The Black Sea (2024) - Crítica

 "The Black Sea": Uma Comédia Sem Profundidade e um Olhar Superficial sobre a Experiência de Ser um Estrangeiro

Em um cenário bucólico na costa da Bulgária, "The Black Sea" se apresenta como uma comédia dramática com promessas de humor leve e uma reflexão sobre a experiência de ser um estranho em uma terra estrangeira. Dirigido por Derrick B. Harden e Crystal Moselle, o filme segue Khalid (interpretado por Harden), um nova-iorquino despreparado que, em busca de uma oportunidade para sair de sua vida estagnada em Brooklyn, acaba se vendo preso em um enredo que mais parece uma série de encontros e desencontros sem maior profundidade. Embora o filme tenha um ponto de partida que poderia render discussões interessantes sobre identidade, estrangeirismo e pertencimento, ele opta por uma narrativa mais superficial, afastando-se de uma análise mais crítica ou cômica das questões que suscita.

Khalid em Terra Estranha: A Jornada de um Nova-Iorquino em Busca de Algo Mais

Khalid, o protagonista, é um homem comum de Brooklyn que, desiludido com sua vida como barista e com a ideia de nunca conseguir dinheiro suficiente para voltar para casa, decide aceitar uma misteriosa proposta via Facebook. Ele viaja até a Bulgária, onde se depara com um país que não apenas é fisicamente distante, mas também culturalmente exótico para ele. Sua missão inicial — encontrar e tocar uma mulher chamada Raya para receber $10.000 — rapidamente se transforma em uma sequência de acontecimentos que o deixam sem rumo, preso a um destino que ele mesmo não consegue controlar.

A premissa de Khalid como peixe fora d'água poderia gerar situações cômicas e momentos de reflexão sobre a alienação cultural. No entanto, o filme se contenta com a ideia de mostrar um estrangeiro perdido em sua busca por dinheiro fácil, sem explorar as potenciais dinâmicas raciais ou culturais de ser um homem negro em um país como a Bulgária. Em vez de desafiar o espectador a refletir sobre essas questões, "The Black Sea" se limita a situações superficiais, com um humor baseado em clichês e situações previsíveis.

A Comédia de Situação sem Urgência Dramática

Em boa parte do filme, a trama se desenrola sem grande urgência dramática. Khalid, sem seu passaporte e sem apoio financeiro de casa, se vê dependente de uma série de pequenos empregos e amizades temporárias, incluindo uma amizade com Ina (interpretada por Irmena Chichikova), uma agente de viagens local. Mesmo em momentos de tensão, como os desentendimentos com Georgi (interpretado por Stoyo Mirkov), um pescador búlgaro arrogante, a narrativa nunca parece ter muito a perder. As possíveis disputas entre os personagens se diluem em situações de baixo impacto emocional, sem que o público realmente se importe com o desfecho dessas interações.

Khalid e Georgi, que começam com uma relação de antagonismo, nunca chegam a um confronto real. Isso reflete a falta de propósito claro no desenvolvimento das relações do filme. A amizade de Khalid com Ina também segue um caminho previsível, onde não há química romântica real, e seu relacionamento com ela se arrasta sem grandes reviravoltas ou crescimento emocional. A relação deles permanece em um estado de constante incerteza, mas sem o tipo de tensão dramática que poderia torná-la mais envolvente.

A Superficialidade dos Estereótipos e o Desaproveitamento de Potenciais Culturais

Outro ponto fraco do filme é a forma como ele explora, ou melhor, não explora, as diferenças culturais entre Khalid e os habitantes da Bulgária. Em filmes como esse, onde o protagonista é um estrangeiro em uma terra desconhecida, espera-se que o filme traga à tona questões de racismo, xenofobia ou até a simples estranheza de ser um "outsider" em um lugar tão diferente. No entanto, "The Black Sea" opta por não aprofundar essas questões.

Por exemplo, o filme mostra Khalid sendo uma figura curiosa para os búlgaros, com selfies tiradas com ele e reações que variam entre flertes e desconfiança. Embora a ideia de ser visto como uma novidade ou uma curiosidade seja interessante, o filme não se dedica a explorar o que realmente isso significa, tanto para Khalid quanto para as pessoas ao seu redor. Em vez disso, o filme faz um uso raso e conveniente dessas interações, sem questionar o significado mais profundo dessa dinâmica cultural.

Além disso, o filme desperdiça uma oportunidade única ao não abordar o fato de que Khalid é o único homem negro em um país que parece ser predominantemente branco. Quando Ina se refere a Khalid como um "turista" e não como um "migrante", essa distinção passa sem mais explicações ou reflexões. Como isso impacta a forma como ele é visto e tratado pelos búlgaros? O filme não se aprofunda nesse ponto, deixando o público à deriva, sem saber o que pensar sobre essas questões. O que poderia ser uma reflexão poderosa sobre a experiência de ser negro em um lugar estrangeiro é, na verdade, uma oportunidade perdida.

A Narrativa Sem Foco e o Tom Excessivamente Leve

A estrutura do filme se desenrola como uma sequência de episódios desconectados e de situações em que Khalid se vê envolvido, como quando ele abre uma pequena cafeteria que serve matcha green tea e grilled cheese para tentar se adaptar à vida local. A piada sobre a gentrificação de Brooklyn, que é mencionada por Khalid de forma quase incidental, poderia ter sido um comentário interessante, mas o filme não se aprofunda nesse tópico, tornando o comentário apenas uma observação descompromissada.

Essa falta de foco é ainda mais evidente na forma como o filme trata o conflito entre os personagens. A história não parece ter um objetivo claro além de apresentar uma série de eventos e encontros, e isso faz com que o espectador se sinta desinteressado no desenrolar das situações. As interações entre Khalid e os outros personagens são predominantemente inofensivas, mas nunca atingem o nível de envolvimento emocional necessário para criar uma narrativa impactante.

O Filme Se Apresenta Como uma Comédia, Mas Falha na Reflexão

Embora "The Black Sea" seja promovido como uma comédia dramática, ele falha em equilibrar os momentos de leveza e tensão de forma eficaz. Em muitos momentos, o filme parece uma história de viagem simples, sem a complexidade necessária para que se torne memorável ou relevante. A ausência de comentários sociais, a falta de personagens complexos e a superficialidade dos temas tratados impedem que o filme se destaque de outras comédias independentes que falham em encontrar profundidade nas suas abordagens.

Embora o carisma de Derrick B. Harden como Khalid traga alguma leveza para a trama, a performance não é suficiente para salvar o filme de sua falta de estrutura. A química entre Harden e Chichikova é palpável, mas nunca se transforma em algo mais significativo ou transformador. O filme permanece superficial e sem ambição, mesmo com as oportunidades de exploração cultural e social que ele desperdiça.

Um Filme Que Não Vai Além da Superfície

"The Black Sea" é um filme que tenta abordar questões de identidade e estrangeirismo, mas acaba ficando preso em uma zona de conforto. Ele prefere seguir os clichês de uma comédia sem maiores riscos, sem questionar de forma mais profunda os desafios que seu protagonista enfrenta em um país desconhecido. Embora o filme tenha um enredo simpático e um tom leve, ele não vai além da superfície, deixando de explorar as complexidades da experiência humana em uma cultura estrangeira. No fim, "The Black Sea" é um filme de passagem, mais preocupado em ser agradável do que provocador.

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