Museum of the Revolution (2023) - Crítica

O filme abre com imagens de arquivo de um canteiro de obras de meados do século, mas logo gira para mostrar uma série de imagens assombrosas do museu como está atualmente: escuro, úmido e cheio de detritos. 



Cenas sucessivas se concentram em três habitantes do espaço: uma mulher mais velha chamada Mara, uma criança turbulenta chamada Milica e a mãe cansada de Milica, Vera, que ganha dinheiro esfregando os pára-brisas de carros parados no sinal vermelho da rodovia.



"O vento levantou-se durante a noite e levou nossos planos embora", diz o provérbio nos títulos de abertura do Museu da Revolução. As palavras são uma referência ao plano de 1961 para construir um grande museu em Belgrado como uma homenagem à Iugoslávia socialista. Era para "salvaguardar a verdade" sobre o povo iugoslavo. Mas o plano nunca foi além da construção do porão. O prédio abandonado agora conta uma história muito diferente daquela imaginada pelos iniciadores há 60 anos. No prédio úmido e escuro vivem os párias de uma sociedade remodelada pelo capitalismo. O filme se concentra em uma menina que ganha um dinheirinho na rua limpando vidros de carros com a mãe. A menina tem uma grande amizade com uma velha que também mora no porão. 

Muito do filme se desenrola sem falar. Os minutos passam enquanto Mara e Milica se divertem juntas ou aproveitam o tempo sozinhas. O diálogo que recebemos traz trechos da história de vida das mulheres: ficamos sabendo que Mara está afastada da filha, que o marido de Vera está preso e que a assistência social já tentou tirar a guarda de Milica pelo menos uma vez.

Keca frequentemente captura as mulheres durante períodos de espera e cria um clima de transitoriedade ao retratá-las através das estações, espaços e horas do dia. Este é um documentário envolvente e que levanta questões sobre a ética de intervir (ou não) na vida de pessoas que lutam para sobreviver. O fato de essas questões pairarem sem solução pode deixar os espectadores inquietos, mas também nos posiciona ao lado dos sujeitos, esperando por uma solução que ainda não chegou.

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem