Análise Crítica: A Nova Fase de Catwoman – Uma Corrida Sem Garras?
A mais recente edição de Catwoman, lançada em 20 de novembro de 2024, prometia seguir com o impacto de sua introdução, mas será que a história mantém o ritmo ou já começa a perder a força? Como um especialista em quadrinhos, vamos analisar os principais pontos que definem essa edição e a fase atual da personagem, avaliando os acertos e os pontos fracos dessa narrativa.
A Introdução e Seus Desafios
No início dessa nova fase, a promessa era grande. A primeira edição havia apresentado um gancho interessante, envolvendo Selina Kyle, também conhecida como Catwoman, em uma trama que misturava mistérios e tensão. Porém, o que vimos nesta nova edição parece se perder na repetição de fórmulas conhecidas, sem conseguir inovar ou dar novos rumos à personagem.
A narrativa começa a revelar mais sobre o passado de Selina, especificamente sobre a época em que ela se disfarçou como Evie Hall. Durante esse período, ela trabalhou para um rico empresário, e agora, anos depois, sua família está em guerra pelo que ele deixou para trás. Essa luta pelo poder dentro da família rica parece uma tentativa de paralelismo com o que Selina vive em seu próprio enredo, onde seus segredos estão sendo gradualmente expostos, enquanto ela é caçada. No entanto, a repetição de tropos familiares e clichês acaba enfraquecendo a narrativa. O conflito familiar que deveria ser o motor da história se torna, na verdade, uma caricatura de algo que já vimos em outras histórias.
A crítica ao novo vilão – a família aristocrática – é válida. Seus membros parecem unidimensionais e seus motivos não são suficientemente profundos para gerar o tipo de interesse necessário. A ideia de segredos sendo mantidos por tanto tempo até se tornarem irrelevantes é interessante, mas é uma premissa que carece de um desenvolvimento mais elaborado para realmente engajar os leitores.
A Fadiga de Catwoman e Seus Encontros Genéricos
Quando se trata das partes que envolvem Catwoman, a sensação de familiaridade é ainda mais forte. A edição traz mais uma figura do passado de Selina, uma perseguição e, claro, uma luta. Porém, a falta de tensão nessas cenas é alarmante. Selina acaba superando todos os obstáculos sem grandes dificuldades, o que torna todo o desenrolar previsível. O que se percebe é uma repetição de temas de quadrinhos anteriores: a heroína enfrenta os inimigos, supera-os com facilidade, e o ciclo continua sem grandes surpresas.
A introdução de novos personagens também não ajuda. São “randos sem nome”, vilões sem rosto ou identidade marcante, e isso torna difícil se importar com eles. Eles surgem em uma sequência de “níveis” — desde os amadores com pistolas até os profissionais, que, no caso, são snipers. No fim das contas, essas figuras são apenas obstáculos passageiros, e o jogo de “riscos e desafios” acaba se tornando algo previsível e sem energia. A comparação que o autor faz é de que o leitor acaba se sentindo como alguém em uma festa onde não conhece ninguém, e a sensação de desinteresse é quase palpável.
Problemas Visuais e Estilísticos
A arte, assinada por Fabiana Mascolo, segue um padrão consistente, mas com alguns detalhes que podem ser irritantes. Por exemplo, as escolhas de letra em alguns momentos tornam a leitura difícil, o que prejudica a imersão do leitor. A escolha estética de mostrar um fotógrafo na cena, aparentemente sem importância, é interessante do ponto de vista narrativo, mas acaba se tornando mais uma distração do que uma adição relevante ao enredo.
Outro detalhe visual que chama atenção é o guarda-roupa de Selina. A heroína é vista usando uma camiseta rosa-bebê sobre seu traje de Catwoman, o que é uma escolha estranha e pouco prática para um personagem que se caracteriza por sua agilidade e sigilo. Além disso, mais para o final, Selina tenta se esconder, mas em vez de um disfarce inteligente, ela simplesmente anda pela rua com sua máscara de Catwoman, sem qualquer tentativa de disfarce real. Essas escolhas podem ser vistas como uma tentativa de humanizar a personagem, mas na prática parecem incoerentes com a natureza da heroína e sua identidade secreta.
Um Enredo Sem Alma?
A edição parece sofrer de uma grande falta de originalidade. O enredo é recheado de clichês e reviravoltas já bastante exploradas no universo dos quadrinhos. O que falta é uma nova visão para Catwoman, que traga algo fresco para os leitores. Em vez disso, temos uma história genérica com personagens vazios e uma protagonista que parece tão desinteressada quanto o próprio leitor.
Selina Kyle, até o momento, não parece ter encontrado um novo rumo para sua jornada. Ao contrário, ela parece cada vez mais entediada com os acontecimentos ao seu redor — e essa falta de energia é sentida em toda a edição. Se a própria Catwoman está entediada, o que sobra para o leitor? A impressão é de que a série não está sabendo o que fazer com a personagem, deixando-a presa em uma trama sem propósito real.
Conclusão: Catwoman de Garras Cortadas?
No final, essa edição de Catwoman não consegue manter o ritmo promissor de sua estreia. Embora tenha pontos positivos, como a consistência na arte e algumas boas ideias iniciais, a trama se perde em um mar de clichês e personagens sem profundidade. O que se apresenta é uma história genérica e uma Catwoman que parece desinteressada, o que se reflete diretamente na experiência do leitor. A falta de uma ameaça real, a introdução de vilões fracos e as escolhas estilísticas questionáveis tornam esta edição uma decepção, especialmente se comparada ao potencial inicial da série.
Se você é fã de histórias clássicas de Catwoman, pode encontrar algum prazer nesta edição, mas, para quem busca algo mais inovador e empolgante, é provável que essa fase de Catwoman ainda não tenha encontrado seu caminho. A verdadeira questão agora é: Selina Kyle conseguirá recuperar suas garras antes que seja tarde demais?