Terminator #2 - Crítica

 Análise de The Terminator #2: Uma Regressão na Execução de um Conceito Promissor

Quando falamos de grandes conceitos dentro do universo dos quadrinhos, poucas franquias conseguem se destacar tanto quanto a de The Terminator. Criada por James Cameron no cinema, a ideia de um assassino implacável do futuro surgindo no passado para alterar os eventos que levariam à criação de Skynet já é por si só uma premissa eletrizante. Em sua adaptação para os quadrinhos, particularmente na série de The Terminator da Dynamite Entertainment, a narrativa propõe revisitar um dos episódios mais sombrios da história moderna: o final da Guerra do Vietnã, em 1975. Porém, apesar do conceito interessante e da ideia de explorar o impacto de uma máquina do futuro em um cenário de guerra, The Terminator #2 acaba deixando a desejar.

A Premissa: O Terminator na Guerra do Vietnã

A edição de novembro de 2024 de The Terminator #2 nos transporta para o fim da Guerra do Vietnã, um momento histórico onde as forças americanas estão em retirada e o país se prepara para evacuar seus soldados. O protagonista da história, Private Duggan, é um soldado que está aproveitando seu último período de folga em Saigon, mas é inesperadamente chamado de volta para a linha de frente. Ao retornar, ele descobre que seu setor está sendo invadido por uma força inimiga misteriosa. Esse inimigo, por sua vez, não parece ser o Viet Cong ou qualquer unidade conhecida do Exército Norte-Vietnamita (NVA). Os rumores começam a se espalhar sobre um "pelotão de um homem só", um ser implacável que, logo mais, Duggan irá enfrentar: o Terminator.

A premissa é intrigante e apresenta uma fusão interessante entre dois cenários que nunca antes se encontraram no universo da franquia: o conflito militar real e a ficção científica. A ideia de um Terminator, uma máquina do futuro, aparecendo no meio da guerra mais famosa da segunda metade do século 20 é um conceito que, em teoria, poderia oferecer uma mistura única de ação e tensão histórica. Porém, como veremos, a execução desse conceito no quadrinho de Declan Shalvey não atinge o seu potencial máximo.

O Problema Central: A Execução de uma Boa Ideia

Embora a premissa de The Terminator #2 seja promissora, o desenvolvimento da história e o ritmo da narrativa não conseguem corresponder à intensidade que o conceito exige. A história gira em torno de Dug, um soldado americano tentando cumprir uma missão importante enquanto é perseguido por uma força misteriosa. A grande revelação é a aparição do Terminator, uma máquina do futuro que entra em confronto com as forças locais, incluindo um tanque de guerra e uma série de confrontos com soldados.

O Terminator é apresentado como uma máquina que, mesmo sob fogo intenso, não parece ser afetado por balas ou granadas, uma característica clássica da franquia. No entanto, o que poderia ser uma cena tensa e eletrizante de confronto entre o homem e a máquina é prejudicado pela rigidez da narrativa e dos diálogos. A história parece se arrastar, como se os eventos fossem movidos mais por convenções do que por uma lógica interna bem desenvolvida. Isso enfraquece o impacto da ação e torna a experiência de leitura menos imersiva.

O Maior Desafio: A Arte de David O’Sullivan

Um dos maiores desafios de The Terminator #2 é o trabalho de David O’Sullivan nos desenhos. O artista não consegue transmitir a energia necessária para um cenário de guerra e ação tão carregado de adrenalina. As ilustrações são rigidas e desajeitadas, o que acaba prejudicando a experiência visual do leitor. Em vez de capturar a fluidez da batalha e a ameaça iminente representada pelo Terminator, os quadros parecem travados, com as posições dos personagens e dos elementos de ação parecendo fora de sintonia.

As cenas de luta são particularmente prejudicadas, com os movimentos do Terminator e de Dug parecendo artificiais, como se fossem figuras de ação de plástico sendo manipuladas de maneira forçada. A falta de dinamismo na arte de O’Sullivan é um grande contraste com a tensão que a história tenta criar. A representação da máquina implacável e do caos da guerra se perde na tentativa de renderizar um conceito que exigiria uma abordagem mais fluida e visceral.

Além disso, a paleta de cores de Colin Craker e a lettering de Jeff Eckleberry não conseguem amenizar a sensação de que as cenas de ação parecem desajustadas, com escolhas de design que não colaboram para dar fluidez ao ritmo da história. A falta de uma articulação visual mais bem feita resulta em um quadrinho que, em muitos momentos, parece ser um tanto improvisado.

O Problema do Back-Up: Uma História Curta e Incompleta

Outro ponto negativo da edição é a história de apoio (back-up) que ocupa uma página do quadrinho. Escrita por Sal Crivelli, com arte de Colin Craker, essa história curta parece uma tentativa de complementar a narrativa principal, mas acaba deixando o leitor mais confuso do que intrigado. A história, com apenas uma página, é extremamente curta e parece mais um fragmento de algo maior, mas não oferece profundidade nem conclusão.

Como uma continuação ou complemento da primeira edição, essa história de apenas uma página não faz sentido dentro do contexto da edição e parece mais uma distração. Em termos de execução, a arte apresentada é bem mais agradável visualmente do que a história principal, mas a falta de desenvolvimento da narrativa faz com que o back-up se sinta como um adendo forçado, sem muita relevância para a trama principal.

Conclusão: Um Conceito Promissor, Mas Execution Falha

Em resumo, The Terminator #2 é um exemplo claro de como um grande conceito pode ser prejudicado pela execução apressada. A ideia de transportar o Terminator para o final da Guerra do Vietnã é fascinante, mas o ritmo arrastado, as decisões visuais questionáveis e a falta de intensidade nas cenas de ação acabam tirando muito do potencial da narrativa. A história se arrasta, e o protagonismo do Terminator, normalmente uma força imparável, não é adequadamente representado.

A arte de David O’Sullivan falha em dar vida ao enredo de ação esperado, e os leitores que estavam ansiosos por uma fusão de ficção científica com um dos períodos mais tensos da história moderna provavelmente sairão desapontados. O único alívio para essa edição fica por conta da história de apoio, mas ela não consegue compensar as falhas estruturais da edição principal.

No fim das contas, The Terminator #2 tem potencial, mas a execução de Declan Shalvey, David O’Sullivan e companhia não consegue entregar a experiência que os fãs esperavam. Espera-se que futuras edições possam corrigir esses erros e levar a série de volta à trilha certa, pois a premissa em si ainda é sólida o suficiente para atrair leitores dispostos a explorar o confronto entre a máquina e a guerra humana.

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