O avesso da pele - Jeferson Tenório - Resenha

Aos 44 anos, Tenório conta a história de uma família negra de Porto Alegre atravessada pelo racismo cotidiano. Henrique é um professor de literatura da rede pública brutalmente assassinado em uma abordagem policial desastrosa. A história é narrada pelo filho dele, Pedro, que refaz a trajetória do pai em meio às violências físicas, psicológicas e afetivas proporcionadas pela discriminação racial.

Tenório abdica de elementos diretamente claros para construir a obra. Não há uma tentativa, por exemplo, sequencial de abordar essa vida. Ao mesmo tempo que também não há uma busca por literalmente discutir atitudes. A ideia de Pedro, em sua rememoração, é compreender de que forma tudo aquilo vivenciado durante tanto tempo, o construiu. Acima disso, é importante para ele perceber a si mesmo como um homem negro dentro da sociedade. 

O avesso da pele é a história de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. Com uma narrativa sensível e por vezes brutal, Jeferson Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos.

O que está em jogo é a vida de um homem abalado pelas inevitáveis fraturas existenciais da sua condição de negro em um país racista, um processo de dor, de acerto de contas, mas também de redenção, superação e liberdade. Com habilidade incomum para conceber e estruturar personagens e de lidar com as complexidades e pequenas tragédias das relações familiares, Jeferson Tenório se consolida como uma das vozes mais potentes e estilisticamente corajosas da literatura brasileira contemporânea.

A maior diferença desse protagonista para qualquer outro personagem comum é o fato dele ser negro, e viver a dor da perda, além da tentativa de se encontrar, sob um outra perpesctiva. A morte dos pais é sempre algo doloroso, sofrido, ainda mais pelo fato de não ter escapatória. O maior problema é que o pai de Pedro tinha, já que foi morto pela polícia.

É um pouco nesse contexto que Tenório apresenta o andamento da sua narrativa. Em uma escrita que rememora José Saramago – especialmente na falta de parágrafos e em uma pontuação que em momentos soa confusa -, o autor coloca sua voz em uma obra que não é autobiográfica, porém ecoa um tempo contínuo.

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