The Long Shadow: Uma reflexão sobre a obsessão com os assassinatos de Jack, o Estripador e Peter Sutcliffe
O termo “ripperology” foi cunhado na década de 1970 para descrever a comunidade obsessiva que cresceu, ao longo de um século, em torno do caso Jack, o Estripador. Alguns estripadores postularam teorias absurdas, outros defenderam suspeitos obscuros ou perseguiram os redutos do assassino no leste de Londres. Alguns voltaram o foco para suas vítimas. Mas todos foram movidos pelo estranho sentimento de curiosidade que surge da proximidade com o mal.
Essa fixação pelos assassinatos vitorianos não resolvidos levou, também na década de 1970, à marca de um novo Estripador pela mídia e à criação de uma nova legião de Estripadores. Desta vez, foi o Estripador de Yorkshire – Peter Sutcliffe – o tema de um novo drama da ITV em sete partes, The Long Shadow.
A série começa com a descoberta do corpo de uma prostituta em Leeds, em 1975. A polícia está confiante de que resolverá o caso rapidamente, mas os dias se transformam em semanas, as semanas em anos e os corpos começam a se acumular.
No centro do caso, em seus primeiros momentos, está o Detetive Chefe Superintendente Dennis Hoban (Toby Jones). O trabalho do DCS Hoban é duplo: ele deve capturar o assassino, mas também lutar contra a indiferença pública aos assassinatos de profissionais do sexo.
“Enquanto este homem estiver foragido”, declara solenemente, num apelo televisivo, “nenhuma prostituta estará segura”.
Jones e Morrissey são o núcleo de um elenco de excelentes atores britânicos (que inclui Daniel Mays, Lee Ingleby, Liz White e muitos outros), e o drama se desenrola em um cenário impecavelmente recriado do Yorkshire dos anos 1970.
À medida que o caso avança, os detetives que supervisionam as investigações mudam, mas as vítimas permanecem as mesmas: mulheres jovens, predominantemente profissionais do sexo, alvo da figura sombria de Sutcliffe (Mark Stobbart).
Estruturalmente, The Long Shadow tem um foco episódico tanto nas mudanças na equipe policial quanto em cada vítima, percorrendo suas vidas à medida que chegam ao fim.
No primeiro episódio, por exemplo, uma das eventuais vítimas é empurrada pela insegurança financeira para o trabalho sexual. Sua morte acontece, felizmente, fora da tela, mas não antes de sua primeira experiência de “solicitação” ser mostrada em detalhes gráficos.
Em casa, os filhos da mulher ficam chocados ao ouvir a mãe ser referida, na televisão, como prostituta. É difícil imaginar o que pensariam dessa dramatização de suas últimas horas.
A história infiltrou-se na psique nacional e agora numa dramatização de prestígio. “Por que eles o chamaram de Estripador?” a mãe de uma das vítimas se desespera, enquanto o programa inadvertidamente se castiga pela glamourização de um dos piores serial killers da Grã-Bretanha.
O título de The Long Shadow fala sobre o legado da violência, seu impacto através das gerações. Mas, na realidade, o programa dedica apenas os dez minutos finais a esta questão. A sombra mais longa projetada aqui é, na verdade, a fixação contínua com os detalhes sangrentos, que domina uma nação de Estripadores.
A série é bem produzida e atuada, mas é difícil escapar da sensação de que está apenas alimentando a obsessão que ela pretende explorar.
O drama é uma visão sombria e perturbadora de um período sombrio da história britânica. Mas, no final, é mais uma reflexão sobre a nossa própria fascinação com o mal do que uma história sobre as vítimas.