Plastic Man No More! #3 - Crítica

 Plastic Man No More! #3: A Transformação de Eel, o Herói Que Não Pede Desculpas

"Plastic Man No More!" não é apenas um título provocador. Neste terceiro número da série de Christopher Cantwell, o protagonista Eel O'Brian, conhecido por sua flexibilidade, habilidade de se transformar e seu senso de humor irreverente, passa por uma transformação drástica. O herói, que sempre se adaptou e se moldou às situações à sua volta, finalmente "se quebra". Eel está cansado de se dobrar aos outros, cansado de ser o herói que todos esperam dele, e, mais importante, cansado de ser Plastic Man. Ao invés de moldar sua vida, ele finalmente se vê se desmoronando. Este é um momento de ruptura não só no sentido figurado, mas também literal, pois Plastic Man no More! destaca-se por sua fusão de humor, tragédia e uma crescente sensação de horror, uma abordagem inovadora para um personagem geralmente associado a uma leveza cômica.

Eel O'Brian: De Herói a Anti-Herói

A história se afasta do usual, começando a mostrar Eel O'Brian em uma jornada sombria. Ao contrário de outros arcos de Plastic Man, onde o personagem geralmente se encaixa perfeitamente no papel de herói travesso, em Plastic Man No More!, ele começa a se afastar daquilo que sempre foi. Cantwell apresenta um Eel quebrado — não só no sentido físico, como suas habilidades estão deteriorando, mas também emocionalmente e moralmente. 

O quadrinho gira em torno da crescente desilusão de Eel com sua identidade como herói. Ao ponto em que, ao final deste número, ele já não se vê mais como aquele herói bobo, flexível e cômico.

Neste ponto da história, Eel já se afastou de seus valores heróicos e se recusa a se adaptar aos moldes dos outros. "Plastic Man No More!" leva Eel a um espaço onde ele pode finalmente dar vazão a suas frustrações, deixando de lado as fantasias heroicas e revelando a crueza do ser humano por trás da máscara. Este é um passo importante para o personagem, que nunca foi tratado com a seriedade que merecia dentro do universo DC. Cantwell, portanto, investe profundamente na transformação psicológica do herói, desenvolvendo um arco de autodescoberta trágica que será mais marcante do que qualquer uma de suas travessuras anteriores.

A grande reviravolta neste número é a forma como o ex-herói perde sua humanidade, com a história tomando um tom mais sombrio e fatalista. Quando Eel finalmente se vê em uma posição em que precisa de ajuda, ele é incapaz de agarrar a oportunidade de redenção, com sua própria natureza mutável o impedindo de fazer isso. Sua mão, de forma simbólica e literal, desmorona diante dele, uma metáfora poderosa para o declínio de sua moralidade e humanidade.

O Equilíbrio Entre Comédia e Tragédia

Plastic Man sempre foi um personagem que navegava com facilidade entre o cômico e o heróico, mas Cantwell aqui mistura esses elementos de uma maneira mais sombria e mais intensa. Um dos maiores acertos do escritor é conseguir manter o humor ácido de personagens como Uranium e Detective Chimp, que com suas respostas sarcásticas e inusitadas conseguem equilibrar o tom pesado da narrativa. A comédia desses personagens serve para aliviar o peso emocional da história, dando ao leitor o respiro necessário antes de ser novamente lançado de volta ao desespero e à tragédia.

O contraste entre os personagens excêntricos como Uranium, Detective Chimp, e Luke, e o declínio sombrio de Eel é o que torna essa história tão fascinante. Mesmo personagens com premissas ridículas ou absurdas, como um macaco detetive, conseguem ainda assim anclar a história na realidade, proporcionando uma perspectiva mais racional sobre as situações em que se encontram.

O destaque aqui é como os elementos de absurdo e tragédia coexistem e, na verdade, se reforçam mutuamente. Ao invés de cair na tentação de tornar a história uma sequência de piadas e aventuras malucas, Cantwell investe em um equilíbrio emocional que mantém o leitor sempre cativado pela crescente tensão, ao mesmo tempo que oferece momentos de leveza através de personagens que quebram a seriedade do cenário.

A Arte: O Refletir da Decadência de Eel

A arte de Alex Lins e Jacob Edgar neste número continua sendo um dos grandes atrativos da série, com uma decadência visual que espelha a transformação interna de Eel. O traço tem um toque grosso e distorcido, especialmente durante as cenas mais grotescas, o que funciona perfeitamente para o tipo de história que Cantwell quer contar. O personagem, que normalmente é representado de forma flexível e elástica, agora se vê sendo desfigurado, com seu corpo virando uma massa de carne em decomposição, refletindo sua desintegração tanto física quanto emocional. Isso cria uma desconexão visual entre o herói clássico e a realidade sombria à qual Eel se destina.

O trabalho com as cores é igualmente impressionante, com o tom geral da história evoluindo para algo mais escuro e melancólico à medida que Eel perde o controle de sua própria vida. A transição de cores de um cenário vibrante e heróico para um cenário de completa derrota funciona como uma metáfora visual para o estado de Eel. Não apenas sua aparência muda, mas também o mundo ao seu redor, como se ele estivesse se afundando em um abismo pessoal.

A transição do estilo de desenho de uma abordagem mais clássica para uma mais grotesca e desfigurada também espelha a perda de identidade de Eel. Ele já não se sente mais confortável em sua forma heroica; ele está se desintegrando, e a arte faz isso com um impacto visceral.

Conclusão: Uma Nova Era para Plastic Man

Com Plastic Man No More! #3, Christopher Cantwell consegue não só revolucionar um personagem clássico da DC, mas também explorar temas universais de desilusão, autossabotagem e perda de identidade. Ao trazer um enfoque mais sombrio e realista para um personagem geralmente associado ao humor e à irreverência, Cantwell cria uma história envolvente e profundamente humana. O tom de tragédia de Eel, o desespero que se acumula e a maneira como ele acaba se afastando do herói que sempre foi, cria uma narrativa mais poderosa e com muito mais profundidade do que um simples conto de super-herói.

A arte de Alex Lins e Jacob Edgar complementa brilhantemente o tom de destruição emocional e física que a história procura transmitir, tornando este quadrinho uma das melhores leituras para aqueles que desejam algo mais sombrio e reflexivo dentro do universo DC.

Plastic Man No More! #3 é uma história de transformação dolorosa, e se o futuro de Eel for de fato um "explosivo fim", como sugerido no clímax da edição, então Plastic Man como conhecemos pode nunca mais voltar.

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