O filme abre com imagens de arquivo de um canteiro de obras de meados do século, mas logo gira para mostrar uma série de imagens assombrosas do museu como está atualmente: escuro, úmido e cheio de detritos.
Cenas sucessivas se concentram em três habitantes do espaço: uma mulher mais velha chamada Mara, uma criança turbulenta chamada Milica e a mãe cansada de Milica, Vera, que ganha dinheiro esfregando os pára-brisas de carros parados no sinal vermelho da rodovia.
"O vento levantou-se durante a noite e levou nossos planos embora", diz o provérbio nos títulos de abertura do Museu da Revolução. As palavras são uma referência ao plano de 1961 para construir um grande museu em Belgrado como uma homenagem à Iugoslávia socialista. Era para "salvaguardar a verdade" sobre o povo iugoslavo. Mas o plano nunca foi além da construção do porão. O prédio abandonado agora conta uma história muito diferente daquela imaginada pelos iniciadores há 60 anos. No prédio úmido e escuro vivem os párias de uma sociedade remodelada pelo capitalismo. O filme se concentra em uma menina que ganha um dinheirinho na rua limpando vidros de carros com a mãe. A menina tem uma grande amizade com uma velha que também mora no porão.
Muito do filme se desenrola sem falar. Os minutos passam enquanto Mara e Milica se divertem juntas ou aproveitam o tempo sozinhas. O diálogo que recebemos traz trechos da história de vida das mulheres: ficamos sabendo que Mara está afastada da filha, que o marido de Vera está preso e que a assistência social já tentou tirar a guarda de Milica pelo menos uma vez.
Keca frequentemente captura as mulheres durante períodos de espera e cria um clima de transitoriedade ao retratá-las através das estações, espaços e horas do dia. Este é um documentário envolvente e que levanta questões sobre a ética de intervir (ou não) na vida de pessoas que lutam para sobreviver. O fato de essas questões pairarem sem solução pode deixar os espectadores inquietos, mas também nos posiciona ao lado dos sujeitos, esperando por uma solução que ainda não chegou.