VED: Uma Jornada Mágica e Seus Desafios na Teleportação e Magia
Em um mundo onde a teleportação e a magia são centrais, VED (lançado em 2024) se destaca por uma proposta narrativa e mecânica que desafia nossa percepção sobre a magia cotidiana e as consequências de manipular forças além da nossa compreensão. Criado pela Karaclan e publicado pela Fulqrum Publishing, o jogo oferece uma experiência híbrida de RPG no estilo Dungeons & Dragons, misturando elementos de visual novel com mecânicas de estratégia roguelike. No entanto, a jornada de Cyrus, o protagonista, revela não apenas a beleza da magia, mas também as questões éticas e filosóficas que surgem quando se brinca com a própria realidade.
O Encontro com a Magia e a Teleportação: Uma Realidade Desconcertante
Logo no início de VED, somos apresentados a Cyrus, um jovem ambicioso que se muda para a cidade de Micropolis com a intenção de construir um futuro melhor para si. No entanto, seus planos são interrompidos quando seu vizinho, Mick, coloca fogo no apartamento deles. Em um momento de desespero, Cyrus usa uma habilidade mágica instintiva e se teleporta para salvar o vizinho. A partir desse evento, ele começa a descobrir que magia não é apenas algo dos contos de fada ou reservado para aqueles em torres de magos. Em VED, a magia está presente em todos, mas sua utilização e consequências variam de acordo com as fações que buscam controlá-la.
Uma das primeiras impressões que o jogo deixa é o quão desconcertante a teleportação pode ser. Não é apenas um movimento de A para B, mas um processo que implica em ser desconstruído e reconstruído em nível molecular. Isso cria uma sensação de desconforto, pois Cyrus não sabe aonde será enviado, nem mesmo se o local de chegada será seguro ou digno. O conceito de teletransporte em VED transcende o simples ato de se mover no espaço; ele levanta questões filosóficas sobre vida, morte e identidade. Será que o “Cyrus” que chega ao destino é o mesmo que o de antes ou um simples clone? Esse dilema adiciona uma camada profunda de tensão ao jogo, tornando a magia mais intrigante, mas também assustadora.
Fações e Personagens: O Mundo Mágico e suas Motivações
Em VED, a magia não é apenas um poder individual; ela é disputada por façãoes com interesses muito diferentes. A história gira em torno de três facções principais: Impulse, uma gigante de tecnologia que busca comercializar a magia; os Sorcerers, que querem distribuir a magia para o povo; e os Veds, que preferem manter a magia longe do mundo humano e em um outro plano. Cada uma dessas facções tem personagens cativantes e diversificados que representam diferentes pontos de vista sobre o uso da magia.
Um dos líderes mais notáveis é Freddie Fire Hands, o carismático e excêntrico mago dos Sorcerers, que oferece uma perspectiva única sobre como a magia deve ser usada. Dependendo das suas escolhas, você verá diferentes facções se comportando de maneiras contraditórias, especialmente quando você se alinha com certos grupos ou tenta manipular eventos a seu favor. No entanto, o que poderia ser uma exploração mais profunda de motivação e moralidade de personagens se perde em algumas falhas de escrita.
Embora os diálogos e a construção das personagens sejam interessantes em sua premissa, a escrita às vezes se torna um pouco distorcida. Por exemplo, o personagem principal, Cyrus, tenta flertar de forma tão desajeitada que chega a ser desconfortável, e algumas escolhas de diálogo parecem resultar em respostas não-intencionais ou mal direcionadas. Apesar dessas falhas, as opções de escolha e a ramificação da história são aspectos essenciais que tornam VED um jogo no qual suas decisões realmente importam e podem mudar radicalmente o rumo da narrativa. Em minha primeira jogada, por exemplo, um erro na introdução alterou completamente o desfecho da história. O potencial de ramificação é um ponto positivo que mantém o jogador curioso sobre as possibilidades do enredo.
A Jornada Pelo Mundo Mágico: Um Roguelike Estratégico
A maior parte da exploração de VED se dá no mundo mágico, onde a teleportação leva Cyrus a uma dimensão paralela cheia de desafios, monstros e eventos aleatórios. O gameplay aqui segue uma estrutura de roguelike, em que o jogador começa em uma aldeia simples e deve escolher um caminho através de dungeons geradas aleatoriamente. As batalhas são baseadas em turnos, com o jogador precisando gerenciar seus pontos de ação e posicionamento estratégico em diferentes "lanes" (corredores ou faixas), onde a posição do personagem influencia o dano que ele causa ou recebe.
O sistema de combate tem uma boa premissa e é inspirado nas mecânicas de Dungeons & Dragons com rolagens de dados, o que adiciona uma dose de imprevisibilidade a cada encontro. No entanto, o design do jogo deixa um pouco a desejar, já que as opções de caminho são geralmente limitadas, e os confrontos tendem a ser repetitivos. O sistema de combate é visualmente intrigante, mas, em termos de profundidade estratégica, fica aquém do que poderia ser oferecido. A utilização de um grid (tabuleiro) ao invés de simples faixas poderia tornar os confrontos mais complexos e dinâmicos, algo que a mecânica de lanes não consegue alcançar totalmente.
Além disso, a morte dentro do mundo mágico não tem grandes consequências. Quando você morre, retorna à aldeia inicial e pode simplesmente tentar novamente, o que diminui o impacto de falhas. Uma maior permanência nas escolhas do jogador ou desafios mais difíceis poderiam tornar essa parte do jogo mais envolvente.
VED e a Jornada de Descobrimento da Magia
VED oferece uma visão única sobre como a magia e as escolhas podem interagir dentro de um jogo, mas a execução, especialmente nas mecânicas e na escrita, tem seus altos e baixos. A narrativa, com suas factions e personagens excêntricos, tem potencial, mas é comprometida por falhas em sua coerência e nos diálogos. Por outro lado, a exploração no mundo mágico tem um conceito fascinante, mas carece de profundidade estratégica e desafios reais.
No geral, VED é um jogo que combina narrativa interativa com mecânicas de RPG, mas que poderia se beneficiar de uma maior complexidade e maior consequência nas escolhas. Para os fãs de jogos de estratégia roguelike e RPGs de D&D, VED oferece uma experiência intrigante, mas que poderia ir além das suas ideias brilhantes e alcançar uma execução mais refinada.