Aqui (2024) - Crítica

 "Here" (2024): A Viagem do Tempo e da Vida com Robert Zemeckis, Tom Hanks e Robin Wright

Em um momento raro e inesperado da cinematografia, Here se apresenta como um filme ousado que transita entre a ficção científica, o drama e o conceito de tempo de maneira revolucionária. Dirigido por Robert Zemeckis, conhecido por clássicos como Forrest Gump (1994) e De Volta para o Futuro (1985), Here é uma adaptação da graphic novel de Richard McGuire de 2014, que explora os eventos que ocorrem ao longo de milhões de anos em um único ponto da Terra. Com a presença marcante de Tom Hanks e Robin Wright, o filme oferece uma reflexão profunda sobre a natureza do tempo, da vida e da experiência humana, tudo isso com um toque de comicidade e profundidade emocional.


O Conceito Inovador: O Tempo Como Personagem

O que torna Here tão único não é apenas a maneira como ele lida com o tempo, mas também como o filme transforma o espaço físico em algo muito maior do que um simples local de ação. O enredo gira em torno de uma única localização na Terra, um espaço que testemunha momentos históricos e pessoais ao longo de milhões de anos, desde o impacto de Chicxulub que dizimou os dinossauros até os dias atuais, passando pela Guerra Civil Americana, a era pré-colombiana e a vida de diferentes casais que habitaram essa mesma casa.

A maior parte do filme se concentra no casal Richard (Tom Hanks) e Margaret (Robin Wright), cuja história de amor atravessa diferentes fases da vida, desde o namoro na juventude até os últimos anos de vida juntos. Ao longo do filme, os espectadores são levados a uma viagem no tempo, experimentando como a relação de Richard e Margaret evolui ao longo das décadas, enquanto ao mesmo tempo a casa em que vivem testemunha os acontecimentos históricos que aconteceram no mesmo local.

O formato de "time-lapse" é um dos elementos centrais do filme, uma técnica que permite que a câmera capture a sensação de passagem do tempo de uma forma única, criando um contraste interessante entre os momentos de intimidade pessoal e os grandes acontecimentos da história. O uso do tempo como um personagem central é uma abordagem inovadora e permite que Zemeckis explore questões como o legado, a memória e o que realmente significa viver em um mundo que está sempre mudando.

Tom Hanks e Robin Wright: Uma Parceria de Longa Data

O elenco de Here é um dos pontos fortes do filme, e a presença de Tom Hanks e Robin Wright novamente juntos é uma verdadeira delícia para os fãs de seus trabalhos anteriores, especialmente de Forrest Gump. Hanks, interpretando Richard, traz sua habilidade clássica de transmitir uma mistura de vulnerabilidade e resiliência, capturando a evolução de seu personagem de um jovem apaixonado até um homem mais velho que enfrenta as realidades da vida e do tempo. Sua química com Robin Wright, que interpreta Margaret, é palpável e profunda. Wright, por sua vez, é brilhante em sua representação de uma mulher que lida com os altos e baixos da vida, e sua atuação traz uma leveza que equilibra a profundidade emocional da história.

Paul Bettany, como Al, e Kelly Reilly, como Rose, também se destacam em papéis de apoio, com personagens que ajudam a preencher o universo da narrativa com questões que transcendem a vida de Richard e Margaret, adicionando camadas de complexidade emocional ao filme.

A Direção de Robert Zemeckis: Uma Visão de Longo Prazo

Robert Zemeckis, com sua vasta experiência no campo da ficção científica e aventura, traz uma direção refinada que se ajusta perfeitamente ao conceito de Here. Ele consegue equilibrar a comédia e o drama de forma sutil, sem nunca cair no melodrama. A maneira como Zemeckis utiliza o espaço e o tempo no filme é tanto um exercício técnico quanto uma busca por um significado mais profundo. O diretor sabe como criar momentos intensos, mas também consegue dar espaço para a leveza e a reflexão, algo que é muito presente no trabalho de Zemeckis, especialmente em filmes como Forrest Gump.

O modo como Zemeckis manipula o ritmo e as transições de tempo é algo de se admirar. Ele usa flashbacks e avanços rápidos no tempo para permitir que a audiência entenda a vasta extensão temporal em que a história se desenrola, sem que o filme perca sua coerência emocional. A forma como o diretor capta o impacto de momentos históricos e pessoais ao mesmo tempo faz com que o filme nunca se sinta como uma simples narrativa linear, mas como uma exploração multifacetada da condição humana.

O Filme como "Comic Book Movie"

Embora Here não seja, de fato, um "filme de quadrinhos" no sentido tradicional, é interessante notar a maneira como ele resgata alguns dos elementos característicos dos filmes baseados em quadrinhos. A ideia de seguir um único espaço através de diferentes momentos históricos e versões de personagens lembra a estrutura de multiversos e linhas do tempo alternativas que são tão comuns nas adaptações de quadrinhos, como Doctor Strange no Multiverso da Loucura (2022) e Spider-Man: Into the Spider-Verse (2018). No entanto, Here evita as grandiosas batalhas entre bem e mal, focando em algo mais sutil e filosófico: o impacto do tempo nas vidas humanas.

Essa abordagem é um contraste marcante em relação aos tradicionais filmes de super-heróis, onde a ação e os confrontos são centrais para a narrativa. Here se distancia disso ao adotar um formato que não visa ao espetáculo, mas à introspecção e à meditação sobre a vida e a existência.

Comparação com Filmes Similares

Here pode ser comparado a outros filmes que lidam com a passagem do tempo de maneiras não convencionais. Filmes como O Tempo Não Para (2019), de Michel Gondry, e The Tree of Life (2011), de Terrence Malick, também lidam com temas de temporalidade e memória, usando diferentes estilos narrativos para explorar a complexidade da vida humana. Contudo, a escolha de Zemeckis de focar em um único ponto no espaço e como ele testemunha as mudanças ao longo dos milênios é uma abordagem mais única e menos explorada no cinema contemporâneo.

Filmes como The Fountain (2006), de Darren Aronofsky, e Cloud Atlas (2012), de Tom Tykwer e os irmãos Wachowski, também tocam na ideia de destino e interconexão, e podem ser comparados a Here pela forma como lidam com as complexas relações entre personagens ao longo do tempo e como suas histórias se entrelaçam.

Conclusão: Um Filme Profundo e Reflexivo

Here é uma obra cinematográfica que transcende as expectativas de um "filme de quadrinhos", oferecendo uma experiência única e introspectiva sobre o impacto do tempo, da identidade e da evolução humana. Com a direção habilidosa de Robert Zemeckis, a brilhante atuação de Tom Hanks e Robin Wright, e uma narrativa que mistura história, ficção científica e drama pessoal, o filme se estabelece como uma das experiências cinematográficas mais reflexivas e emocionantes do ano. Ao criar um filme que brinca com o tempo e espaço de maneira inovadora, Here oferece muito mais do que apenas uma história sobre o passado e o futuro – ele nos convida a refletir sobre o que significa viver no presente e como as escolhas de hoje podem ecoar através das gerações.

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