo pelo próprio sexo. Embora os personagens se envolvam em atos sexuais, o filme é muito mais sobre criar tensão, brincar com o desejo e explorar as complexidades emocionais e psicológicas dentro dos relacionamentos sexuais. Essa abordagem diferencia "Score" de muitos de seus contemporâneos.
Uma Reinterpretação de "Les Liaisons Dangereuses"
A trama de "Score" é uma reinterpretação livre de "Les Liaisons Dangereuses" (ou "Perigosas Liaisões" no Brasil), o clássico romance francês que explora temas de manipulação, sedução e traição entre a aristocracia francesa. No contexto de "Score", a história é transposta para a cultura dos anos 1970 de "swingers", que reflete a fascinação da época pela liberdade sexual e pela exploração de tabus.
Os personagens centrais, Jack (interpretado por Gerald Grant) e Elvira (interpretada por Claire Wilbur), são um casal de swingers experientes que buscam corromper uma jovem virgem, Betsy (interpretada por Lynn Lowry). Jack e Elvira são retratados como cínicos e desiludidos com seu estilo de vida, que se tornou uma rotina de seduzir jovens mochileiros em sua vila iugoslava. O desafio mais recente deles é seduzir Betsy, uma mulher que ainda é imune ao seu mundo e representa a inocência e pureza que eles desejam corromper. Em uma subplot, Jack também tenta seduzir o namorado de Betsy, Eddie (interpretado por Calvin Culver, também conhecido como Casey Donovan), o que adiciona mais uma camada de complexidade à narrativa.
As dinâmicas de poder presentes no filme ecoam as relações manipulativas de "Les Liaisons Dangereuses", com Jack e Elvira planejando suas seduções e testando os limites do controle e poder. No entanto, "Score" introduz uma camada adicional de absurdo, pois os personagens se envolvem em conversas sobre temas como astrologia e outras modas culturais dos anos 1970. Isso cria uma atmosfera bizarra, em que a tensão erótica é ocasionalmente suavizada pela ludicrosidade das ideias e comportamentos dos personagens.
O Cenário e o Tom: Uma Fantasia Europeia Surreal
O filme se passa em uma localização europeia fictícia chamada "Terra da Abundância", um lugar que parece misturar elementos de fantasia e hedonismo. Metzger usa esse cenário para criar uma atmosfera de decadência e lazer, oferecendo ao público uma visão de um mundo onde as normas sociais são fluidas, e tudo é permitido. Essa geografia fictícia é propositalmente vaga, com referências a localidades vizinhas como "Decadência" ao norte e "Euforia" ao sul, o que enfatiza a qualidade fantástica e onírica da narrativa.
O local, filmado na Iugoslávia (atualmente Croácia), contribui para o tom etéreo e surreal do filme. O cenário europeu se torna um reflexo do distanciamento emocional e da experimentação sexual dos personagens. Em contraste com a natureza frequentemente mecânica e clínica da pornografia moderna, "Score" usa seu cenário para intensificar as suas dimensões psicológicas e emocionais, sugerindo que a verdadeira exploração no filme não está no corpo, mas nas relações e emoções entre os personagens.
As Performances: Elenco Fora do Comum
As atuações em "Score" são outro ponto forte do filme. Lynn Lowry (como Betsy), com sua plástica de nariz dos anos 1960, traz uma sensação de inocência e vulnerabilidade ao seu papel, fazendo dela uma figura de desejo plausível e cativante para os swingers experientes. Casey Donovan, que interpreta Eddie, é talvez o menos convincente como homem heterossexual, minando suas tentativas com uma postura afetada ou movimentos de passarela. Em contraste, Gerald Grant como Jack é mais convincente como heterossexual, até que seu personagem se transforma em um "swinger". Claire Wilbur, como Elvira, entrega uma performance que parece como se ela tivesse escapado de um filme de vampiro da Hammer, encarnando uma personagem que é ao mesmo tempo sedutora e predatória.
Uma curiosidade sobre o elenco é o papel de Mike, o técnico de telefonia, interpretado por Carl Parker. Na peça original de "Score", o papel de Mike deveria ser interpretado por Sylvester Stallone. No entanto, Stallone foi considerado "étnico demais" para interpretar o personagem no filme, apesar de sua herança italiana, o que resultou em uma escolha de elenco absurda, dado o cenário do filme nas proximidades da Europa. A inclusão de Mike como personagem menor adiciona uma camada extra de intriga, já que destaca as estranhas correntes culturais do processo de produção do filme.
As Aspirações Cinemáticas de Radley Metzger
O trabalho de Radley Metzger em "Score" demonstra suas aspirações como cineasta. Ele não está satisfeito em simplesmente criar um filme pornográfico; ele busca fazer um filme que também seja visualmente sofisticado e esteticamente prazeroso. O filme é bem filmado, com belas iluminações e uma edição precisa. Há uma sensação de artisticidade na forma como Metzger enquadra suas cenas, focando não apenas nas ações físicas dos personagens, mas também nos espaços psicológicos entre eles.
Embora a câmera muitas vezes pareça estar muito próxima dos atores, um defeito comum na pornografia, fica claro que as intenções de Metzger são mais refinadas. Há uma sensação de tédio e distanciamento nas interações dos personagens, como se os atos sexuais em que se envolvem fossem mais sobre a busca por sensações do que sobre a verdadeira realização emocional. Essa sensação de vazio, em que os encontros sexuais parecem fáceis demais e sem significado, é central para as preocupações temáticas do filme. Verdadeiras perigosas liaisões, sugere o filme, são aquelas que carregam peso emocional.
Um Momento Fascinante na História do Cinema
"Score" é um filme que reflete um breve momento na história do cinema em que as fronteiras entre pornografia e arte ainda estavam sendo negociadas. Dirigido por Radley Metzger, é um testemunho da tensão entre erotismo e explicitidade, combinando cinema artístico com temas adultos. Embora não seja tão explicitamente gráfico quanto outros filmes adultos da época, ele se destaca como uma exploração única das relações sexuais, dinâmicas de poder e da natureza superficial da liberdade sexual. Suas qualidades cinematográficas o elevam acima do filme adulto tradicional, e seus temas de tédio e desilusão oferecem uma lente através da qual podemos explorar as correntes culturais dos anos 1970. "Score" é, de muitas maneiras, tanto um produto de seu tempo quanto uma ousada tentativa de expandir os limites do que o cinema adulto poderia alcançar.