Long Cold Winter #1 é a estreia de uma nova série de quadrinhos que se passa em um futuro distópico e ecologicamente arruinado. A história, escrita por Francesca Perillo e ilustrada por Stefano Cardoselli, apresenta um mundo em que a terra está irreversivelmente danificada e o ar se tornou irrespirável para a maioria da população. Nesse cenário, apenas os mais ricos podem pagar por microchips produzidos pela Air Co., uma empresa que infunde oxigênio diretamente no corpo dos seus clientes, garantindo-lhes sobrevivência em um planeta em crise. A estética da série é imersiva, com a arte e as cores de Cardoselli e Alessandra Scaramella trabalhando juntas para criar uma experiência visual única, que contrasta com a desolação do enredo.
O Mundo em Declínio
O ponto central do enredo de Long Cold Winter #1 é a construção de um mundo pós-apocalíptico, onde humanidade e natureza entraram em colapso. Embora o quadrinho não detalhe minuciosamente as razões exatas para o estado atual do planeta, a ação da Air Co., uma corporação responsável por um dos maiores danos ecológicos, é apresentada como um fator-chave na degradação ambiental. Cardoselli constrói esse universo com maestria, utilizando um estilo artístico cheio de detalhes desgastados: linhas, rachaduras e detritos são visíveis em quase todos os painéis, refletindo a deterioração de um mundo que foi deixado para trás. Cada elemento visual remete à ideia de que a terra, assim como os personagens, está “gasta”, marcada pelo tempo e pela decadência.
Os Personagens: Paz e Esperança em um Mundo Destruído
No centro da narrativa está Peace Dog, um personagem que tem uma recompensa pela sua cabeça, mas que, no início do número, só deseja desfrutar de um simples sushi. Sua paz é interrompida por caçadores de recompensas, e depois por um robô chamado The Kid, que o procura para ajuda-lo a chegar a Hope Land, uma comunidade de robôs que busca liberdade.
A arte de Cardoselli não apenas dá vida ao ambiente, mas também ao caráter dos protagonistas. Peace Dog e The Kid são desenhados de forma rústica, com traços marcados, refletindo as difíceis condições em que vivem. Eles são, assim como o cenário ao seu redor, figuras rugosas e desgastadas, uma metáfora perfeita para um mundo em ruínas. A escolha de apresentar os personagens com uma aparência mais destruída e imperfeita reforça a ideia de que estão tão marcados pelo ambiente quanto o próprio planeta.
Embora o arco da história se desenvolva rapidamente, com Peace Dog mudando de ideia sobre ajudar The Kid de forma quase instantânea, o contexto ecológico e social do ambiente facilita essa decisão, fazendo com que a mudança de atitude do protagonista seja compreensível. É uma escolha que se alinha ao desespero e à resistência do mundo em que vivem.
A Arte: Um Mundo Que Ainda Respira
O aspecto visual de Long Cold Winter #1 é, sem dúvida, o maior atrativo do quadrinho. O trabalho de Alessandra Scaramella na coloração é, de certa forma, uma contradição viva: enquanto o mundo é visivelmente devastado, a paleta de cores escolhida para a série traz tons vibrantes e saturados, dando uma sensação de que, apesar da destruição, o mundo ainda possui uma energia latente. Mesmo as sombras, que em muitos quadrinhos são usadas para sugerir uma atmosfera sombria, são aqui surpreendentemente brilhantes. Essa dualidade entre beleza e decadência cria uma tensão visual que aumenta o impacto do ambiente.
A cena que mais ilustra essa tensão visual ocorre quando Peace Dog e The Kid passam por um prédio da Air Co.. A fachada da empresa é colorida de forma alegre, com cores vibrantes como rosa, amarelo e verde, e uma representação de um sol sorridente e uma arco-íris. Essa estética visualmente apelativa contrasta diretamente com o conhecimento do leitor de que Air Co. é uma das principais responsáveis pela destruição do planeta, tornando a cena um comentário visual sobre a hipocrisia e a distopia dessa realidade.
Narrativa e Diálogos: Uma Introdução Simples
Quanto à trama, Long Cold Winter #1 não busca apresentar uma história complexa logo de início. O enredo é essencialmente uma aventura de jornada, com Peace Dog escortando The Kid em direção a um refúgio de esperança. O foco da narrativa não está tanto no desenvolvimento profundo dos personagens, mas mais na construção do mundo e na criação de uma atmosfera. Perillo utiliza uma narrativa em terceira pessoa para explicar a situação do planeta, através de caixas de texto que oferecem o contexto necessário sobre a Air Co. e o estado da terra. Essa abordagem direta facilita a imersão do leitor no universo, sem sobrecarregar a ação com explicações excessivas. No entanto, isso também significa que, nesta edição, tanto Peace Dog quanto The Kid permanecem como figuras em branco, sem muita profundidade emocional.
O Estilo de Diálogos e a Arte no Roteiro
Jon Beaudoin, o responsável pelos diálogos, opta por uma abordagem interessante para a distribuição das falas. Ao invés de usar setas ou linhas visíveis tradicionais, Beaudoin opta por linhas finas e discretas que conectam os balões de fala aos personagens, mantendo o foco nas imagens e não no texto. Essa técnica permite que o visual da história nunca seja interrompido pelas palavras, criando uma experiência fluida e imersiva, onde a arte e a narrativa se complementam sem se sobrecarregar.
Potencial em um Mundo Colorido de Desolação
Embora Long Cold Winter #1 ainda seja uma introdução ao universo da série, ela estabelece um grande potencial para a continuação da história. Peace Dog e The Kid, embora interessantes, têm muito a explorar, e a dinâmica entre os dois promete um desenvolvimento futuro mais profundo. A fusão do gênero de ficção científica com o western pode levar a uma narrativa rica, especialmente se a série continuar a explorar as tensões entre a humanidade, a tecnologia e o meio ambiente.
Por enquanto, é a arte que realmente se destaca, proporcionando uma experiência visual única. A combinação de um mundo visualmente vibrante, mas degradado, é o que realmente torna Long Cold Winter #1 um quadrinho intrigante, e o que provavelmente manterá os leitores ansiosos pelas próximas edições.
Long Cold Winter #1 é uma experiência de detalhes coloridos e mundos desgastados, e embora a história ainda não tenha se aprofundado, as possibilidades de exploração visual e narrativa são vastas. A série tem tudo para se tornar uma história envolvente de esperança e desolação à medida que avança.