Drift, o novo filme do diretor de Singapura Anthony Chen, retrata a jornada de uma refugiada da África Ocidental, Jacqueline (Cynthia Erivo), que se vê sozinha e desamparada em uma ilha grega. Sem falar uma palavra durante os primeiros dez minutos de Drift, ela observa silenciosamente o ambiente hostil, carregando um trauma que a consome por dentro.
Ela teme tudo e todos, se abriga em uma caverna, se alimenta do que encontra, e ganha alguns trocados lavando os pés dos turistas na praia.
Chen, porém, não consegue transmitir a complexidade da situação de Jacqueline, e acaba a tratando como uma estranha, sem a devida sensibilidade para narrar essa história dramática. Ele usa a câmera de forma equivocada para mostrar Jacqueline como alguém que não se encaixa. Isso soa mais como um erro grave do que como um recurso estilístico. A empatia parece forçada, e a falta de clareza da narrativa só reforça essa impressão.
Por meio de flashbacks, Chen revela o passado de Jacqueline, que era filha de um funcionário do governo da Libéria, e vivia alheia à morte que assolava o seu país, até que a violência bate à sua porta. Ela estava cursando uma faculdade em Londres e se relacionando com outro estudante de classe alta, papel que rende uma breve aparição de Honor Swinton Byrne. Tudo isso, porém, é superficial, uma tentativa vazia de recriar sua vida. Jacqueline nunca se torna uma personagem tridimensional. Os detalhes de sua vida, tanto passada quanto presente, são genéricos, baseados em clichês, ficções e exemplos históricos que escondem histórias mais autênticas.
O filme de Chen não demonstra o respeito necessário para essa história, e desperdiça o talento de Erivo em um papel que não faz jus às suas capacidades já reconhecidas. O roteiro é o principal responsável por esse fracasso, ao tentar abarcar toda a política da África Ocidental e toda a experiência dos refugiados.